CAPÍTULO 54 - CAÇA E CAÇADOR

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Na madrugada daquele dia, Sasuke foi para a capela do mosteiro.

Sora estava lá, cumprindo seu horário na vigília. Sentado numa das fileiras próximas ao altar, estava concentrado nos próprios pensamentos e não se moveu, nem olhou ao redor assim que Sasuke passou pela porta. Mas o silêncio vivo da capela envolveu seu novo visitante feito o abraço forte de um pai preocupado, quase sufocando-o com tamanha intensidade.

Sasuke permaneceu de joelhos por um instante, tentando absorver a silenciosa escuridão e procurando acalmar o turbilhão de pensamentos que tinha dentro da cabeça. E somente quando sentiu o coração desacelerar e começar a bater no ritmo da noite é que se levantou, deslizando para um banco afastado, nos fundos da capela.

Ficou sentado, rígido, olhando para frente, para o cálice do Santíssimo Sacramento posto sobre o altar. Não sabia o que dizer. Não sabia como começar ou se haveria alguma forma de realizar cortesias litúrgicas.

Por fim, resolveu fazer do seu próprio jeito e respirou fundo antes de dizer sem emitir qualquer tipo de som, somente movendo os lábios para simbolizar as palavras:

- Eu preciso de ajuda.

Nenhuma resposta veio (não que estivesse esperando alguma). Então, simplesmente deixou que o silêncio da capela jorrasse em ondas à sua volta, envolvendo-o como as dobras de um manto, confortando-o contra o frio. E Sasuke esperou, como Sora o ensinara.

Minutos transcorreram. Minutos incontáveis e intermináveis. Mas ele continuou a esperar, paciente e convalescente.

Em algum momento daquela espera, seus olhos, acostumados à escuridão, notaram uma pequena mesinha no fundo da capela. Coberta com uma toalha de linho, possuía uma pia de água benta e, ao lado, uma Bíblia e outras duas ou três obras de inspiração para orações, provavelmente postas ali para serem usadas por fiéis para quem o silêncio era insuportável.

Bem, o silêncio estava se tornando insuportável para Sasuke. Assim, ele se levantou para pegar a Bíblia, levando-a ao genuflexório consigo. Havia luz suficiente das velas para ler e ele virou as páginas delgadas cuidadosamente, esforçando-se para discernir as linhas de letras pretas e minúsculas.

"... mas como um leão, ele quebrou todos os meus ossos; Dia e noite foi acabando comigo."

Foi o que seus olhos conseguiram ler por primeiro. Depois, as páginas o levaram até os Salmos, onde leu:

"Mas eu sou verme, e não homem..."

Palavras incompreensíveis vieram depois, voltando a se tornar legíveis algumas linhas mais tarde:

"Não fiques distante de mim, pois a angústia está perto e não há ninguém que me socorra."

Essa passagem, em particular, mexeu com seu interior ao ponto de deixá-lo desconfortável. Quase podia ouvir a voz de Naruto proferindo aquelas palavras.

E pensar em Naruto foi o suficiente para que lesse as outras passagens com a voz rouca de timbre conhecido, as palavras ecoando pela mente de Sasuke conforme se misturavam ao extremo silêncio da madrugada.

"Como água me derramei, e todos os meus ossos estão desconjuntados. Meu coração se tornou como cera; derreteu-se no meu íntimo."

Os olhos percorriam as letras escuras, presos a elas e ansiosos por mais.

"Posso contar todos os meus ossos, mas eles me encaram com desprezo."

Com os dedos, procurou o livro de Jó, o preferido de Naruto. Dentro do peito, uma sensação calorosa começou a surgir, ao mesmo tempo em que algo pesado e denso tomou conta de seus pulmões, comprimindo-os de maneira desagradável.

SÉCULOS - narusasu. (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora