Capítulo 1

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Eu não aguento mais! Segundo semestre do terceiro ano do Ensino Médio e os professores só falam sobre vestibular e faculdade. Mas que faculdade você faz quando você não quer fazer nada? Confesso que penso muito em uma carreira artística, mas sei que é somente um sonho.

- Acho que estou destinada a ser ex-bbb. - Sussurro baixinho para Cecília.

- E eu vou desistir da medicina para ser amiga de famosa. - Responde.

Ela sorri para mim e é o sorriso mais lindo que eu já vi no mundo. Eu devia odiar essa menina.

- E eu vou ser namorado de famosa. - Diz Mateus se intrometendo na nossa conversa. - Nada mal.

Olho para Cecília e vejo que ela está se segurando para não dar risada dele, e automaticamente tenho que me esforçar para não rir também.
Mateus não é um cara exatamente chato, só acho meio ridículo ele se humilhar dessa forma. Até porque, a gente não tem absolutamente nada e eu não sinto nada por ele. Ele e o filho de sua madrasta, Pietro, entraram na escola no início do ano e grudaram na gente.
Na verdade, a gente que grudou neles. Por "a gente" eu me refiro à Cecília, minha prima Laís e eu. A Laís é meio que a líder da turma e a Cecília é simpática com tudo mundo, então os novatos sempre acabam se aproximando delas e me ganham de brinde. Não somos exatamente um trio. A Laís é mais amiga do terceiro B, mas decidiu mudar de sala porque queria focar nos estudos e parar de fofocar. Claro que não funcionou.

- Ele pode é fofo mas é meio brega de vez em quando. - Minha prima sussurra bem baixinho e eu rio.

Eu e o Mateus ficamos algumas vezes e é isso. Não conversamos muito sem outras pessoas por perto, não temos muito momentos que possam ser considerados românticos, nem nada disso. Mas tenho medo, porque não sei se ele gosta de mim ou só fica flertando de brincadeira como eu e a Cecília.
Quando o sinal toca, fico aliviada porque estava de saco cheio de ter que escutar palestra sobre como eu devo escolher, aos 17 anos, o que quero fazer pelo resto da minha vida.
Levanto da minha cadeira, sinto uma mão na minha cintura e alguém fala baixinho no meu ouvido:

- Gatinha, pelo amor de Deus, me diz que você tem três reais para me pagar uma coxinha. - A voz é de Cecília e mesmo que ela só tenha pedido uma coxinha, sinto meus pelos arrepiarem. Eu seria capaz de roubar todas as coxinhas do mundo para ela. É sacrifícios como esse que você faz por uma melhor amiga.

Com muito esforço para manter minha postura, garanto uma distância segura e me viro para lhe dar os três reais.

*****

Quando a gente vai sentar para comer, Mateus, minha prima Laís e seu namorado Pietro, o que é quase meio-irmão de Mateus, se sentam na nossa mesa.

- Então quer dizer que vocês estão namorando? Não acredito que perdi você, Laís. - Cecília diz quando Laís senta do lado de Pietro.

- Cecília! Que ousadia. Vai me trair na minha frente? - Eu brinco.

- Você que quis abrir o nosso relacionamento para poder dar uns beijos nesse daí. - Diz ela apontado a cabeça na direção de Mateus.

- Ainda acho que vocês se amam e têm medo de admitir. Certeza que Thalita chora no banho por ter recusado a Ceci. - Laís comenta quando Cecília me puxa para perto e enche meu rosto de beijo.

- Como assim? - Pietro pergunta desinteressado na história mas super interessado na Laís.

- Espera aí. Vocês já ficaram? - Eu e Cecília não aguentamos e rimos da cara de assustado que Mateus faz.

- Não. - Mateus solta a respiração quando Cecília começa a explicar. - Eu era completamente apaixonada por essa princesa quando tínhamos uns oito anos. Pedi para casar com ela e ela não aceitou.

- Você esperava que eu me casasse aos oito anos?

- A gente podia só noivar e esperar um tempinho para casar. - Ela dá uma mordida na coxinha. - Enfim, você nunca me deu bola então quando fiz 11 anos, caí na real e comecei a gostar de uma colega nossa chamada Tati. Mas nem se preocupe, Mateus, hoje em dia, não quero mais ela. Sou uma mulher comprometida. - Cecília fala ainda dando risada.

- Não teria porque se preocupar. - Solto um olhar fuzilante para Cecília porque não quero que ela encoraje nenhum tipo de pensamento na cabeça de Mateus. - É comprometida nos seus sonhos, né? Zendaya nunca iria te querer, garota sebosa.

- O jeito que você me trata é tão lindo. - Ela aperta as minhas bochechas e me dá um beijo na ponta do nariz e eu fico admirando o quão linda ela é.

Eu e Cecília não temos nada. Nem amizade colorida. Juro mesmo. Mesmo assim continuo achando ela a pessoa mais linda que já vi e é a verdade. Ela é genuinamente bonita. Uma das pessoas mais engraçadas e gentis que já conheci. Eu levaria um tiro por ela e sei que ela levaria um tiro por mim.
Enquanto pensava nisso, percebi que todo mundo estava falando sobre nossa viagem de formatura que Laís estava encarregada de organizar.

- ... Até agora, nossas melhores opções foram Salvador ou Morro de São Paulo. Tem algumas pessoas que preferem lugar com shopping mas, eu, pessoalmente, prefiro o Morro. Sem contar que o pacote para lá é muito mais barato. O que vocês acham? - Escuto Laís falando.

- Eu prefiro o mais barato. Sempre o mais barato. - Pietro fala sem nem pensar.

- Acho que Morro de São Paulo seria mais sossegado para nossa turma. Até porque a viagem é para nós aproveitarmos a companhia uns dos outros enquanto ainda é tempo. Mas pensando por essa lógica, o lugar não importa, e sim as pessoas, então poderia ser Salvador também. Ainda assim, acho que o Morro seria mais mágico, sempre quis ir para lá.

Mesmo com o meu comentário confuso, todos concordam comigo e Laís promete que vai fazer de tudo para convencer todo mundo que Morro de São Paulo é a melhor opção.

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