Capítulo 5

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Arrependimento não era uma palavra forte demais e ninguém diria isso se tivesse de aguentar uma criança de sete anos de idade correndo por seu apartamento. Estava pensando seriamente em apoiar a causa da legalização do aborto.

Por fim, Natália apagou no sofá após dois copos de leite e três episódios grandes de Stranger Things. Ela não era chegada a seriados infanto juvenis, mas agradecia ao fato de terem servido de algo afinal. Por sorte até Yelena havia dormido e estava roncando sobre dois puffs cor de rosa.

Natasha se apoiou no batente da porta do quarto, observando a criança, que estava quase caindo do sofá e antes que acontecesse, ajeitou-a cuidadosamente, rodeando com os três puffs restantes para que a mesma não caísse. Uma vez, próxima o suficiente, não pôde deixar de notar que havia realmente algo familiar na pequena, mas tentou ao máximo ignorar esse sentimento, afastando-se lentamente para não acorda-la.

Era hora de dormir, mas suas tentativas foram miseravelmente falhas, então se precisasse escolher entre um pesadelo e cafeína, a resposta era óbvia.

Maria não respondia suas mensagens, nem ela e nem ninguém. Os miseráveis provavelmente haviam deduzido que cortar a comunicação impediria que seguissem o rastro até a SHIELD se ela fosse capturada. Uma das novidades em trabalhar para uma agência de espionagem, estaria amparada e ao mesmo tempo não.

Seus dedos se agitaram sobre o teclado do Notebook, buscando algo que lhe desse pista sobre o paradeiro do tal tio da menina

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Seus dedos se agitaram sobre o teclado do Notebook, buscando algo que lhe desse pista sobre o paradeiro do tal tio da menina. Estranhamente o nome não estava no banco de dados da KGB, sequer havia menção no projeto da sala vermelha, então o fato de ter a guarda de Natalia era um verdadeiro mistério, uma vez que a menina era um clone criado pela organização.

Felizmente o Pendrive de Yelena continua mais que meras informações sobre experimentos. Os documentos oficiais eram datados e endereçados, o que a levou a crer que era burrice demais para uma organização secreta de criminosos. Uma das pastas, entregam lhe chamou atenção, com a mesma fotografia que Fury lhe enviara e o nome de Natália Alianovna Romanoff. Aparentemente continua informações sobre o teste de clonagem da Viúva Negra.

— O que está fazendo?

Natasha fechou a tela do computador no susto ao ouvir a voz da menina.

— Meu Deus, você não estava dormindo?

— Tive um pesadelo. — Disse com a voz chorosa. Romanoff riria se não estivesse se recuperando de um susto.

— Ótimo. Pesadelos são simplesmente isso, pesadelos. Agora vá para a cama.

— Mas eu não vou conseguir dormir.

— Que seja... Pode ficar acordada então se quiser.

Natasha pegou o notebook e saiu de perto da menina, sentando-se no beiral da janela. Quanto mais cedo encontrasse o tio daquela criatura, mais cedo se livraria dela, certo?

Errado. Após alguns segundos fingindo não notar a existência da menina, olhou para o lado, notando que a mesma estava de pé ao seu lado a observando. Aquilo bem a sua cara, deveria admitir. Reprimiu uma rosada e revirou os olhos.

— O que você tá fazendo?

— Coisas de adulto. — Respondeu secamente, olhando de volta para o computador.

— Que coisas?

— Olha... Natalia, sinceramente eu estou quase fazendo igual seu tio e sumindo do mapa.

Voltou a olhar a tela do computador, entretanto a sensação de estar sendo observada era realmente incômoda. Ela olhou para o lado, notando que a menina ainda estava alí.

— Você não vai dormir, não é mesmo?

A ruivinha balançou a cabeça em negação, então Natasha a chamou com um gesto e pegando-a no colo, colocou a menina entre seu tronco e o notebook, apoiando com cuidado o queixo sobre os cachos macios da mesma.

Talvez houvesse algo entediante no YouTube para fazê-la dormir, isso se fosse realmente o que queriam.

— O tio vai voltar? — Perguntou Natália aleatoriamente.

— Eu não sei... Você quer que ele volte?

— O tio foi a única pessoa que cuidou de mim. Ele falou que o papai e a mamãe não gostavam de mim e que ele me salvou.

Natasha franziu o cenho, enquanto sua mente tentava conciliar a narração da menina com o que vinha pesquisando. Algo realmente assustador passou por seus pensamentos, uma lembrança real, que ela a anos tentara reprimir.

O homem era bastante irresponsável, isso ninguém estava negando, mas ao menos algo fazia sentido: estava tentando proteger a "sobrinha". Natasha não teve alguém que a protegesse em seus anos na Sala Vermelha. Yelena foi sua primeira linha de defesa quando chegou, pálida e franzina. A pequena órfã entregue aos cuidados de militares malucos com poucos anos de vida. Foi Yelena quem garantiu que sobrevivesse aos primeiros meses até que finalmente tivesse condições de lutar por si própria.

Natasha não tinha muitas lembranças daqueles anos e as que tinham não eram as melhores. Geralmente flashes de lutas e golpes, palavras desconexas, rostos conhecidos e desconhecidos, corridas, brincadeiras escondidas na calada da noite às costas dos guardas. Um abraço terno e  genuíno entre amigas, ao som de uma canção cuja melodia não se lembrava perfeitamente. O tempo a havia mesclado com outras, embora suas palavras ficassem gravadas na mente.

"In the night
In the night

Let's you and me together leave for higher ground
When you are all alone just listen to the sound"

Yelena abriu os olhos ao ouvir a voz, outrora aguda e infantil, hoje bem mais madura daquela ruivinha que ela conhecera a anos atrás, agora segurava a pequena Natália já adormecida em seus braços, envolta pela calmaria que aquela canção lhes proporcionava.

Na noite, Quando os mares estão balançando ,Na noite, Quando as estrelas estão brilhando claras
Na noite, Quando os fantasmas estão assombrando por perto
Na noite, Quando nós cantamos a canção de ninar russa.

Romanoff fez um sinal para que a loira prosseguisse, então se levantou com a menina no colo e a levou para o quarto, colocando-a cuidadosamente na cama.

Um suspiro afastou a nostalgia de sua aura, quando fechou a porta, encostando-se na mesma.

— Não imaginei que ainda se lembrasse.

— Fique quieta. — Ordenou com rispidez. — Não quero que a acorde.

O telefone tocou sobre a mesa de centro, indicando finalmente uma resposta vinda de Maria Hill. Natasha atendeu rapidamente, segurando-se para não xingar a vice diretora por ligar numa hora daquelas.

— Romanoff?

— O que? — Disse tentando falar o mais baixo possível.

— Temos um problema. O tio da Natália, ele...

— O que tem ele?

— Ele está morto.

Operação Volgogrado | Natasha RomanoffOnde histórias criam vida. Descubra agora