assoalho s.m
1. Pavimento, normalmente, de madeira.
— O processo é bem complicado... — A mulher emendou, os olhos vidrados enquanto habilmente folheava toda aquela papelada em suas mãos.— Como pode ser complicado? — Renan rosnou, seu corpo inclinado sobre a mesa de madeira da área externa de sua casa. — Eu passei anos da minha vida vendo minha irmã sofrer abusos de pais que nem eram pais!
A advogada suspirou e ajeitou os óculos de aros finos. De certa forma ela entendia a angústia de seu cliente, era acostumada com esse tipo de processo.— Renan, nós não temos provas contra eles! — Repetiu, tentando acalma-lo. — Você pode dar seu depoimento, mas de qualquer forma, nós precisaríamos de Larissa, ela é a única que pode provar o que aqueles dois fizeram.
Renan suspirou. Afundou as mãos em seu rosto, encostando as costas na cadeira de madeira trançada.— Mas e Manuela?
— Manuela é muito pequena, e pelo o que a psicóloga me informou ela não tem nenhum trauma quanto aos dois que a criaram, eles aparentemente supriram todas as necessidades dela. — Mordeu o lábio. — Sem contar que a condição de Manuela influencia na personalidade dela.
Renan estava exausto. Procurava de qualquer forma algum meio de incriminar seus pais adotivos. Mal dormia e pouco comia. Trabalhava e se empenhava em suas buscas por Larissa.— Obrigada de qualquer forma, Alline... Eu tenho que voltar para o trabalho agora. — Checou o horário em seu relógio de pulso.
— Tudo bem, continue procurando Larissa e tente não enlouquecer. — Arrumou os papéis em uma pasta de couro e se levantou, ajeitando os cabelos louros curtos.Renan apenas sorriu. Um sorriso cansado.
(...)
Manuela batucava os dedos na colcha da cama, o livro fechado e finalizado em seu colo.Mais um aquela semana. Agradecia o fato de que Jeni, a esposa de Renan, tinha um bom acervo de livros.
Era fato que a mulher tinha sua nacionalidade italiana, e que os livros de fato eram em italiano. Mas Manuela aprendeu o idioma em poucas semanas com aulas particulares com a mulher.
Manuela tinha a facilidade extrema de aprender e decorar coisas novas. Poderia muito bem ditar todos os países e capitais do mundo, tudo por ter visto uma vez um atlas completo e ter decorado.
Ela era super dotada, uma criança prodígio, e descobriu isso apenas quando teve suas sessões com a psicóloga que Renan a levara.Gostava de sua nova vida. Alimentam-se melhor, tinha um jardim melhor para brincar e bons livros. Sem contar que agora realmente se sentia em um ambiente familiar.
Levantou-se da cama, deixando o livro sobre a cama fofa. Checou se tinha alguém em casa, mas apenas encontrou o corredor vazio, Renan havia ido trabalhar e Jeni provavelmente foi ao mercado como sempre fazia a cada dois dias.Voltou para o quarto e fechou a porta com chave, sorrateiramente se esgueirou para dentro do pequeno armário embutido na parede. Havia feito um pequeno esconderijo ali, em um pedaço do assoalho que se soltava. Ela guardava um pequeno caderno preto de folhas gastas e amareladas. Junto com algumas fotos igualmente gastas.
No mês passado, Renan havia ido até a casa onde ela vivia, para pegar suas coisas, Manuela o acompanhou, insistindo que ele não saberia pegar todas as suas coisas.
Manuela tinha os seus segredos. E ela gostava de os ter.Quando Larissa foi embora alguns anos atrás, ela deixou poucas coisas para trás. Algumas fotos, uma muda de roupas e esse pequeno caderno preto.
Manuela gostava de o ler, eram pensamentos e rabiscos de Larissa.
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colors • Ohanitta
Hayran KurguLarissa nasceu sem suas cores. Tudo o que enxergava, literalmente, era apenas o preto e o branco. todos os direitos e créditos: © cannabiscabello