In That Hospital

O1. Prólogo

A poltrona listrada em tons de bege da sala dos médicos atendentes afunda sob seu peso. O tique-taque do grande relógio fixado na parede à sua frente e o zumbido abafado das máquinas de comida são o único barulho ao redor do cômodo bem iluminado pela luz incandescente, quente e aconchegante . A cafeteira está cheia pela metade ao lado de algumas embalagens de comida espalhadas pelo balcão. Há cobertores grossos embolados no grande sofá no canto esquerdo da sala, a televisão sem som exibe o que parece ser o último telejornal da noite.

Ele inclina as costas para a frente com os cotovelos apoiados nos joelhos, quando a sala gira, fecha os olhos, sentindo o estômago revirar e o suor frio descer pela sua nuca. Inspira e expira algumas vezes, se sentindo cada vez mais nauseado. O som de movimento do lado de fora da sala o fez erguer a cabeça e olhar para a porta, sentindo o cansaço acumulado em suas pálpebras pesadas. 

"Olá, Louis! Seu plantão terminou?" Um médico alto, com os cabelos escuros curtos um pouco assanhados, pequenas bolsas embaixo dos olhos castanhos claros, com uma expressão cansada porém simpática, entra na sala tirando seu jaleco. Os braços fortes, com diversas tatuagens ficaram à mostra.

"Acabou umas três horas atrás." Louis responde com a voz fraca e rouca, esfregando as mãos no rosto pálido. "Tive que entrar em duas cirurgias de emergência, acidente de carro."

"Hmm, sexta-feira agitada. Foi tudo bem?" O homem dobra o jaleco indo em direção aos armários na lateral direita da sala.

"Uma menina de oito anos com lesão no fígado, difícil de reparar, mas conseguimos, ela também teve muitas costelas quebradas, mas deve ficar bem." Ele olha o médico tirar uma bolsa de couro marrom do armário da ponta. A sala parece girar um pouco menos.

"Ah, deve ter sido da família que chegou no começo da tarde, eu fiquei com o pai, acompanhei o Dr. Jenkins numa craniotomia, ele bateu a cabeça feio. Ainda não sabemos se ele vai acordar. Ouvi na emergência que eram duas crianças, você ficou com a outra também?

"Sim." Louis sente um nó fechar sua garganta. "Atendi primeiro um menino de quatro anos, não tinha muito o que fazer, as lesões eram tantas." Ele respira fundo, a bile subindo pela garganta. "Malditos pais estúpidos que não colocam seus filhos na maldita cadeirinha. Não sei nem como ele chegou vivo aqui, o coração dele parou antes que eu conseguisse identificar a lesão mais grave pra começar, na emergência ainda."

"Sinto muito, Lou." Ele se vira na direção de Louis, enquanto tira a camisa do uniforme azul bebê. "Você parece chateado."

"Tudo bem, Liam. Hoje foi realmente um dia ruim." Suspira pesadamente. "Não me sinto bem."

Liam abre a boca para dizer algo mas é interrompido pelo barulho da porta sendo aberta. Um moreno opulento, com o cabelos negros como obsidiana, impecavelmente arrumados em um topete alto, olhos dourados que transpareciam suavidade e um sorriso gentil, passa pela porta.

"Hey, companheiros! Vamos pra casa?" O homem vai até a geladeira moderna ao lado do balcão e pega uma garrafa de água. Ele olha de Liam para Louis aguardando uma resposta.

"Hey, Zayn! Acho que sim, meu plantão acabou agora, e o do Louis há três horas." Liam cumprimenta, agora vestindo um jeans escuro, ainda sem camisa.

"O meu acabou ainda pouco, preciso comer o maior e mais gorduroso hambúrguer que encontrar e depois dormir por doze horas." Zayn suspira, coça levemente a mandíbula, esfregando a barba cheia, com as costas apoiadas no balcão. Ele toma mais um gole de água e fixa o olhar em Louis, que ainda está sentado no sofá parecendo um pouco fora do ar. "Lou, aconteceu alguma coisa, você parece meio pálido?"

Ele não responde, levanta cambaleante, e passa por Liam como um furacão, entra apressado no banheiro próximo aos armários, batendo a porta atrás de si. Lágrimas enchem seus olhos rapidamente, e a ânsia sobe por sua garganta. Ele se ajoelha na frente do vaso sanitário quando sente o gosto amargo, engasgando com o vômito, tremores irradiam por seu corpo enquanto esvazia o estômago violentamente.