Harry pov.
Após um excelente café da manhã com meus padrinhos, sigo para a sala de feitiços sozinho, afinal, Hermione e Rony haviam tomado café correndo em uma ponta da mesa e ido para a aula sem mim, apenas cumprimentando meus padrinhos com um aceno feliz.
Na cabeça oca daqueles dois deviam estar passando que eu queria privacidade com Sirius e Remus, mas não era bem assim. Eu apreciava o carinho que eles tinham comigo, mas não queriam que eles se afastassem de mim por causa deles.
Eles estavam achando que eu precisava do máximo de contato com eles para me acostumar com a ideia, mas aí era o local onde o erro estava.
Eu não precisava me acostumar com nada.
Meu coração estava muito satisfeito com a ideia de tê-los comigo como família, o sonho de muitos anos sendo realizado, uma imagem linda se formando em minha mente a todo instante em que pensava nos dois.
Se eu tivesse um vira-tempo, iria até o pobre Harry de 8 anos que dormia em um armário em baixo de uma escada que vivia fazendo barulho quando alguém subia ou descia e que tinha muitas teias de aranha e diria para ele não se preocupar.
Diria que não era preciso ficar triste.
Não se preocupe pequeno Harry, pessoas que te amam de verdade e querem o seu bem estão chegando. Vai demorar, você vai passar por muitas coisas tristes, vai sentir muito medo, vai ter pesadelos sem ter ninguém para te acalmar, mas tudo vai se ajustar.
Porque sim, até com os pesadelos meus padrinhos estavam me ajudando.
Desde novo eu tinha muitos pesadelos, uma forte luz verde em volta de mim enquanto um grito alto de uma mulher em desespero me acordava, sempre muito agoniado e suado. Eu não era estúpido, hoje eu sabia que era minha mente recordando da minha memória de quando eu tinha 1 ano e meus pais foram mortos por Voldemort, mas antes eu não tinha quem me protegesse desses sonhos.
Se eu fosse ousado o suficiente para tentar ir para a cama dos meus tios no meio da noite, a chance de Valter quebrar os meus ossos com uma surra era grande, então eu me acostumei a me encolher em uma bola e esperar a dor passar.
Mas na minha primeira noite na minha nova casa, Remus me ouviu chorando. Claro, a super audição do lobisomem não me dava muita liberdade, apesar de eu saber que ele se esforçava para não invadir minha privacidade, mas naquela noite eu agradeci.
Meus pesadelos sempre foram o mesmo. Minha mãe gritando enquanto morria em minha frente, então quando eu acordei e ao meu lado tinha Remus com um sorriso triste e um copo de chocolate quente, eu senti algo que não sentia nunca.
Eu senti que tinha um ombro para chorar.
Eu nunca chorei a perda dos meus pais, nunca me lamentei por isso porque eu não me sentia no direito, mas ali, naquele mísero instante onde uma figura que os conheceu o suficiente para me confortar dizia que minha mãe não ia querer que eu tivesse a morte dela como única lembrança, eu me permiti chorar.
Apertei Remus com meus braços, uma força quase irreal, um desespero por carinho me tomou enquanto eu sentia as mãos do homem fazendo um carinho em minhas costas.
E chorei.
Chorei alto o suficiente para Sirius ouvir e vir correndo, se envolvendo no abraço e nos confortando porque em dado momento Remus também chorava como se houvesse acabado de receber a notícia do falecimento dos meus pais.
Eu mal conheci Lilian e James, mas eles conviveram, lutaram e amaram juntos, tiveram uma rotina, estudaram juntos, tiveram refeições juntos, riram juntos, jogaram jogos idiotas de cartas juntos.
Era muita coisa.
Então se eu pudesse ver o pequeno Harry que se sentia injustiçado pelo universo, eu diria para não se preocupar.
Não se preocupe Harry, apesar dos seus amigos serem idiotas, eles te amam. E um dia você vai receber todo o amor que precisa para ser alguém forte.
Você consegue.
— Você está bravo conosco? — Rony pergunta com uma expressão engraçada ao me ver entrar na sala de feitiços, algo como timidez e medo misturados.
— Não, eu estou feliz pela intenção de vocês, mas não precisam sair correndo toda vez que meus padrinhos vierem me ver. Vocês são minha família também. — Digo de forma calma, me sentando no lugar que haviam guardado para mim e colocando meu livro de feitiços em cima da mesa.
O sorriso de Hermione foi lindo, assim como a expressão de quase choro de Ronald, que apesar de passar uma imagem de durão ele era a coisa mais fofinha do mundo todo, um ser humano tão carente quanto eu, mas carinhoso em níveis extraordinários.
Sinto um chute na minha cadeira, me virando de forma indignada para encarar Goyle, que sorria para mim com malícia.
— Opa, me des... ah, é só você, Potter. — Ele começa a dizer com deboche, rindo e sendo acompanhado por Crabble ao seu lado.
Encaro Draco com uma expressão confusa, afinal, quem costumava ter esse comportamento era o loiro, mas ele apenas revirou os olhos e saiu de seu lugar, descendo uma fileira e sentando ao meu lado com uma expressão séria.
— Desculpe por isso. — Ele diz apenas, abrindo seu livro e ignorando minha expressão chocada.
Draco parecia estar de saco cheio de seus amigos, mas ele nunca me pediu desculpas. Ok, nunca era uma palavra muito forte, porque havia rolado um episódio muito curioso em que o loiro havia se dirigido a mim apenas para se desculpar.
Foi no segundo ano, quando Gina ficou presa dentro da Câmara secreta.
Ele não sabia que a história toda do herdeiro fosse séria, então ele ficou muito chocado quando, no dia seguinte, eu estava na enfermaria por ter salvo a garota e lutado contra o basilisco e quase morrido.
Eu sabia que o bilhete na cabeceira ao lado da minha cama pertencia ao loiro, porque apesar de ter tentado disfarçar, a letra cursiva e muito bem desenhada do loiro era facilmente reconhecida por mim.
O bilhete era simples, dizia apenas um "me desculpe por ter sido um idiota. Fico feliz que não tenha morrido."
Claro, eu fiquei radiante com aquilo, porque secreto em minha mente, onde ninguém poderia me julgar, eu me permitia ter uma queda/penhasco no loiro.
Antes eu ficava dividido entre ignorar o sentimento e não ter tempo para ele.
Ignorar porque era óbvia a diferença entre nós, de forma clara, não éramos compatíveis.
Tínhamos criações diferentes, não acreditávamos nas mesmas coisas e a gente vivia naquela bolha de implicância mútua.
A parte do sem tempo era que todo ano tinha alguma coisa que ocupava totalmente os meus pensamentos e me impedia de focar naqueles sentimentos que apenas cresciam a cada vez que eu via o loiro sorrir para alguma coisa idiota.
Ele tinha um sorriso muito bonito.
Em uma certa idade eu comecei a questionar se seria inveja.
Inveja por ele ter uma família que o amava, por ter condição para comprar o que quisesse, por ter um cabelo bonito, pelos olhos azuis brilhantes, pelo corpo que a cada ano ficava mais forte e bonito, mas após perceber que eu admirava tudo aquilo nele sem necessariamente desejar ser igual, eu percebi que gostava dele.
Não percebi sozinho, porque se você acredita que eu sou capaz de descobrir algo sozinho, você está enganado.
Eu perguntei para Hermione, que apesar de ficar muito perdida por eu não ter dito nada sobre quem era, ela me ajudou, me dizendo que era comum na nossa idade ter pequenas paixões passageiras.
4 anos depois, eu continuava vivendo minha paixão passageira.
Incrível como essas coisas duravam.
Com o tempo eu percebi que Hermione tinha descoberto por quem era minha paixonite, porque ela parou de me empurrar para cima de Gina Weasley e parou de dizer que Cho Chang gostava de mim.
Ou ela chegou à conclusão de que eu era apenas gay, não tenho certeza.
Ter Draco Malfoy sentado ao meu lado durante toda a aula de feitiços não foi fácil, mas o pior de tudo foi quando o professor sorriu muito feliz ao passar um trabalho em dupla que iria valer 20% da nota do bimestre.
Eu era um ótimo aluno em feitiços, mas esse bimestre eu não sabia como eu ia me sair, não sabendo que minha dupla ia ser a pessoa sentada ao meu lado, assim como Hermione faria com Rony, eu iria ser a dupla de Draco.
O trabalho era bem simples, iríamos escolher um dos feitiços de duas etapas no livro do nosso quinto ano e iríamos fazer uma abordagem extensa sobre ele.
Encaro o livro em cima da minha mesa, pensando em como iria abordar o assunto com Draco, questionando onde tinha ido parar toda a minha coragem Grifinoria.
Estava no meio do meu surto interno quando vejo um pequeno papel ser colocado em cima do meu livro, encarando a letra bem desenhada no pergaminho, sorrindo ao ler a pergunta.
"Prefere a biblioteca ou a torre de astronomia?"
Encaro o loiro com um sorriso, vendo ele parecer sem graça e desviando o olhar, logo anoto no pergaminho que preferia a torre de astronomia, entregando para ele.
— Vejo você depois do jantar. — Ele diz com um sorriso de lado, recolhendo seus livros e saindo da sala, seguindo para sua próxima aula.
Agora nós teríamos herbologia, aula que era em conjunta com a Corvinal.
Era a primeira vez que eu ficava triste por não ter aula com a Sonserina, mas era aula com a
Corvinal, e lá tinha Luna, uma amiga que eu havia aprendido a conviver aos poucos.
A loira era sempre um exemplo de gentileza, não tendo medo de expor sua opinião sobre a forma que via o mundo e não tinha medo de vir até mim e dizer que estaria do meu lado sempre.
Era incrível a forma como eu havia me tornado próximo da loira, sua companhia sendo algo que eu gostaria de ter sempre, porque além de ser uma alma linda e brilhante, ela era alguém com quem eu podia contar.
Então foi com muita satisfação que eu entrei na estufa 4, vendo a professora arrumando algumas folhas de uma planta em um vaso e Luna olhando para todos os lados com ansiedade até pousar os olhos em mim e sorrir.
— Aqui Harry, guardei o lugar de vocês. — Ela diz com um sorriso, acenando com a mão para o alto sem se importar com a quantidade de alunos que a encaravam.
Luna havia me ensinado que sempre haveriam olhares, mas que deixar eles te afetar era uma decisão.
Bastava dizer não.
Então eu comecei a dizer não também.
A aula correu muito tranquila, Luna brincando com algumas folhas soltas e Hermione lendo o livro com uma atenção imensa por não ter entendido a função daquelas folhas em oclusão de feridas, se questionando se deveria ir até a biblioteca pegar mais livros.
A ideia não havia sido ruim, o que me fez lembrar que após o jantar eu iria fazer o trabalho com Draco, então era prudente ir até a biblioteca pegar alguns livros.
Eu não queria que o loiro sentisse que eu era um peso morto em nossa dupla, então eu iria dar o meu melhor nesse trabalho.
No nosso horário de almoço eu comi com pressa, sendo repreendido por Hermione uma porção de vezes enquanto eu apenas concordava que iria comer devagar enquanto continuava comendo como se o mundo fosse acabar.
Eu queria ir à biblioteca pegar alguns livros de feitiços do quinto ano e dar uma lida antes de ir para o local combinado.
Eu era muito inteligente, gostava de ler os livros de Hogwarts porque para mim era um direito meu de os ler, considerando que eu não tive tanta oportunidade durante a infância.
Remus parecia apoiar esse hábito, um dos quartos da nossa casa sendo recheado de livros que ele havia trazido de sua casa e Sirius tendo se empolgado ao trazer os livros da biblioteca Black apenas para ver Remus sorrir, transformando o quarto em uma bonita sala de estudos.
Claro, eu havia lido alguns no meu tempo livre das férias, mas não era nem perto da metade do que havia em nossa casa.
Frustrante.
Se eu houvesse lido mais, saberia exatamente qual livro pegar.
Encaro a estante dos livros de feitiço da biblioteca, observando os títulos com atenção, tanta atenção que não percebi quando alguém se aproximou de mim.
— Não sabia que você fazia do tipo que amava ler, Potter. Esse não é o papel da Granger? — Draco diz com a voz baixa muito perto de mim, o que me faz dar um pulo patético e o encarar com os olhos arregalados.
— Você me assustou. — Digo apenas ao ver um sorriso brincalhão nos lábios do loiro.
— Procurando algum título em específico? — Ele pergunta com aquela áurea de sabe tudo que ele tinha constantemente.
— Eu queria estudar alguns feitiços... sabe, para o nosso trabalho. — Digo de forma calma, sentindo meu rosto esquentar ao ver a expressão surpresa do loiro.
— Você queria estudar para algo que vamos estudar juntos depois? — Ele pergunta com surpresa.
— Eu não queria parecer um idiota sem saber nada. — Digo com sinceridade, deixando uma risada baixinha escapar.
— Você pode até ser um idiota Potter, mas eu duvido que não saiba nada. — Ele diz com um sorriso gentil, encarando a prateleira e pegando dois livros. — Faremos assim, você estuda esse e eu estudo esse aqui. — Ele diz ao indicar os livros, colocando um sobre as minhas mãos.
— Mas não devíamos estudar o mesmo feitiço? — Pergunto com curiosidade.
— E vamos. Mas primeiro temos que escolher qual feitiço. Com nos dois sabendo o conteúdo do mesmo livro não vamos ter muitas opções. Você sabendo os desse aí e eu os desse aqui vamos poder discutir quais achamos mais legais e entrar em acordo. — Ele diz de forma esperta e eu sorrio ao compreender a ideia.
— Tudo bem. De acordo. — Digo com um sorriso e vejo Draco deixar uma tosse fraca escapar de seus lábios, cobrindo os lábios com a mão fechada.
— Então eu te vejo na aula de transfiguração. — Ele diz de forma calma, acenando com a mão e saindo da biblioteca.
Eu não estava me acostumando muito bem com esse lado novo do loiro, mas estava adorando.
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Bless Yourself - DRARRY
FanfictionHarry acreditava que sua vida era como o conto de fadas trouxa da Cinderela, mas após Sirius ser liberto da prisão, ele percebeu que as coisas poderiam ser diferentes. Ele tinha uma família agora, e isso transformou sua vida por completo.