chapter one

5.5K 454 285
                                    

O clima estava fresco quando acordei. O período de inverno está se aproximando e não posso esquecer de comprar cobertores a mais, o frio tem ficado cada vez mais intenso e o calor corporal já não tem sido suficiente para sobreviver. Vou até o banheiro e tomo um banho relaxante e morno. Faço tranças no meu longo cabelo loiro e coloco um vestido simples para ir tomar café da manhã. O cheiro de comida faz meu estômago roncar tão alto que fico com vergonha de outras pessoas ouvirem. Os guardas apenas me cumprimentam e, se eles ouviram algo, disfarçaram bem.

Meus pais já estavam comendo quando me sento à mesa junto com eles. Observando a mesa farta e algumas abelhas aproveitando a comida também.

-Bom dia, filha - minha mãe, a Grã-Senhora da Corte Primaveril, estava com os cabelos presos em um coque simples e vestia uma roupa de treino, o suor fazia sua pele bronzeada brilhar. Pelo jeito ela acordou cedo e foi treinar.

-Bom dia, mãe - respondo e olho para meu pai, o mesmo sorri para mim e volta sua atenção para sua comida. Tamlin não é muito de conversar e eu já não me incomodo mais com isso. Antes, eu brigava com ele pois queria que ele fosse mais aberto. Porém, agora, pensando melhor, acho que ele não conversa muito pois não quer que eu saiba muito sobre ele. Sei que meu pai esconde muitas coisas, e não tenho certeza se eu quero descobrir tudo sobre ele.

A única resposta que ele deu a uma das minhas milhares de perguntas, deu a entender que ele e Feyre Archeon, Quebradora da Maldição de Amarantha, eram um casal. Minha mãe diz que Feyre o amava, mas depois descobriu que ele não era quem ela havia pensado e descobriu o amor verdadeiro em outra Corte.

-Está gostando dos livros que comprei? - meu pai pergunta sério. Me surpreendo e automaticamente ajeito a postura. Era raro ele perguntar sobre meus livros, já que foi muito difícil convencer ele de comprar livros pra mim. Comecei a gostar de ler depois que Aisha me emprestou alguns. Depois do primeiro livro que li, nunca mais parei.

-Sim, são ótimos. A autora tem uma narrativa muito boa - afirmo enquanto coloco um pedaço de pão na boca, agindo normalmente.

A manhã inteira foi resumida entre conversas divertidas entre eu e minha mãe e raras vezes meu pai fazia alguma piada sem graça, nós rimos apenas para não chateá-lo. Antes do almoço decidi ir treinar um pouco com Ruel, um dos poucos treinadores que aceitaram me ensinar mesmo meu pai sendo contra. Tamlin acha que lutar vai me deixar menos digna de um marido e menos feminina, pensamento medieval como ele. E admiro Ruel por me treinar todos os dias mesmo com a ameaça de meu pai.

Vou para o jardim e encontro Bryce deitado na grama, tomando seu sol rotineiro. Ele olha pra mim de jeito preguiçoso e não faz menção em vir até mim, típico dele. Tigre preguiçoso.

Kehryn, minha mãe, me explicou que eu fui gerada na noite do Calanmai e por isso tenho algumas particularidades em relação a minha magia. Como, por exemplo, eu consigo me comunicar com animais e é como se eu fosse parte da família deles. Bryce é meu favorito, um tigre negro que eu achei perdido na floresta. Desde então, ele e sua nova família sempre estão por perto. Outro ponto importante é que sou mais forte que minha mãe, por exemplo. E já consegui derrotar meu pai nas raras vezes que ele aceitou treinar comigo.

Ruel está se alongando quando sente minha presença e me cumprimenta formalmente.

-Bom dia - sorrio para o mesmo. Desde que Lucien se foi, meu pai tem dificuldade de achar amigos e... pessoas de confiança. Ruel é o mais próximo de um colega que meu pai tem mas mesmo assim meu pai insiste em tratá-lo de forma indiferente. Ruel é como um amigo para mim, ele me treina tem poucos anos e o pouco que fez me ajudou muito. Eu tenho problemas em...controlar minha magia e raiva, minha mãe fala que puxei isso de meu pai e devo aprender a controlar desde nova.

-Como está sua mãe? - Ruel prende seus cabelos ruivos longos em um coque apertado.

-Minha mãe? - cerro o cenho - Ela está ótima, por que não estaria? - pergunto e o homem dá de ombros, desviando o olhar.

-Vamos começar - ele fala e se prepara para me golpear, eu o bloqueio quase que instintivamente.

A manhã passa rápido e Ruel, por pura sorte, vence uma luta. Meus pulmões ardem e sinto urgência em tomar um banho gelado. Ruel é muito bom no que faz, ele treina quase o dia inteiro com os outros guardas daqui. Creio que ele é o melhor entre eles.

-Por hoje chega. Você estava um pouco distraída, o que aconteceu? - ele pergunta e me dá um pouco da água do coco que ele tinha acabado de pegar de uma árvore próxima dali.

-Não tenho conseguido dormir muito bem - falo sem dar muita importância mas a verdade é que minhas noites tem sido agoniantes. Eu sempre sonho com o mesmo lugar e quase sempre ouço uma voz me chamando como se estivesse em apuros. Eu não sabia mais o que fazer e pensando melhor agora, talvez essa pessoa estivesse em apuros e estivesse se comunicando comigo através de algum feitiço. Mas como vou achá-la?

-Beba chá antes de dormir, ajuda muito- eu assinto e ele se despede.

Ele não sabe, mas eu já bebi todos os tipos de chás que tem aqui em casa, nenhum me ajudou. Pelo contrário, só piorou tudo. Parece que a cada dia eu durmo menos e eu fico exausta por isso. E a cada dia o sonho parece mais real e palpável. Não consigo ver nitidamente mas eu sempre vejo um céu estrelado.

Subo para meu quarto e preparo um banho gelado para mim, já que hoje era dia de folga para a Taryn. Taryn era como uma amiga, ela arrumava minhas roupas e ajeitava meu cabelo, a massagem dela é de levar ao paraíso e ela tem ótimos conselhos. Sinto falta dela aqui mas sei que ela também precisa de folga.

Meu banho foi rápido, já que meu estômago não parava de roncar e eu sentia minhas pernas fracas devido ao esforço do treino. Realmente, Ruel tinha razão de ter pegado pesado comigo. Eu preciso ter uma boa noite de sono para restaurar minhas energias e o fato de eu estar cansada vai aumentar minhas chances disso.

Coloco um vestido simples solto rosa claro e desço para o almoço com o cabelo molhado mesmo.

-Como foi o treino, filha? - minha mãe pergunta.

-Deixem esse assunto pra outra hora, não quero testemunhar isso - meu pai me corta e fala com desprezo.

Seguro o copo de água com tanta força que os nós dos meus dedos ficam brancos e sinto minha garganta queimar com a pergunta que estava quase saindo.

-Porque não gosta de nos ver treinando?- Pergunto como se não estivesse nervosa e tomo um gole grande de água.

- Mulheres não foram feitas para isso - Tamlin fala e bebe um gole do seu vinho seco.

-Feyre Archeon é uma ótima lutadora - dou de ombros e ouço meu pai rosnar. Rapidamente Bryce aparece na porta da sala de estar com as pupilas dilatadas com a adrenalina e alerta de perigo. Ele é treinado para isso, como meu pai se transfigura, Bryce consegue entender perfeitamente o que ele diz. Já meu pai não consegue entender um som sequer que sai de Bryce, me dando vantagem nisso.

-Está tudo bem, pode voltar - sussurro e o mesmo saiu devagar, ainda em alerta.

-Não precisa ser rude, querido - minha mãe fala com sua voz doce mas vejo que a ponta de seus dedos brilhavam como o sol. Queria ter uma gota de seu autocontrole.

-Não fala mais esse nome dentro dessa casa, Kaia. Nunca mais - meu pai me encara com os olhos bem abertos e eu assinto firme. Agora sei como posso tirá-lo do sério, isso parece algo que eu não posso esquecer. Feyre Archeon tira meu pai do sério e, possivelmente, ele a teme. E ah...eu usaria isso para provocá-lo.



Notas da autora:

Tamlin sendo um escroto como sempre...

𝐃𝐚𝐫𝐤 𝐏𝐚𝐫𝐚𝐝𝐢𝐬𝐞Onde histórias criam vida. Descubra agora