Capítulo 5

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   Finalmente a festa do BBB começa a ficar animada.
   Após Mateus ir embora, Cecília se juntou a mim e aos meus pais para assistir e jogar uma partida de UNO (que acabou sendo bem mais do que só uma).

   - UNO! – Minha mãe grita para vizinhança inteira ouvir. - A Laís é realmente hétero? – Agora ela abaixa o tom de voz.

   - Mãe, isso não faz o menor sentido. – Minha vez de jogar. - Vocês têm que parar de assumir que a pessoa é hétero só porque ela namora com alguém do sexo oposto, tá? Ela poderia ser bi, pan... Eu namoro um garoto e, graças a Deus, isso não me faz hétero...

   - Isso é verdade. – Meu pai comenta e eu jogo a carta de +4. – NÃO! Eu deveria te levar de volta para aquele orfanato. – Resmunga para mim.

   - Mas... – Eu volto ao assunto da Laís. – Ela realmente é hétero.

   Meus pais parecem decepcionados. Cecília tenta se segurar mas acaba rindo. Vejo minha mãe fingir conter lágrimas e fico secretamente feliz pela forma como nós funcionamos.
   Nós fazemos essa brincadeira desde que eu me entendo por gente. Fingimos que o mundo é muito mais aceitável com a comunidade LGBTQIA+, e geralmente eu sou encarregada de manter a postura de aliada de pessoas cis e dos héteros, pois sou a mais jovem e mais informada.

   - Gente, ela se assumiu hétero dois anos atrás. Por que as pessoas sempre resolvem ignorar essas situações? – Cecília brinca.

   - Ainda bem que nossa filha é o orgulho da família. – Minha mãe acaricia o meu ombro. - A única que não dá desgosto.

   - Mainha, esqueceu que você e meu pai são a letra T da sigla?

   - E eu sou o B também. – Meu pai comenta.

   - Eu sei, minha filha. Estou falando dessa geração mais nova que gosta de inventar moda. – Ela fala e revira os olhos de forma exagerada e eu penso que não poderia ter pais melhores. – Rá! Ganhei, otários. – Ela joga sua última carta e faz uma dancinha estranha que eu não sei nem como descrever.

*****

   Estou prestes a dormir quando alguém bate na porta do meu quarto.

   - Tá aberta, é só entrar! – Eu grito.

   - Oi, meu amor. – É minha mãe. – Só queria saber se tá tudo bem com você. Desculpa por ter falado que só porque a Laís estava namorando um menino ela era hétero. – Ela pausa. - Mesmo ela sendo. Enfim, você me entendeu. Desculpa?

   - Obrigada, mãe. – Eu digo e faço espaço para ela sentar na minha cama. – E então? Gostou do Mateus?

   - Sinceramente? – Ela me pergunta e eu assinto. – Gostei sim. Só não acho que você gosta tanto dele quanto ele gosta de você. – Então ela dá um sorrisinho e diz: - Só acho que você...

   - E a Cecília combinam mais. – Eu completo com um sorriso e depois suspiro. – Mãe, a Cecília é só minha amiga. – É mesmo? – Eu não sinto nada por ela. – Não mesmo? – Talvez eu, de fato, não goste tanto assim do Mateus. – Confesso. – Mas vou conversar com ele. Você acha que eu devo conversar com ele?

   - Ah, deve sim. É sempre bom ser sincera sobre seus sentimentos. Lembra do que a gente conversou sobre reciprocidade? Não é só sobre retribuir o sentimento pela pessoa, também é importante ser sincera com ela sobre o que você sente. É sobre ser honesto agora para não machucar a pessoa permanentemente depois. – Eu assinto. – Hora de colocar em prática, mocinha. – Ela diz antes de se levantar e sair.

   Assim que ela fecha a porta, resolvo mandar mensagem para o Mateus para não o pegar de surpresa e acabo sendo surpreendida por uma mensagem dele.

Mateus:

Thalita, vou te esperar amanhã no portão da escola, tá?



   Eu respiro fundo, respondo que sim, jogo o celular para o lado e me culpo por ter deixado isso ir longe demais.

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