A Flor de Lótus - Capítulo Um
"Roubarás o ouro, mas terás seu destino roubado por um outro alguém"Era fim de inverno, e tons de azul claro mesclados com um amarelo sutil preenchiam o vazio de um céu sem nuvens do vilarejo de Kaga. Estava ensolarado e, se prestasse bem atenção a sua volta, poderia ouvir o sussurro do vento a trazer o canto do mais belo rouxinol que poderia jazer em tal lugar. Dororo, bela como a própria primavera que estava por vir, vivia no núcleo do vilarejo, sozinha. Olhos da cor dos vistosos troncos das cerejeiras, cabelos negros como duas jabuticabas vivas e maduras. Corpo esbelto, feição meiga e com duas mãos muito habilidosas... Principalmente para o roubo. Muitos se enganavam com seu rostinho bonito e aura bondosa, mas Dororo era uma ladra e das mais audaciosas daquelas terras, fazia de tudo para sobreviver. Para ela era mais um dia de lucro, já que alguns barcos atracaram na costa e ela poderia dar uma olhadinha. Sorrateiramente a moça se esgueirou por entre as pedras e entrou no navio. Era legitimamente de madeira, com no máximo alguns meses de envernização. Aparentemente os marujos e o capitão haviam saído de lá para buscar suprimentos na cidade, então teria algum tempo. Revistou cada canto, cada pedacinho que poderia conter joias ou ouro. Achou um depósito com alguns sacos de cevada e arroz, e algumas cestas de frutas em geral, principalmente damasco e maçãs verdes. Pegou sua pequena bolsa de pano e colocou uma boa quantidade de alimentos, afinal, as colheitas estavam em decadência e tudo que guardara para os meses de inverno havia acabado. Viu uma porta atrás de uma das estantes de comida farta do navio, empurrou-a e conseguiu acesso ao lugar. Era um cofre com muito, muito dinheiro e pedras preciosas. "Provavelmente é de algum pirata", pensou consigo mesma. Um lustre brilhante pendia sobre sua cabeça, o que a impressionava já que poderia quebrar em um navio como aqueles e sem nenhum tipo de proteção. Foi então que olhando mais fixamente, descobriu que eram diamantes brutos. Temendo que algo poderia acontecer, logo agora que já estava próxima a hora do jejum, a moça se apressou em catar o que podia de moedas de prata e ouro, enchendo até mesmo os bolsos.
– Ei, você!!! O que está fazendo???
Uma voz rouca e estranhamente familiar ecoou pelo chão do barco chegando até as velas, certamente pela grande acústica causada por grandes ripas e caibros rígidos. Ela ficou estática, virada de costas para quem quer que seja que a tenha pego no ato.
– Tens noção de perigo ladrão? Vira-te agora se não quiseres sentir minha lâmina na garganta, até drenar sua última gota de sangue.
Ainda confusa e com medo, ela se virou vagarosamente em direção ao indivíduo. Assim atingiu o olhar sobre o homem, viu que não se tratava de nada mais nada menos que um pobre velho corcunda com uma viola desgastada. Quase poderia rir, se não fosse a tensão de pensar em um exército a sua procura por causa de um idoso com asma. Como em um passe de mágica, ele largou a viola no chão, e começou a tremer. Começava a pensar que ele também seria um intruso, o que estava havendo? Um marujo com medo do próprio lar? Nem em sonhos. Então, ele se ajoelhou no chão e lágrimas brotaram do canto dos olhos, as mãos enrrugadas pousadas sobre a madeira fria, e no olhar uma tenuidade quase que como fraternal.
– Dororo...
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A Flor de Lótus
AdventureApós dez anos sem se verem, Dororo e Hyakkimaru se reencontram, por obra do destino ou obra de uma nova maldição? Poderão os dois vencer mais uma luta, e mais, como será o reencontro deles? Era um mistério, até agora. 🌸.・゜゜・🌸.・゜゜・🌸.・゜゜・🌸 🚨Aviso...