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Coringa 🚀

- Ah mano, cê tá ligada que eu tenho que manter tudo em ordem por aqui - parei o que tava fazendo e olhei pra ela - e outra, o que tô fazendo aqui é obrigação de qualquer um que se diz de bom coração, tendeu?

- Poxa - o olho dela encheu de água - obrigada, Coringa. De verdade.

- Ishe mano, que isso, é nois.

Não costumo ser tão bom assim com qualquer um. Quem vê de longe pode até achar que tô fazendo isso com outra intenção, mas mano, não.

É minha obrigação cuidar de quem mora aqui, sem mim esse pessoal toma no cu.

E ela mano...ela deve ter sofrido pra caralho na casa dela, só o fato de ser estuprada pelo pai deve ter sido mó barra, se loco.

Depois que terminamos de esquentar as coisas, fomos pra mesa comer.

- Sabe, achei que você fosse ruim. - ela diz enquanto lambe os dedos.

Dou risada.

- Não sou tão bom assim, mas pode crer que não sou uma má pessoa. - fico sério - Ando pelo certo, apesar dos meus defeitos tento ao máximo agir na transparência, tá ligada.

- Entendo...Eu nem sei como te agradecer, era pra eu estar na rua.

- Mano, para de querer agradecer, fiz o que devia fazer pô. - bebi um gole na cerveja.

- Ó, tem um quarto lá em cima vazio, se pode ficar lá essa noite. Tá tudo limpo.

- Obrigada.

- Se é toda educadinha né? - dou risada - as mina daqui são assim não mano, são tudo aquelas mandrake pjl mais bandida que eu, se loco fi.

Ela deu risada, sorrisão bonito pô.

- Eu acho ridículo sabe, elas acham que estão arrasando com aqueles cabelo duro.

Dessa vez eu que dou risada.

- É mano, dá um vento o cabelo nem sai do lugar.

Ficamos lá comendo e rindo, até parecia que nos conhecíamos a mó tempão.

Essa mina é gente boa demais.

Agnes 🔮

- Boa noite, Coringa. - dou um pequeno sorriso e fecho a porta.

Sério, estou muito chocada.

Por tudo que eu já tinha ouvido dele, imaginava um cara rude, chato e bravo. Mas não, só pelo o que conversamos vi que ele é engraçado e super gente boa, além de gentil, até porque trazer alguém pra casa e ajudar desse jeito não é pra qualquer um.

O quarto era muito confortável, tinha uma cama de casal, um guarda roupa e dois criados, um de cada lado da cama.

Os lençóis estavam cheirando amaciante, e dos caros.

Será que ele paga alguém pra limpar essa casa?

Com certeza, não é possível que ele mesmo limpe, e pelo o que sei, a mãe dele já morreu e ele não te, namorada.

Tirei o shorts, ficando apenas de blusa e calcinha, deitei e me cobri com o lençol.

Imediatamente meus pensamentos se voltaram para os momentos horríveis que vivi. Era sempre assim, nas noites em que ele não ia pro meu quarto, eu mal dormia, porque fica relembrando aquilo ou então não dormia por estar com medo.

O primeiro abuso foi quando eu tinha 9 anos...eu estava na sala, brincando, e ele chegou, pelo seu hálito tinha bebido.

Ele me puxou pela mão e me levou pro quarto, me jogou na cama e foi arrancando minha roupa...Eu estava com tanto medo, e não conseguia entender o que ele estava fazendo.

Seus dedos entraram em mim com tudo, e eu era tão nova...Tão pequena...aquilo doeu, doeu tanto. Não só fisicamente, mas meu emocional também.

Desde então, aquilo começou a acontecer com frequência, quase todos os dias. E nunca contei para a minha mãe, pois ele dizia que mataria ela.

E até o presente momento, com meus 23 anos, aquilo ainda acontecia. Ele não me deixava trabalhar e nem sair de casa, então nunca tive como sair de lá e tentar arrumar outro lugar.

Até que isso tudo aconteceu, eu estava tão cansada daquilo e tão machucada que juntei todas as minhas forças e o enfrentei. Quando ele tentou me agarrar e tirar minha roupa, o empurrei, tivemos uma briga e fui pro chão também, mas me levantei e corri, peguei uma faca e quando ele veio novamente pra cima de mim, enfiei a faca com tudo.

Esfaqueei até cansar, perdi a conta de quantas vezes enfiei a faca naquele corpo.

Descontei todo meu ódio que estava guardado por anos, e só parei quando percebi o que havia feito.

E agora, estou aqui.

Libertina - [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora