Finalmente a festa do BBB começa a ficar animada.
Após Mateus ir embora, Cecília se juntou a mim e aos meus pais para assistir e jogar uma partida de UNO (que acabou sendo bem mais do que só uma).- UNO! – Minha mãe grita para vizinhança inteira ouvir. - A Laís é realmente hétero? – Agora ela abaixa o tom de voz.
- Mãe, isso não faz o menor sentido. – Minha vez de jogar. - Vocês têm que parar de assumir que a pessoa é hétero só porque ela namora com alguém do sexo oposto, tá? Ela poderia ser bi, pan... Eu namoro um garoto e, graças a Deus, isso não me faz hétero...
- Isso é verdade. – Meu pai comenta e eu jogo a carta de +4. – NÃO! Eu deveria te levar de volta para aquele orfanato. – Resmunga para mim.
- Mas... – Eu volto ao assunto da Laís. – Ela realmente é hétero.
Meus pais parecem decepcionados. Cecília tenta se segurar mas acaba rindo. Vejo minha mãe fingir conter lágrimas e fico secretamente feliz pela forma como nós funcionamos.
Nós fazemos essa brincadeira desde que eu me entendo por gente. Fingimos que o mundo é muito mais aceitável com a comunidade LGBTQIA+, e geralmente eu sou encarregada de manter a postura de aliada de pessoas cis e dos héteros, pois sou a mais jovem e mais informada.- Gente, ela se assumiu hétero dois anos atrás. Por que as pessoas sempre resolvem ignorar essas situações? – Cecília brinca.
- Ainda bem que nossa filha é o orgulho da família. – Minha mãe acaricia o meu ombro. - A única que não dá desgosto.
- Mainha, esqueceu que você e meu pai são a letra T da sigla?
- E eu sou o B também. – Meu pai comenta.
- Eu sei, minha filha. Estou falando dessa geração mais nova que gosta de inventar moda. – Ela fala e revira os olhos de forma exagerada e eu penso que não poderia ter pais melhores. – Rá! Ganhei, otários. – Ela joga sua última carta e faz uma dancinha estranha que eu não sei nem como descrever.
*****
Estou prestes a dormir quando alguém bate na porta do meu quarto.
- Tá aberta, é só entrar! – Eu grito.
- Oi, meu amor. – É minha mãe. – Só queria saber se tá tudo bem com você. Desculpa por ter falado que só porque a Laís estava namorando um menino ela era hétero. – Ela pausa. - Mesmo ela sendo. Enfim, você me entendeu. Desculpa?
- Obrigada, mãe. – Eu digo e faço espaço para ela sentar na minha cama. – E então? Gostou do Mateus?
- Sinceramente? – Ela me pergunta e eu assinto. – Gostei sim. Só não acho que você gosta tanto dele quanto ele gosta de você. – Então ela dá um sorrisinho e diz: - Só acho que você...
- E a Cecília combinam mais. – Eu completo com um sorriso e depois suspiro. – Mãe, a Cecília é só minha amiga. – É mesmo? – Eu não sinto nada por ela. – Não mesmo? – Talvez eu, de fato, não goste tanto assim do Mateus. – Confesso. – Mas vou conversar com ele. Você acha que eu devo conversar com ele?
- Ah, deve sim. É sempre bom ser sincera sobre seus sentimentos. Lembra do que a gente conversou sobre reciprocidade? Não é só sobre retribuir o sentimento pela pessoa, também é importante ser sincera com ela sobre o que você sente. É sobre ser honesto agora para não machucar a pessoa permanentemente depois. – Eu assinto. – Hora de colocar em prática, mocinha. – Ela diz antes de se levantar e sair.
Assim que ela fecha a porta, resolvo mandar mensagem para o Mateus para não o pegar de surpresa e acabo sendo surpreendida por uma mensagem dele.
Mateus:
Thalita, vou te esperar amanhã no portão da escola, tá?
Eu respiro fundo, respondo que sim, jogo o celular para o lado e me culpo por ter deixado isso ir longe demais.
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Clichês de livros
RomanceAlém de ter que lidar com as complicações que envolvem ser uma aluna de terceiro ano do Ensino Médio, Thalita deve lidar com um namoro que já começou destinado a terminar e com os sentimentos que envolvem a sua melhor amiga, Cecília. A garota que se...