Capítulo 6

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Natasha apertou as mãos no volante, mantendo os olhos cansados na estrada. Não fazia muito tempo que haviam deixado Volgogrado, e não queria entregar a direção para Yelena, uma vez que a mesma também estava cansada.

Desviou o rosto para a menina ruiva ao seu lado - sim, ela havia deixado a menina ir na frente, mas qualquer um deixaria se tivessem uma Natália altamente eletrizada de chocolate enchendo sua paciência -, quando um som eletrônico chamou sua atenção.

— Você quer guardar essa câmera?

— Não posso! É minha primeira viagem sem o tio e eu gosto de registrar tudo.

— Não posso! É minha primeira viagem sem o tio e eu gosto de registrar tudo

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Natalia encarou a fotografia e voltou a olhar pela janela. Yelena, que estava no banco de trás começou a rir da situação.

— O que é engraçado?

— Havia me esquecido de como você era fofinha.

Natasha revirou os olhos.

— Não diga bobagens, ela não sou eu.

— Parece bastante com você. Vocês poderiam ser irmãs se quisessem.

As duas se entreolholharam e fizeram a mesma careta, o que deu um ar ainda mais cômico à cena.

Natasha ligou o rádio tentando fugir do assunto, ouvindo uma música recém lançada de green day manteve os olhos na estrada, cantarolando um verso ou outro da canção. Não se ouviu mais nada desde então senão o som do rádio, cantando algo sobre tiros, armas e sentimentos, o ronco do motor e a respiração pesada de Natasha.

Se tivesse sorte, chegariam à fronteira em poucas horas. Havia um casal que acolhia crianças órfãs e as ajudava a sair do país. Eles a haviam socorrido uma vez, bem antes de entrar para a SHIELD, quando se feriu em uma missão. A mulher, Hilda, era dócil e já tinha alguma idade, chamava Natasha de filha por sua semelhança a filha biológica, morta em um acidente de trânsito pelo qual seu companheiro jamais se perdoara uma vez que estava ao volante. Eram pessoas boas e sua única escolha uma vez que não confiava tão cegamente na SHIELD para entregar Natália a eles e definitivamente não poderia deixa-la em um orfanato qualquer. Seria perigoso demais...

Era estranho se imaginar importando-se tanto com uma vida que sequer era legítima... Embora não houvesse um sorriso que não se escondesse sob os lábios rosados da ruiva quando a menina lhe dirigia a palavra, ela se sentia tão responsável, e aquilo a assustava porque era novo. Um sentimento que não havia experimentado e que em momento algum imaginou experimentar. Óbvio que não era nenhuma psicopata sem sentimentos, mas seu treinamento a obrigava a manter-se fria. Fria e mortal. Eles cortavam qualquer ligação com sua alma, através de regras e argumento perfeitamente aplicados.

Então as meninas eram esterelizadas. Nenhum resquício de humanidade deveria sobrar, perfeitas e lindas armas de matar, era o objetivo de criação. Mas algo havia de diferente em Natasha Romanoff, algo que talvez nem ela mesma saberia dizer, algo que a manteve firme e viva em todos os sentidos. Talvez esse mesmo algo a tivesse levado a voltar atrás com o elevador, quando Yelena lhe disse que não se comparasse a uma criança de sete anos de idade. Natalia ainda tinha uma vida e por isso valia a pena lutar.

A SHIELD não era humana o suficiente para entender, ninguém era. Talvez nem ela mesma fosse...

"Você sabe pelo que vale a pena lutar
Quando não vale a pena morrer?"

As palavras do vocalista ficaram em sua mente como uma aclamação, mas o rádio foi desligado assim que chegaram.

— Acho que chegamos. — Suspirou retirando a chave do carro ao estacionar em frente a uma casa tradicional. A vista era linda de fora, e parecia ser o último lugar onde procurariam.

O trio saiu do carro sob um silêncio assustador. Natália apertou a mão da mais velha, que puxou de volta ao sentir a maciez da pele da menina. A olhou, notando que a mesma estava assustada, o que não era para menos. Mas ela tocou a companhia e aguardou alguns minutos até que uma senhora de roupas largas e cabelos grisalhos atendeu.

Sua expressão ao ver Natasha foi a de uma mãe ao rever a filha após anos. Logo agarrou-lhe em um abraço terno, puxando-as para dentro.

A recepção fora calorosa. Haviam algumas crianças na sala, mas

— Não esperava vê-la tão cedo, filha.

Os olhos azuis da doce senhora transitaram entre Romanoff e a ruivinha que estava distraída com um aquário com variados tipos de peixes. Yelena estava silenciosa ao lado delas, parecendo apreensiva.

— Eu sei que não... — Apoiou a xícara de café sobre a pequena mesa de centro. — É a maior loucura, mas tudo o que posso dizer é que a Natália... Essa criança, eu não posso entrega-la a qualquer pessoa. Confio em vocês, Hilda.

— George vai passar algumas crianças pela fronteira amanhã. Provavelmente conseguimos uma vaga para a ruivinha no trem. — Ela olhou para Yelena. — Fico feliz que tenham feito as pazes. Da última vez que Vi, Natasha me disse que você havia tentado matá-la.

— Eu conseguiria se não fosse pela senhora. — Confessou a loira, parecendo séria mas logo lhe mostrou um sorriso de gratidão. — Muito obrigada por isso.

— Não há o que agradecer, criança.

A noite marcou a hora da despedida, partiriam após o jantar, quando as crianças estivessem dormindo, então sua missão prosseguiria normalmente. Até onde sabia a HYDRA havia retomado o programa da Viúva Negra e todas as cobaias utilizadas para o teste eram crianças criadas em laboratório. O que não tornava seu trabalho menos indigno.

Hill lhe dissera que talvez entregar a menina à SHIELD fosse a melhor opção, entretanto estava fora de cogitação. Não deixaria que a transformassem em uma arma e enquanto a observava dormir antes de partir com Yelena, teve certeza de que havia decidido corretamente.

você procura um lugar para se esconder? Alguém quebrou seu coração por dentro? — Olhou para o lado notando que Hilda repetia a letra da canção que passara maos cedo na estação de rádio. Soltou uma risada silenciosa e tentou negar com a cabeça, mesmo sabendo o quanto aquela velha caduca a conhecia. — Você está em ruínas.

— É uma droga ser substituível. — Revirou os olhos sentindo indiferença.

— Você adora ela, apenas não admite.

— Não é sobre isso... Natália quebrou meu coração. Eu poderia jurar que não houvesse nada que quebrasse minha programação na sala vermelha. Eu queria deixar de sentir...

"A dor tira o orgulho?"

— Ela machuca um pouquinho

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— Ela machuca um pouquinho...

— Você é forte demais para não se importar, Natasha. — A idosa ajeitou os cachos ruivos da mulher de forma quase maternal. — E acredite quando digo, quem não ama a ninguém não é forte, é covarde.

Operação Volgogrado | Natasha RomanoffOnde histórias criam vida. Descubra agora