come and take a walk on the wild side

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fobia s.f

1. Receio patológico persistente.


— É algo bem simples. — Diz.

Os cabelos castanhos de Caio brilhavam com a luz laranja avermelhada do fogo que trepidava em direção ao céu quase totalmente escuro.

Já se passavam das oito horas e sentados em volta da fogueira eles apenas jogavam conversas fora, que dali dois ou três dias não lembrariam mais. Mesmo assim era bom.

Aquecia por dentro e por fora.

— Mas não tem nenhum risco? — Ohana mastiga alguns marshmallows parcialmente derretidos, Larissa sentada entre suas pernas. — Sabe, de perda total de memória ou algo do tipo?

— Não! — Ele dá de ombros soprando ar de uma forma sarcástica. — Bom, quase cem por cento que não.

Os pais de Caio eram cientistas. Daqueles que passam horas em laboratórios com ratos cobaias, usam seus jalecos e óculos fundo de garrafa. Era um contraste gigantes com o filho alto e de porte atlético, aquele tipo de garoto que você jura que seria o quarterback do time de futebol do colégio.

*Quarterback (QB) é uma posição do futebol americano. Jogadores de tal posição são membros da equipe ofensiva do time. Membro principal do time.

Fora o filho, talvez, geneticamente modificado, os pais de Caio trabalhavam fazia anos em um projeto de "Memórias Lúcidas". O nome não tem nada a ver com o projeto, que ajuda pessoas a apagarem memórias específicas de sua mente.

— Se eu pudesse eu esqueceria o colegial. — Bruna murmura, fixa na fogueira. — Sabe como é... todas aquelas garotas artificiais com bundas e peitos mais durinhos do que os de uma Barbie.

Ohana ri, mesmo que mais entretida em afagar o cabelo de Larissa.

— Não é nada finalizado ainda. — Caio continua, cutucando alguns galhos no fogo. — Mas os resultados estão sendo promissores.

Larissa aparentemente é a única verdadeiramente entretida no assunto de Caio.

— Eu esqueceria uma pessoa. — Bárbara diz em uma voz carregada de escárnio, lançando olhares raivosos para Ohana.

Caio ri mais uma vez, não percebendo o clima entre as outras garotas.

— Mas como isso é possível? — Ajeita-se no colo de Ohana antes de continuar. — É realmente possível alguém entrar na minha cabeça, hipoteticamente falando, e apagar algum momento ruim, ou até mesmo uma pessoa? — Discretamente sua voz é carregada de esperança. — Hipoteticamente falando. — Reforça.
— Existe algo rolando dentro da sua cabeça que se chama sinal neural. — Caio explica. — Os cientistas costumam dizer que é como ter uma estação de rádio no cérebro. — O fogo crepita quando ele joga mais um galho nas chamas. — Imagine uma estação de rádio que manda sinais todo instante, para todo lado, quando você pensa, bum, lá se vai mais uma mensagem. Cada memória é como uma música nessa rádio, ou um noticiário, enfim, com a tecnologia certa você pode captar as vibrações. — Maneia com a mão. — Uma grade de eletrodos são responsáveis para captar essas transmissões do seu rádio, e até mesmo cortar as ondas cerebrais que seus neurônios, carregados de memória conduzem para fora da sua cabeça em forma de ondas cerebrais. Dando fim assim à sua memória. — Sorri com seus lábios finos.


Bruna suspira uma exclamação.

— Que doideira.

— Tudo conto de fadas. — Bárbara zomba e se levanta. — Vou me deitar. — Caminha até a sua barraca.

Larissa pisca algumas vezes. Pensando o quão maravilhoso seria não ter mais aquelas lembranças horríveis.

— Vocês já fazem testes ou coisas do tipo?

Caio não desconfia da curiosidade de Larissa, na verdade ninguém desconfia, pois sua casca é tão de garota doce que viveu longos anos em uma casa a beira mar em Miami, com uma família amorosa de pais gentis e irmãos briguentos. Esse tipo de vida que a casca de Larissa transparecia.

colors • OhanittaOnde histórias criam vida. Descubra agora