— Olivia.
Acordo num susto ao sentir uma mão tocar meu ombro com firmeza e ofego com força, como se estivesse segurando a respiração até então. A primeira coisa que sinto ao me sentar é que a minha cabeça dói um pouco e me sinto ligeiramente desorientada, mas a sensação começa a se dissipar rapidamente. Então, vem as outras sensações: algo confortável debaixo de mim, um cheiro de perfume cítrico, um pouco de calor e, então, a presença de alguém perto de mim.
Uma garota de pele bronzeada e cabelos escuros e lisos está me encarando, a um passo de distância de mim. Com seus olhos escuros, ela me encara com curiosidade. Levo um tempo, então, para assimilar que eu não sei quem é essa garota e sequer onde estou.
Num gesto automático, olho para os lados. Estou em um quarto, sentada em uma cama. O quarto tem chão e paredes de madeira. Um tapete azul-marinho cobre boa parte do chão, e noto pequenos focos de bagunça e alguns cantos. Ao pé da cama, uma mala antiga fechada com várias coisas em cima, como potes, livros e caixas organizadoras. Do outro lado do quarto, há uma mesa com duas banquetas, e há cadernos e livros sobre a mesa, abertos de qualquer jeito, e prateleiras na parede em frente à mesa, com vários objetos de decoração. Um porta-retrato, potes coloridos, flores artificiais.
Tudo isso é estranho pra mim. Meu quarto não é assim. Na verdade, nem me lembro de alguma vez na vida ter entrado em um quarto como esse.
Percebo que estou encarando tudo com estranheza quando a garota pigarreia e sinto minhas sobrancelhas relaxarem, assim como meus olhos, que antes estavam apertados de curiosidade, encarando tudo.
— Aonde estou? — pergunto, voltando meu olhar para a garota à minha frente e me ajeitando na cama, colocando as pernas para fora.
— Desculpe te acordar assim — a garota diz rapidamente. — Não pensei que você fosse se assustar. Você está no meu quarto.
— No seu quarto? — Ela assente com a cabeça, em resposta. Passo a mão pelo meu rosto, frustrada, tentando ter alguma lembrança de como fui parar ali. — Mas como eu...?
— Você está no Midnight Tsirk. Não se lembra? Você veio falar com a Eliria ontem — a garota explica. — Ela pediu para eu te chamar.
Sinto meu coração acelerar, e então as memórias de antes disso começam a voltar em um estalo. Lembro-me de estar no trailer de Eliria. De falar com ela, implorar para ficar no Midnight. E então... Eu apaguei. E acordei nesse lugar, nesse quarto, com essa garota olhando para mim.
— Ah, meu deus. Eliria — digo hesitante. — Eu estava conversando com ela ontem e...
— Ela vai te explicar tudo, com calma. Venha comigo. Ela está te aguardando no trailer dela. — A garota diz com calma, e estende a mão para mim.
Hesito, e olho para ela novamente. Não me lembro de tê-la visto na apresentação do Midnight, e isso me deixa um pouco desconfiada. Ela parece perceber minha hesitação, e então dá um sorrisinho relaxado.
— Não se preocupe, nós não te sequestramos — ela diz, brincando. — E eu sei que você veio aqui esses dias ver uma apresentação. Mas eu não me apresento. Por isso que você nunca me viu antes. Agora, vamos. Eliria precisa falar com você antes de partirmos. Ah! E a propósito, meu nome é Sunny.
Assinto com a cabeça e me levanto da cama, batendo suavemente com a mão sobre as minhas roupas. Percebo que uso as mesmas da noite anterior. Então, me lembro da minha mochila com as minhas coisas e, internamente, me pergunto onde devem estar. Olho rapidamente pelo quarto e de primeira vista não encontro nenhum vestígio, mas Sunny está logo na minha frente, abrindo a porta e esperando que eu a siga, e então vou atrás dela.

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A garota que não pode morrer - Série Midnight - Volume 1
FantasyLiv não pode morrer. Com uma regeneração fora do comum, todas as suas tentativas de suicídio foram falhas. Conformada de que teria de viver escondendo sua suposta aberração de todos, a última coisa que ela esperava era um convite para participar de...