04. Taquicardia

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Quando o plantão acaba, Liam espera por Louis no estacionamento, eles iriam em carros separados, mas ele quis ter certeza de que o amigo estava bem antes de partir. Chegam ao prédio quase ao mesmo tempo, subem o elevador juntos em silêncio.

Depois de tomar uma ducha rápida e vestir uma roupa confortável, Liam prepara uma salada satisfatoriamente colorida e dois generosos cortes de bife para o jantar. Louis chega na cozinha quando a refeição está quase pronta, de cabelos molhados, vestido em um moletom de capuz duas vezes maior que ele e meias com  estampas de alienígenas nos pés.

Não conversam muito durante o jantar. Liam o conhece a tempo suficiente para saber que precisa de um tempo antes de falar sobre a descoberta do dia. Então, não faz nenhuma pergunta, apesar de sua cabeça ameaçar explodir de tantos questionamentos. Sabe que Louis confia nele e quando estiver pronto, contará espontaneamente.

Louis ajuda a limpar a cozinha, logo em seguida se despede de Liam, desejando uma boa noite de descanso e vai para o quarto. Deita na cama de barriga para cima, olhando para o teto, inquieto, está cansado mas não consegue pegar no sono. Sente vontade de chorar, sem conseguir formar pensamentos coerentes.

Ele está grávido de sete semanas. Há uma pequena vida crescendo dentro dele naquele exato momento. E definitivamente não sabe o que fazer a respeito.

Um pouco mais de uma hora depois ele levanta, sai do quarto e bate suavemente na porta ao lado da sua, ela está entreaberta, então coloca a cabeça para dentro. Liam está deitado na cama, o abajur da mesa de cabeceira ligado, óculos de grau sobre o nariz e sua atenção voltada para o iPad em suas mãos.

Ele olha na direção da porta, franzindo a testa. "Olá?"

"Posso ficar aqui com você um pouquinho?"

"É claro."

Ele fecha a porta e se encolhe debaixo do edredom. Fica calado por alguns minutos, com a cabeça apoiada nos travesseiros.

"Você está ocupado?" Pergunta, olhando para o teto.

"Não exatamente. Um novo grupo de internos começa amanhã, vou ficar responsável por quatro deles. Estou só dando uma olhada em suas referências, separando o protocolo de trauma, tentando montar um conjunto de regras e um discurso de orientação para eles." Diz, apoiando o dispositivo em sua barriga. "Vamos pegar uma escala de vinte quatro horas."

"Vou fazer turno de vinte e quatro também. Tenho duas cirurgias programadas." Louis diz, mexendo nos nós dos dedos.

Ficam em silêncio, Liam não volta a mexer no iPad, apenas observa Louis com cautela.

Ainda encarando o teto e sentindo o olhar do amigo sobre ele, pensa que talvez se falar sobre tudo que se passa na sua cabeça, conseguirá organizar melhor suas ideias.

"Estou assustado, Payno." Ele suspira.

"Eu sei que está." Liam diz, atento à sua expressão, poucas vezes o viu tão desorientado.

"Não sei o que fazer sobre isso." Gesticula com as mãos, exasperado. "Quer dizer, numa decisão totalmente irresponsável eu deixei colocarem um bebê na minha barriga."

"Como assim?"

"Eu estava realmente chateado naquele dia. O plantão foi desastroso, todas as crianças que atendi morreram na mesa de cirurgia. Passei horas com Olivia Horowitz nos braços, me sentindo impotente, a vendo morrer. Você sabe, ela era minha paciente de Tay-Sachs?!" Liam assente. "Aí você e o Zayn me chamaram para ir naquele bar."

"Arcade Bar, eu lembro."

"E eu só queria beber até esquecer de como foi um dia ruim, e então ele sentou ao meu lado, com aquela voz ridiculamente lenta, falando sobre os meus olhos e do quanto estava interessado, e não sei, eu não pensei direito. Foi como um apagão." Louis fala rapidamente quase atropelando as palavras.

In That HospitalOnde histórias criam vida. Descubra agora