MEUS MOTIVOS

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Me levanto do sofá e caminho até a o balcão que divide a sala da cozinha, passando a mão no rosto.
"Eu sou uma pessoa forte, decente, equilibrada, adulta e como tal preciso dizer não pra ela e levá-la em sua casa para que durma em sua casa, não na minha, na minha não então tenho que me virar e dizer não e é isso que vou fazer exatamente agora."

  - Tá bom - "que?" - Vou deixar porque está tarde e é culpa minha também não ter percebido isso.

"Que desculpinha em?"

  - Mas o seu pai aceitou de boa isso? Quer dizer: aquele dia no... no banheiro ele...

  - Meu pai anda mais bonzinho a um tempo desde que conheceu uma mulher - ela fala de forma apressada me interrompendo - eu queria deixar ele com mais intimidade... Vai que ele aproveita e chama ela pra dormir lá também né?

Ela se levanta e anda na direção oposta a minha ficando de frente pra janela uns segundos antes de se virar pra mim, com as mãos na frente do corpo como uma menina recatada estudando pra ser freira.
Não consigo evitar minha cara de desconfiada levantando uma sombrancelha. Ela da um sorrisinho de criança mostrando os dentes.
Ando de volta pro sofá, jogando meu corpo exausto, esperando não me arrepender depois de minhas decisões impulsivas. Ela se senta ao meu lado com o corpo virado pra mim.

  - Está chateada? Se quiser eu ainda posso embora e só pedir um carro - ela diz de forma manhosa.

Penso sobre essa possibilidade mas também lembro das perguntas que quero lhe fazer desde o início dessa história. Então acabo cedendo a curiosidade e balanço a cabeça negativamente olhando pra TV desligada.

  - Quero lhe perguntar umas coisas, mas primeiramente, você está com sono? Tem aula amanhã e você está com o uniforme do trabalho apenas - lembro do horário e que ela ainda estuda e tem provas para fazer.

  - Eu costumo dormir mais tarde que isso. A professora de matemática passou a prova hoje, antes da sua, então os primeiros horários amanhã estão vagos, só vou ter prova a partir das 9 então dá tempo de eu ir pra casa e me arrumar. Que perguntas quer me fazer? - ela diz e fico pensando se ela já tinha tudo planejado antes de vir pra cá ou até mesmo enquanto fazia a minha prova.

Se meus pensamentos estiverem certos, Nanda é muito mais esperta, só não concentra isso no inglês.

  - Vamos começar do começo - falo - como você conseguiu meu número?

  - Bom eu disse que isso é segredo - ela me lembra.

  - Se você esconder as coisas de mim então é melhor chamar um carro - ameaço pegando meu celular na mesinha do lado do meu sofá.

  - Está bem, está bem - ela diz rapidamente erguendo as mãos, ponho o celular de volta na mesinha e ela solta o ar derrotada - eu não tenho muitos amigos além das mulheres da secretaria e um dia, estava me sentindo sozinha então fui falar com Júlia, sabe? A mais nova das secretárias.

Confirmo com um movimento de cabeça
Júlia e eu nos conhecemos assim que entrei na escola, quando era só estagiária como eu, nos aproximamos por termos quase a msm idade e principalmente por sermos novas na escola. É uma boa pessoa e profissional, avançou rapidamente no trabalho sendo mantida depois dos três meses de experiência.
Nanda prosseguiu:

  - Então, cheguei na secretaria e ela estava andando pra lá e pra cá com pastas na mão. Perguntei se podia ajudar de algum modo e ela pediu pra eu anotar algumas coisas que ela ia falando enquanto não parava de andar pela sala. Enquanto eu escrevia eu vi sua foto em um papel que pensei ser seu currículo - ela respirou fundo antes de continuar - então eu vi seu contato e anotei na mão quando Julia entregava uns documentos pra outra secretária...

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