Na madrugada daquele dia, Sasuke foi para a capela do mosteiro.
Sora estava lá, cumprindo seu horário na vigília. Sentado numa das fileiras próximas ao altar, estava concentrado nos próprios pensamentos e não se moveu, nem olhou ao redor assim que Sasuke passou pela porta. Mas o silêncio vivo da capela envolveu seu novo visitante feito o abraço forte de um pai preocupado, quase sufocando-o com tamanha intensidade.
Sasuke permaneceu de joelhos por um instante, tentando absorver a silenciosa escuridão e procurando acalmar o turbilhão de pensamentos que tinha dentro da cabeça. E somente quando sentiu o coração desacelerar e começar a bater no ritmo da noite é que se levantou, deslizando para um banco afastado, nos fundos da capela.
Ficou sentado, rígido, olhando para frente, para o cálice do Santíssimo Sacramento posto sobre o altar. Não sabia o que dizer. Não sabia como começar ou se haveria alguma forma de realizar cortesias litúrgicas.
Por fim, resolveu fazer do seu próprio jeito e respirou fundo antes de dizer sem emitir qualquer tipo de som, somente movendo os lábios para simbolizar as palavras:
- Eu preciso de ajuda.
Nenhuma resposta veio (não que estivesse esperando alguma). Então, simplesmente deixou que o silêncio da capela jorrasse em ondas à sua volta, envolvendo-o como as dobras de um manto, confortando-o contra o frio. E Sasuke esperou, como Sora o ensinara.
Minutos transcorreram. Minutos incontáveis e intermináveis. Mas ele continuou a esperar, paciente e convalescente.
Em algum momento daquela espera, seus olhos, acostumados à escuridão, notaram uma pequena mesinha no fundo da capela. Coberta com uma toalha de linho, possuía uma pia de água benta e, ao lado, uma Bíblia e outras duas ou três obras de inspiração para orações, provavelmente postas ali para serem usadas por fiéis para quem o silêncio era insuportável.
Bem, o silêncio estava se tornando insuportável para Sasuke. Assim, ele se levantou para pegar a Bíblia, levando-a ao genuflexório consigo. Havia luz suficiente das velas para ler e ele virou as páginas delgadas cuidadosamente, esforçando-se para discernir as linhas de letras pretas e minúsculas.
"... mas como um leão, ele quebrou todos os meus ossos; Dia e noite foi acabando comigo."
Foi o que seus olhos conseguiram ler por primeiro. Depois, as páginas o levaram até os Salmos, onde leu:
"Mas eu sou verme, e não homem..."
Palavras incompreensíveis vieram depois, voltando a se tornar legíveis algumas linhas mais tarde:
"Não fiques distante de mim, pois a angústia está perto e não há ninguém que me socorra."
Essa passagem, em particular, mexeu com seu interior ao ponto de deixá-lo desconfortável. Quase podia ouvir a voz de Naruto proferindo aquelas palavras.
E pensar em Naruto foi o suficiente para que lesse as outras passagens com a voz rouca de timbre conhecido, as palavras ecoando pela mente de Sasuke conforme se misturavam ao extremo silêncio da madrugada.
"Como água me derramei, e todos os meus ossos estão desconjuntados. Meu coração se tornou como cera; derreteu-se no meu íntimo."
Os olhos percorriam as letras escuras, presos a elas e ansiosos por mais.
"Posso contar todos os meus ossos, mas eles me encaram com desprezo."
Com os dedos, procurou o livro de Jó, o preferido de Naruto. Dentro do peito, uma sensação calorosa começou a surgir, ao mesmo tempo em que algo pesado e denso tomou conta de seus pulmões, comprimindo-os de maneira desagradável.
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SÉCULOS - narusasu. (FINALIZADA)
FanfictionEm 1945 após sobreviver à II Guerra Mundial, Sasuke Uchiha, um médico militar ômega, resolve passar sua segunda lua de mel com o marido em Inverness, nas Ilhas Britânicas. Porém, coisas estranhas começam a acontecer e ele, de repente, se vê 200 anos...