O momento que Matheus tanto aguardava chega, ele finalmente iria poder falar com Vic, desde meses atrás naquele galpão, ele sabia que precisava se provar, mostrar pra ela que ele não era qualquer um e finalmente tomar a confiança dela para lhe tudo que tinha planejado, a parte mais difícil com certeza, seria fazer ela aceitar a ideia, era bem claro desde aquele dia que Vic não ia com a cara de Matheus.
Ele havia ajeitado seus cabelos castanhos para trás, pois queria parecer confiante, sua roupa era uma roupa do dia a dia pra parecer algo casual, mas ainda assim vestia hoje uma camiseta tingida de preto, a cor que representava os inaptos, a ausência de qualquer outra cor, assim como a ausência de qualquer poder, para mostrar que estava alinhado com os seus pensamentos.
Vic estava na faculdade, a mesma que Matheus fazia, embora eles não fossem colegas, Matheus fazia Direito e Vic, Ciências Políticas, Matheus poderia entrar na aula dela sem o professor reparar e foi exatamente o que ele fez.
Foi pelo canto sem tentar chamar a atenção enquanto o professor explicava alguma coisa sobre os problemas de divisa que a Nigéria estava sofrendo agora que seu rei estava velho e o país precisava voltar para seu local original. Matheus se sentou na carteira logo atrás de Vic, as suas mãos estavam suadas e seu estômago se revirava sem parar pela a ansiedade que Matheus estava em dizer essas palavras. ele se inclinou para frente pra dizer quase que sussurrando:
— Vic, eu te amo.
A garota para por um instante, Matheus não conseguia ver seu rosto então não sabia como ela reagira ao que ele disse, só conseguia ver aqueles enormes cabelos ruivos e cacheados que era provavelmente o motivo da carteira atrás dela estar vazia.
— Caralho, Matheus, aqui não é hora nem lugar pra falar isso, já pensou se alguém escuta?
— Eu sei, mas eu estava muito animado pra não falar isso logo com você.
— Você tem certeza do que você está falando?
— Sim. 100% de certeza.
— Você entende tudo que isso acarreta né?
— Obviamente, eu já estava me organizando faz meses pra isso. Lutei pela vaga aonde estou trabalhando exatamente pra isso, não quero te decepcionar.
Mais uma vez, Vic para de falar e Matheus só consegue ver a caneta dela batendo freneticamente na mesa, ela com certeza estava pensando em algo.
— Vem! — exclama a moça se levantando da cadeira, guardando suas coisas e indo em direção a porta, Matheus acreditava que aquilo poderia ser um bom sinal e a acompanha.
Vic ao sair da sala vai até um dos bancos da faculdade e se senta, lá ela observa uma praça onde crianças estão brincando e correndo com seus pais, uma ou duas voando. Matheus se aproxima logo em seguida e se senta ao lado dela.
— Eu gosto de ver as familias brincando aqui... Uma parte porque é bonito, outra parte por inveja, aqui na faculdade com todos esses mauricinhos a gente vê uns moleque desses com pai e mãe do lado e não respeitam nenhum pouco, as vezes, eu queria que eles sentissem por um dia o que eu sinto desde sempre, ter que fazer trabalho de escola valendo nota pra entregar pro pai e no fim não ter pra quem entregar a cartolina.
— Você não teve pai?
— Eu tive pai — diz Vic ainda olhando ainda pras crianças — Todo mundo tem pai, Matheus, o meu só foi embora. Minha mãe é inapta, o cara não iria querer assumir um filho de uma inapta e ainda acreditava que eu nasceria igual a ela. Você não sabe como funciona o mercado de crianças né?
Matheus nega com a cabeça.
-Claro que não conhece, você tem sorte, você é rico e tem mais sorte ainda por não terem feito mal nenhum a você. A lei que faz com que as pessoas tenham uma quantidade limitada de filhos não existe a toa, a ideia é manter o controle da população pobre, para que não exista uma revolta que a Fundação não consiga controlar... Isso faz com que quando uma familia pobre tenha um filho com um poder valioso, um poder que dê essa sensação de grandiosidade, eles vendam para uma família rica. Parece bom para todos os lados, não é? A família pobre ganha uma grana, a criança vai ser criada com tudo do bom e do melhor e a família rica consegue o seu troféu. Eu não sei quantas vezes não falaram pra minha mãe me vender...

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Powerless
Science FictionEm um mundo onde a maioria das pessoas nasce com super poderes, Matheus, um ser humano que nasceu sem dom algum, se vê obrigado a lutar para salvar seus amigos e buscar vingança pelo seu passado.