UM ENDEREÇO PARA IR

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NANDA

Faz meia hora que estou em um quarto de hospital sozinha sem entender o porquê.
Não estou tão machucada para estar internada. Sinto apenas dores de lesões normais pelo corpo, nada que eu já não tivesse sentido antes. Só quero ir embora daqui pra longe de tudo isso, longe do monstro que morava na mesma casa que eu.
Pensando nisso, ninguém entrou aqui para me explicar o que aconteceu com ele, será que Keni está bem? Ela salvou a minha vida.

Não queria ter metido ela nisso mas foi preciso. Se não fosse por ela ter chegado na hora certa, com certeza eu não estaria aqui para contar história e aquele monstro estaria enterrando meu corpo e falando por aí que fugi de casa.

Que hospital será esse? Nunca estive aqui. Parece caro. Quem será que está pagando por isso? Será que vou ser presa se eu disser que não tenho dinheiro nem plano de saúde?

Finalmente um médico entra no quarto.

- Olá, Fernanda. Eu sou Dr. Reginaldo - o médico fala olhando para mim de forma gentil. - Como está se sentindo?

- Meu corpo está doendo um pouco e estou me sentindo meio enjoada para ser sincera. - digo. Realmente senti um enjoou estranho quando senti o cheiro do perfume logo que o doutor entrou.

Ele tirou uma caneta do seu jaleco e assinou algumas coisas na prancheta em sua mão, depois devolvendo a caneta para onde estava.

- Ok. Fizemos alguns exames em você por ordens médicas. Fizemos uma pequena retirada do seu sangue para confirmar a suspeita de abuso - meu estômago revirou enquanto ele falava isso - durante os exames de sangue percebemos a produção de hormônios Beta HCG...

- Beta HCG? O que isso significa? - pergunto.

- Beta HCG é um hormônio que começa a ser produzido quando um embrião é fixado na parede do útero. Ainda é preciso algumas horas para ter um diagnóstico completo mas tudo aponta que a senhorita está grávida - ele fala, diminuindo o tom de voz no final da frase.

Grávida...
Toco minha barriga, por cima da roupa de hospital azul que me colocaram, gravo minhas unhas sobre o plástico, mas sinto em minha pele. Sinto uma pressão em meu peito, como se alguém estivesse apertando meu coração com a mão.
O médico se aproxima e toca em meu ombro.

- Escuta, eu tenho 40 anos de trabalho nesse hospital e já tive que informar muitas garotas como você e, acredite, mesmo com todos esses anos nas costas nunca foi fácil pra mim dar essas notícias. Não foi diferente com você, eu posso até dizer que consigo sentir metade do que você sente nesse momento...

- Já ficou grávido, doutor? - interrompo - já ficou grávido do seu próprio pai?

- Sei que está com raiva, mas...

- Eu não estou com raiva. Estou com ódio! - digo sentindo meu corpo tremer - MEU CORPO FOI VIOLADO POR ALGUÉM QUE DEVERIA ME PROTEGER! Eu já tentei me matar tantas vezes, mas nunca consegui porque sempre lembro da minha mãe... E o ele fez com ela... PRECISO SAIR DAQUI!

Arranco os fios com soro do meu braço e tento me levantar da cama, mas o médico me segura pelos ombros me forçando a ficar na cama.

- Fernanda, por favor, você precisa se acalmar. Se estressar só vai fazer mal ao seu corpo e ao bebê...

- Eu tô pouco me fodendo pra esse feto! Você acha que foi a primeira vez?! - digo o empurrando pelos ombros sem sucesso por ele ser maior e mais forte que eu.

- O que você disse? - ele diz, com os olhos um pouco arregalados.

Me dou conta da besteira que digo e prendo meus lábios numa tentativa de calar a voz em minha cabeça que está descontrolada.
Uma enfermeira de cabelos pretos entra na sala e aplica algo em meu braço, com dificuldade em segura-lo para enfiar a agulha.

MENOR DE 18Onde histórias criam vida. Descubra agora