Operação Volgogrado | Natasha Romanoff

Capítulo 8

A maioria dos endereços contidos nos documentos eram falsos e para sua sorte, Yelena sabia perfeitamente diferencia-los. Não era muito difícil, na verdade, o que causaria confusão em qualquer um que tentasse decifrar os códigos escondidos nessas coordenadas.

Mas a SHIELD não estava contratando qualquer um, não é mesmo?

Elas sabiam bem o que estavam enfrentando e não seria pela primeira vez. O GPS levou-as até uma área montanhosa distante da cidade, onde a neve já havia coberto metade do solo e aparentemente não havia nada, além de um vasto lago congelado.

Natasha o observou por alguns instantes como se tivesse um dejavu. Flashes de duas crianças correndo montanha abaixo, uivos distantes de lobos e tiros de aviso. Flashes de gelo se quebrando e um grito de socorro, um grito de Yelena.

Ela abriu os olhos, sentindo o toque gelado das mãos da loira em seu ombro.

— Está tudo bem... São águas passadas, Natasha. Você não podia fazer nada.

Assentiu, sentindo-se mais culpada que redimida, então atravessou o rio de gelo sem hesitar. O vento frio que vinha da montanha a fez questionar a si mesma se aquilo era um lugar decente para se crescer. Lembrou-se das noites geladas na instalação da Sala Vermelha, das vezes em que ficava acordada no pátio, imóvel por quase vinte e quatro horas, tendo que manter a postura e não desfalecer. E se não conseguissem? Bem, a última menina de que se lembrava ter desmaiado após quarenta e oito horas exaustivas de pé no centro do pátio, sem se mover, sem brincar, sem falar ou se alimentar, não acordou nunca mais. A imperfeição não era uma opção para elas.

Mas Natasha havia chegado em um ponto de temer alcançar a perfeição. Havia sido induzida a sair no meio da noite com outras meninas, mas quando os guardas foram acionados as mesmas correram, deixando-na para trás, era uma das meninas mais jovens e não era tão ágil quanto a maioria, o que contribuiu que fosse pega. E os guardas da Sala Vermelha não queriam saber se ela era uma criança. Se estava descumprindo as regras, seria severamente punida, mas para sua sorte, ela puxou o gatilho antes dos demais. Natasha tinha onze anos quando cometeu o primeiro homicídio. O sangue do homem respingou suas roupas e seu rosto, contrastando com sua pele clara. O susto havia sido maior do qualquer outro que já tenha tomado, mas ela conhecia as consequências.

Uma menina loira, um pouco maior se aproximou e pegou a arma das mãos da mais nova, ela não perguntou o que havia ocorrido, simplesmente disse aos superiores que ela havia matado o guarda e não Romanoff. Não se importou com as consequências, sequer olhou para trás quando a levaram para longe do pátio. Natasha a ficou olhando sem entender o porquê daquela atitude, mas por quase três meses não teve oportunidade de agradecer.

Para sua surpresa o lugar estava deserto, as portas arreganhadas, o que levaria a qualquer um duvidar que houvesse alguma alma vivente por alí. Natasha passou pelos corredores como se estivesse cometendo um crime, ouviu passos longínquos e leves, enquanto suas lembranças a faziam enxergar duas crianças correndo desesperadas na direção oposta a que elas iam, a porta se fechou atrás das duas mulheres, enquanto Natasha permanecia parada observava algo que já não estava mais lá.

— Natasha? Vamos?

Natasha... Algo a chamava para fora, mas ela hesitou em abrir a porta. Ouviu o som das armas e os guardas que vinham em sua direção. Seu reflexo no metal reluzente lhe dava o aspecto de uma menina de quase doze anos. Ela franziu o cenho, tentando reconhecer a Voz que incessantemente dizia seu apelido. Natasha...

Os soldados se aproximavam e ela não teria escolha, não poderia ser pega. Aquela era sua última chance de escapar. A porta se abriu.

As meninas correrram o máximo que podiam, sendo seguidas por cães de caça e soldados altamente armados. Levaram mais tempo para descer e desviar dos disparos, mas quando chegaram ao lago congelado havia a distância era grande demais para percorrerem. O gelo começava a se partir.