Segunda batalha, segunda pétala

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A Flor de Lótus – Capítulo Treze
"Segunda batalha, segunda pétala"

     Um monstro babando sobre minha cabeça. Eu admito que não me assustei tanto com ele, e sim mais com o gritinho de mulher que o Hyakkimaru deu, que mijão. Eu pulei dando uma cambalhota para trás, ficando ao lado deles.

   – Minha preciosaaaa você tá bem né? Eca tem baba em você, sai fora! – disse ele antes de se afastar do abraço.

   – Qualquer dia eu quebro esses seus dentes pra não poder dar esse sorrisinho tosca da sua cara – saquei minha espada.

   – Hmmm... Então quem derrotar esse daí não faz comida nem junta galhos por uma semana, fechou? – sorriu de canto.

   – Justo, tomara que esteja pronto pra comer poeira, seu bobão!

     Ele subiu nas costas do monstro. Ele era vermelho com algumas escamas cinzas, lembrava um dragão com problema na coloração. Talvez ele só precise do shampoo certo, pobre criança. Ok ok, sem tempo pra piadas, se ele vencer eu mesma corto meu cabelo com a katana. O monstro possuia sete grandes olhos negros, como os de uma aranha. Enquanto Hyakkimaru tentava o acertar no cérebro, por cima do crânio, eu criei uma estratégia.

   – Olhe e aprenda, amador!

     Tirei do bolso da minha yukata alguns alfinetes com veneno. Por que eu tenho isso comigo? Bom, digamos que pra tombar certos barcos eu precisei matar o capitaaawnnn (Autora: desculpa.) e quando essas belezinhas pegam na artéria certa, é batata! Me aprontei para lançá-los, em cima de uma pedra enorme. Mirei nos sete olhos, sete alfinetes em minha mão. Com um rápido movimento horizontal, os sete pequeninos cortaram o ar e chegaram ao núcleo ocular de cada olho, já era!

   – Você roubou, eu só tinha minha espada, você tinha outras cartas na manga! Ladra, bandida, salafrária! – o emo boneco revoltado disse.

   – Primeiramente, ninguém mais fala desse jeito hoje em dia, e segundo, vale tudo na guerra meu amor!

   – Ah pois vai ter volta, você não perde por... Dororo...? A Flor, olha!

     Brilhando de novo, a segunda pétala. Era mais uma memória. Os três, fomos puxados para mais uma delas. Dessa vez era um lugar estranho, estávamoa parados em frente a um lago assistindo a cena. Hyakkimaru estava conversando com uma moça na água, quem... Quem é ela??? Eles parecem bem próximos... Em um piscar de olhos fomos puxados da visão para uma outra parte, onde tudo pegava fogo e Hyakkimaru estava surtando.

   – Mio, é o nome dela – eu disse em voz alta.

   – Exatamente, e essa lembrança ainda dói muito... – segurou a arma com a mão direita.

     Encostei em seu braço e olhei em seus olhos. Ele estava tremendo. Finalmente eu consigo me lembrar disso também.

   – Não foi sua culpa, e é só uma memória infeliz. Ela e todas as crianças estão lá em cima agora orando por nós.

     Relaxou os músculos e não esboçou nenhuma reação, nem de ódio, nem de compaixão, nem de dor. Voltamos a floresta em questão de milésimos e eu podia notar um certo desconforto em Hyakkimaru. Ele passou o resto do dia pescando sozinho nas margens do lago pardo que encontramos em nossa viagem. Realmente, aquilo era deveras estranho, uma maldição, muitas coisas pra processar. Pergunto a mim mesma se um dia tanto eu como ele poderemos voltar a ser como antes.

A Flor de LótusOnde histórias criam vida. Descubra agora