𝐃𝐚𝐫𝐤 𝐏𝐚𝐫𝐚𝐝𝐢𝐬𝐞

twenty-nine

Hocke...o observo bem. Ele não me viu, seu foco estava nas duas e me envolvi em mais escuridão quando ouvi os pensamentos dele sobre Kaia. Nunca vira Hocke antes, mas ele parecia familiarizado com as ruas de Velaris. Da cabeça do Grão-Feérico apontavam dois chifres médios que se enroscam em seus cabelos longos e oleosos. Ele parecia...sujo.

—Você andou bem descuidada ultimamente, Bynna — ele fala e estala o pescoço e raiva é lançada por nosso laço. Olho para Kaia. As sobrancelhas arqueadas em desafio, garras fora de vista. Ela não estava com medo, estava furiosa e fiquei orgulhoso com tamanho autocontrole dela. —Achei que depois da visita de meus amigos, você não daria as caras — Hocke se aproxima e Bynna fica na frente de Kaia com a mão estendida para que ela permaneça atrás dela.

Eu apenas o observo. Medindo distância e poder entre eles. Bynna não tinha chance contra ele mas Kaia...seu poder é bem superior.

—Seus amigos não fizeram o serviço direito, pelo jeito — caninos surgem em sua boca e Kaia a olha assustada.

—E quanto a essa belezinha? Meus amigos irão adorá-la — Hocke faz um barulho semelhante a uma risada e dá um passo adiante. Fecho o punho com força.

O sol escaldante fazia os fios melosos do cabelo de Hocke parecerem ainda mais sujos. Ele precisa urgente de um banho. Kaia coloca as mãos na boca para evitar rir. É isso, Azriel me explicou depois daquele dia no beco que encontrei Kaia nas mãos de outro macho. Ele me disse que, se eu buscar conversar com ela na hora, ajuda a controlar a raiva. Ouvir a voz dela e se lembrar de quem realmente sou e quem ela é. Kaia não parecia ter se afetada, mas o fato de desconfiar sobre o que os amigos de Hocke fizeram com Bynna a deixava com raiva.

—Tenho certeza que eles estarão mortos antes de sequer chegarem a tentar algo — Kaia fala e sorri de lado. Hocke a olha sério, depois vira o rosto em minha direção. Os olhos fixos no meu, como se depois que ele olhou para Kaia, entendeu tudo.

—Trouxe companhia, que agradável. Vamos tomar um chá? — ele pergunta e cruza os braços.

—Stella o soltou a que preço? — Bynna pergunta mas ele não tira os olhos de mim, parecendo recuar aos poucos ao olhar detalhadamente minhas tatuagens illyrianas. Não me assusto ao perceber que ele consegue lê elas, ver o significado. Apenas sorrio em resposta.

—Apenas a quero como Grã-Senhora da Primaveril. E então, serei seu senhor — uma gargalhada escapa de Kaia e ela não faz questão de contê-la.

—Você não tem habilidades suficientes para ser um Grã-Senhor.

Hocke a olha incrédulo e corre em sua direção. Fogo rompe das mãos de Bynna antes que ele chegue nela. Os cabelos ruivos não eram de enfeites. Corte Outonal…

Hocke se livra do fogo em alguns minutos sem ferimentos e Bynna o olha assustada.

Os chifres, percebo, haviam queimado quase completamente. A única parte do corpo dele que havia sido danificada. Hocke parecia se divertir, olhando para as duas. Só não acabei logo com isso porque quero ver como Kaia vai se sair nessa luta. Kaia rosna e corre em sua direção, garras apontam rapidamente. Com um pulo, Kaia passa por cima de Hocke e tira uma lasca de seus chifres com suas garras. Ele tenta esconder a dor com uma risada, mas Kaia sorri triunfante. Ela também percebeu o ponto fraco dele.

Bynna ainda estava atordoada e Hocke aproveita sua distração para conjurar uma adaga, grande o suficiente para atravessar o corpo magro de Bynna. Olho assustado para a cena e corro para impedir mas, infelizmente, Hocke lança a adaga no peito de Bynna com uma velocidade que não consegui compreender da onde veio. Dou um soco em Hocke forte o suficiente para mandá-lo para as profundezas daquele lago abaixo de nós.

Kaia corre em direção a Bynna mas sei que não há mais chance. O corpo de Bynna já estava gelado no chão. Alguns feéricos ao redor olham para a cena com tristeza e não consigo descrever ao ver aquela cena novamente. Kaia derrubando lágrimas, o sentimento de culpa a consumindo. Percebo que aquela cena me atormentaria por décadas.

Se eu tivesse sido mais rápido, se estivesse prestando atenção nele... toda a minha atenção. Não se culpe, por favor. Ouço a voz suplicante e ajoelho ao lado de Kaia. Eu poderia ter impedido.

Kaia segura meu rosto com as duas mãos, os olhos molhados e o rosto vermelho perto do meu o suficiente para conseguir sentir sua respiração em meu queixo.
—Não faça isso — uma lágrima desce devagar pelo lindo rosto dela e eu a enxugo. —Só estou chorando porque os pequenos minutos que fiquei com ela, realmente senti que estava em família. Mas não a conhecia direito, ela parecia tão...doce. Se alguém tem que se culpar sou eu, por ter arranjado toda essa confusão — Kaia fala entre suspiros. Nego com a cabeça.

—O único culpado é Tamlin, nem você e nem eu somos — Kaia me abraça forte. Não há mais sinal de Hocke mas acho que ele não morreu apenas com um soco, creio que é mais forte que isso. Por mais que eu tenha dito isso, no fundo eu sei, e sempre vou saber, que poderia ter evitado.

O sol estava se pondo e ouço o estômago de Kaia roncar.
—Culpa sua, que fica me beijando toda hora e eu esqueço de comer — ela fala e levanta, limpando o rosto. Ela olha uma última vez para Bynna, sem saber o que fazer com o corpo.

—Azriel vai cuidar disso — segundos após eu falar, Az aterrissa ao nosso lado. Suas sombras ficam agitadas ao ver a cena e envio uma imagem de quem foi o responsável por isso. Az parece surpreso.

—Sua mãe está furiosa porque não foi almoçar em casa — Az fala e olha para Kaia depois —Mas se você explicar, ela vai entender.

Sorrio para ele e atravesso com Kaia para o Chalé. Antes de entrar, ela me abraça apertado e eu aperto mais sua cintura. Levanto seu queixo e a beijo. Kaia solta um grunhido e o som parece acender algo em mim. A puxo mais para perto, até estarmos quase totalmente colados. Os dedos dela acariciam meus cabelos e eu a encosto contra a porta do chalé. Depois não me culpe por estar com o estômago roncando, querida. Kaia ri sem tirar os lábios dos meus. Minha mão desce para sua coxa e levanto a mesma, apertando e acariciando. Sinto o cheiro de Kaia mudar e sorrio satisfeito. Paro o beijo e a encaro.

—Te vejo no jantar — me despeço com um beijo rápido e atravesso para Casa.

Ah, o jantar. Tenho planos para o jantar e só de pensar nisso uma gota de suor surge em minha testa. Acho que está na hora de Kaia saber sobre o laço e tenho muito, muito medo da reação dela.

nota da autora:
sinto que vou chorar qnd for escrever o próx cap :)

tá sentindo o cheirinho de Corte dos Pesadelos?