chapter two

3.9K 427 168
                                    

Meus pais não falaram mais nada durante o almoço, o que foi um alívio para mim. Se ele continuasse falando aquelas coisas...eu não ficaria quieta e acabaria sobrando pra mim, como sempre. Essas briguinhas são constantes, já que meu pai insiste em ser rude e medieval e eu não consigo ficar quieta com isso

Me jogo na cama e Bryce pula em cima de mim sem medo de me machucar com seu peso.

Você não parece bem” ele deita preguiçoso na minha barriga.

—Estou cansada demais, você sabe que não consigo dormir à alguns dias. — falo e respiro fundo.

Em relação a isso não posso fazer nada. Mas eu posso te dar um conselho?” Bryce rosrona baixinho quando eu faço carinho na barriga dele.

—Claro — respondo.

Cuide de sua mãe, a proteja” Bryce levanta a cabeça e me encara sério.

Abro a boca para perguntar o que ele quer dizer com isso, mas ele corre antes mesmo de eu dizer a primeira palavra. Meu coração dispara por algum motivo desconhecido. Olho para o teto, pensativa.

Que eu saiba, eu sempre cuidei de minha mãe. Sempre fui muito carinhosa e companheira, já que sinto que meu pai não é assim com ela. Mas se Bryce, que não gosta de se meter em problemas sobre minha família, disse isso...deve ter alguma coisa errada. Bryce sempre está perto de casa e com certeza ele sabe mais coisas que eu, tenho todos os motivos do mundo para acreditar nele de olhos fechados.

Pego um livro na minha estante e passo algumas horas lendo. Meu cérebro viaja para o universo do livro tão intensamente que meus olhos enchem de lágrimas quando meu personagem favorito morre.

—Chorando por conta de personagem de novo, Kaia? — Aisha aparece na minha janela com uma calça preta justa e um collant de ginástica.

—Ele morreu! — esbravejo e ela cai na risada. Como ela pode rir de mim em um momento como esse?

—É só um personagem...você supera — ela dá um leve tapa nas minhas costas e se espreguiça na minha cama casualmente.

Eu e Aisha somos amigas desde bebê, crescemos juntas e hoje eu considero ela como irmã praticamente. Ela tem permissão de entrar e sair onde ela quiser e chegamos a um ponto que ela nem usa a porta da frente, simplesmente escala as paredes da minha casa até a janela. Gosto das noites que a gente passa acordada no telhado, vendo o sol nascer.

—Como você está? — pergunto e a mesma fecha a cara. — O que aconteceu?

—Nada, só estou cansada — ela responde rápido e se levanta para olhar meus livros.

—Eu te conheço, sei que não está bem. Fala logo — cruzo os braços e somente a encaro e espero.

—As coisas não andam muito bem lá em casa. Minha mãe não aguenta mais trabalhar e meu pai está se virando como pode mas... nós estamos racionando comida — algumas lágrimas caem de seu rosto. — Meu emprego não paga muito e meus irmãos não tem idade suficiente pra trabalhar. Eu não queria falar isso com você, mas eu não sei mais o que fazer — Aisha coloca as mãos no rosto e sinto meu coração se apertar.

Tamlin é de longe o pior Grão-Senhor que Prythian já viu. Ele simplesmente não se importa de seu povo estar passando fome e o caos estar instalado. Os crimes não tem sua devida punição, pessoas fazem o que querem com as outras...uma completa desordem. Sem contar que muitos feéricos morrem de fome, o que não acontecia à séculos. Roubos e assassinatos deixam as crianças chorosas e com medo de brincar. É triste ver meu povo assim mas eu não posso fazer muita coisa, o máximo que consigo eu faço.

—Aisha...eu sinto muito mesmo — eu a abraço e sinto meu ombro molhar com suas lágrimas.

—Eu só tenho uma alternativa...— eu a olho esperançosa — Fui chamada para participar de um treinamento na Corte Noturna. Eles vão escolher a mais forte e dar um cargo importante de lá.

—Isso é ótimo! Aisha, não pense duas vezes — seguro suas mãos que estavam tremendo. Aisha é a mulher mais ágil e forte que conheço, depois de mim. E não me surpreende o fato dela ter sido chamada, ela é uma ótima lutadora e com certeza essa vaga é dela.

—Não sei se vou conseguir deixar minha família aqui sozinha...eles não sabem lutar caso aconteça alguma coisa — ela fala enquanto prendia seus cabelos cacheados em um coque e suspirava fundo.

—Peço a alguns soldados de confiança que fiquem de olho na sua casa e em seus irmãos. Você não pode deixar isso passar — falo e ela assente.

—Vou ter que morar lá e...nossa como vou sentir sua falta — Aisha sorri triste e se senta na beira da minha cama.

—A gente dá um jeito de se ver mas não quero que pense muito nisso. A Corte Noturna fica muito longe e talvez a gente só se fale por cartas — coloco a mão no peito já sentindo saudade dela. Sinto muito orgulho de Aisha, ela sempre procurou fazer o seu melhor para sua família e está disposta a ir para um lugar totalmente desconhecido para dar uma qualidade de vida melhor para eles. Eu a admiro muito.

Ficamos a tarde toda conversando sobre o novo trabalho dela e em como os garotos da Corte Noturna são muito bonitos. Os traços dele são fortes e ouvir dizer que eles amam feéricas de fora. Aisha vai se dar bem, nunca vi uma garota que gosta tanto de flertar igual ela. Aisha não perde tempo.

—Sortuda — cruzo os braços e Aisha ri alto, sorrindo maliciosa para mim depois

—Kaia, eu tenho que ir agora. Vou ir pra lá antes do sol se pôr. Tchau, minha besta favorita — a morena me abraça apertado e novamente me encontro chorando.

—Sei que você precisa ir, mas não queria que fosse para tão longe…— falo e ela seca minhas lágrimas.

—Prometo, a gente vai se reencontrar novamente — ela fala e me dá um último abraço antes de ir.

A vida na Corte Noturna vai ser perfeita para ela. Na verdade, em qualquer Corte fora daqui a qualidade de vida é mil vezes melhor.

O povo daqui passa fome enquanto meu pai dorme tranquilamente todas as noites em uma cama confortável. Inclusive eu faço isso, mas pelo menos agora eu vou dar um jeito de mudar essa situação. Eles são meu povo também, e futuramente eu serei a Grã-Senhora da Corte Primaveril e terei que agir como tal.

Ouço passos apressados no corredor e logo após um barulho de vidro se quebrando. Meu coração acelera e eu abro a porta devagar, aguçando meus sentidos e ficando em alerta. O céu já estava escuro e tive forçar as vistas para não tropeçar no escuro do corredor

—Me desculpe — ouço um sussurro vindo do escritório de meu pai e sinto minhas pernas vacilarem.

Me aproximo da porta mais silenciosa que nunca e espio pela minúscula fresta. Meu pai estava em pé, de costas para mim, e minha mãe estava ajoelhada olhando para suas mãos. O rosto dela estava molhado de lágrimas e me seguro para não entrar no escritório e perguntar o que estava acontecendo.

—Você não devia...não devia! — meu pai grita e joga a mesa de madeira com força em uma parede. Sinto o cheiro de seu lado bestial e seguro ainda mais meus instintos de entrar na sala.

—Me perdoe — minha mãe o olha com o rosto vermelho e eu nunca vi minha mãe tão aterrorizada como agora. Seus olhos estavam vermelhos e ela tremia demais.

Foi em um instante que meu mundo caiu, um estalar de pele se chocando contra pele ecoa pela minha cabeça e sinto minhas pernas ficarem fracas e desabo no chão. Não importa o que minha mãe fez, isso não dá o direito de meu pai feri-la, pelo Caldeirão a raiva que sinto agora é algo que nunca senti antes...Tamlin nunca mais encostará um dedo na minha mãe, ou eu vou fazer da vida dele um inferno.

notas da autora:
⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️
só pra avisar que eu tenho um bookstagram gnt! meu user é linaareads

𝐃𝐚𝐫𝐤 𝐏𝐚𝐫𝐚𝐝𝐢𝐬𝐞Onde histórias criam vida. Descubra agora