Capítulo 7

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   Era meu aniversário de 12 anos e eu só queria comemorar com minha melhor amiga. Não queria festa, nem presentes. Só um dia inteiro com minha melhor amiga.
   O dia estava lindo. Estava ensolarado porém com um arco-íris pois tinha chovido antes de abrir o tempo e nós estávamos andando de bicicleta em direção à lugar nenhum. Só queríamos aproveitar a companhia da outra.
   Mas acabamos descobrindo um lugar. A roça da minha avó, que parecia tão sem graça, ficava próxima a uma espécie de estufa abandonada. Por fora, vimos apenas a estrutura de vidro quebrado e aparentemente sujo. Parecia sem vida. Quando entramos, vimos mais vida do que nunca. As plantas estavam todas bem cultivadas, como se estivessem sendo bem cuidadas frequentemente. O cenário era de tirar o fôlego. Algo em especial despertou a atenção de Cecília. Era um baú empoeirado que estava aberto porém vazio. Não tinha nada demais. Mas ela viu beleza naquilo. Assim como eu via nela.
   Sentamos com as costas encostadas na frente do baú, mesmo estando sujo. Ela descansou sua cabeça em meu ombro e eu segurei sua mão. Lembro de sentir sua mão estremecer ao meu toque, até o momento em que ela se deixa entregar e relaxa seus dedos. Então, escuto seu choro baixinho e seu soluço que parecia ter ficado por tanto tempo preso na garganta. Não queria deixá-la desconfortável e perguntar, mas também não queria fingir que não me importava.
   Não precisei me preocupar muito com isso pois logo ela falou:

   - Meus pais se separaram.

   - Eu sei. – Admito. – Eles falaram para os meus pais. Não queria te pressionar para contar.

   - Desculpa por não ter falado. Desde quando você sabe?

   - Uns três meses.

   - Então, desde sempre.

   - Desde sempre. – Repito e deixo o silêncio falar por nós.

*****

   - Eu não sei o que faria da minha vida sem você! O que posso te dar de recompensa, minha deusa? – Eu e Cecília estamos deitadas na sua cama estudando para o ENEM e esperando o irmão dela, Caio, nos trazer brigadeiro como combinado.

   - Quer mesmo que eu responda? – Ela responde brincando e rola na cama para mais perto de mim. E ela está bem perto de mim. Tão perto que consigo ver todas as imperfeições do seu rosto, e não tem nenhuma. Percebo que os lábios dela estão rachados, provavelmente porque ela adora morder, e penso pela milésima vez como a boca dela é linda. Queria que fosse minha. Minha do tipo "que estivesse em mim", "que eu tivesse nascido com ela". Não minha do tipo "quero beijar ela". Sinto ela chegar mais perto e minha respiração para. Nesse momento, Caio abre a porta com uma panela de brigadeiro nas mãos e nós nos afastamos com um pulo.

   - Pelo menos para alguma coisa você presta. – Ela levanta e toma o doce para si.

   - Tá tudo bem, Thali? – O irmão dela, que eu tinha esquecido que estava ali, me pergunta e eu tento controlar meu juízo para formular uma resposta.

   - Ela passou a tarde estudando física. Alguns neurônios devem ter queimado.

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