capítulo quatro - Alice

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E foi tudo como planejava. Conheci a diretora da escola,  a Karina. Uma simpática senhora de meia idade que me recebeu de braços abertos. Voltei para a capital e resolvi tudo o que eu tinha pra resolver, 3 dias depois estava de volta a plenitude dessa vez pra ficar. Faltava só uns dias para as aulas começarem, eu estava aflita me sentindo como no primeiro ano que iria ensinar. Pra mim era como fosse, era meu primeiro ano em plenitude.

O primeiro dia de aula começou. Tentei esquecer toda a tristeza que passei nas últimas duas semanas e tentei focar no futuro. Nos meus alunos. Entrei na sala animada pela primeira vez nos últimos dias. Apesar de ser uma cidade pequena, a plenitude estava se modernizando. A escola já não era como eu lembrava quando fui aluna ali. Estava mais moderna. Fiquei feliz, alguma coisa boa a família Andrade fez afinal.

No decorrer da semana percebi que tinha um aluno que estava um pouco perdido ainda, parecia triste, estava sempre só. Era um menino lindo, com a pele clara, olhos verdes e cabelos loiros escuros. Seu nome era Miguel. Pensei que fosse por causa dos primeiros dias de aluna que deixam qualquer aluno com frio na barriga, eu mesma já passei por isso tantas vezes. Então, tentei fazer ele relaxar o máximo que pude, mas, depois de um mês de aula, percebi que meus esforços não estavam sendo o suficiente. 

Naquele dia, depois que as aulas acabaram, resolvi conversar com a diretora sobre o Miguel. Fui até sua sala, bati duas vezes na porta e entrei. Ela me recebeu com um sorriso simpático no rosto, me sentei á sua frente e ela falou.

-No que posso te ajudar professora Alice?
-Preciso de ajuda com um aluno.
-Se eu puder  lhe  ajudarei sim. Quem é o aluno e o que acontece?!
-É Miguel. - falei sem rodeios.
-Hum…
-Desde que as aulas começaram ele não tem se adaptado…

Conto para Karina como tem sido o comportamento de Miguel desde o início das aulas, e como isso tem prejudicado suas notas.  Ela me escuta atentamente e depois que termino ela me observa por mais alguns instantes e fala:

-Professora Alice, tem algumas coisas sobre o Miguel que você não sabe… ele perdeu o avô paterno há 3 anos,e um ano depois perdeu a mãe. Ele não morava aqui, morava na capital com os pais. Mas, depois da morte do avô, o pai teve que voltar para cá, ele continuou na capital com a mãe. Mas depois ela faleceu num acidente de carro. Ele continuou morando na capital com os avós maternos, mas o avô descobriu que estava com câncer, e para evitar que o menino visse os efeitos colaterais que o tratamento iria lhe causar, o pai o trouxe para mostrar com ele. chegou ainda nas férias. Não tem amigos, é um garoto bastante sozinho. Ele está fazendo um tratamento com psicólogo, agora é só esperar um pouco.

-Eu gostaria de conversar com o pai dele. - ela faz uma cara de surpresa mais depois relaxa.
-Tudo bem. - abriu uma gaveta da mesa e pegou um cartão e me deu. Ao pegar o cartão vi que o nome no cartão era familiar. " Construtora Andrade". Após alguns segundos pensando a ficha caiu. - ele é neto do dr. João Andrade?!
-Sim.

Não digo nada, saio da sala com o cartão nas mãos, entro no meu carro e vou para casa. Ao contrário do hospital, a escola ficava um pouco mais afastada do centro da cidade. Eu já tinha meu carro em São Paulo então quando voltei pra plenitude  vim dirigindo. A cidade estava bem desenvolvida, parecia até maior do que há 12 anos atrás quando saí.

Cheguei em casa, tomei  banho e fui almoçar. Não conseguia parar de pensar no Miguel. Depois que almocei, me sentei no sofá e com o cartão nas mãos, liguei. Após dois toque atenderam

-Construtora Andrade, boa tarde.
-Boa tarde. Gostaria de falar com o Dr. Andrade.
-Quem gostaria?
-Me chamo Aline, sou professora do filho dele, Miguel.
-Só um minuto. - após algum tempo ela retornou. - vou transferir a ligação senhora.
-Obrigada.
-Alô. - ouvi uma voz masculina ao fundo.
-Boa tarde Dr. Andrade. Sou professora do seu filho…
-Sim professora, pode falar. - falou me interrompendo. Fiquei um pouco sem graça com tanta falta de empatia.
-Gostaria de conversar com o Sr. Sobre o seu filho. O Sr. Pode vir a escola amanhã? - ouço um silêncio e me pergunto se ele ainda está na linha.
-Ir até a escola eu não posso. Mas a senhora pode vir até mim. - que arrogante pensei. Como vi que se eu quisesse falar com ele teria que ir até ele, concordei.
-Tudo bem Sr.
-Ótimo. Agende um horário com a minha secretária. - e antes que eu pudesse responder a ligação ficou muda e após alguns segundos a secretária falou.
-Senhora, tenho um horário disponível amanhã às 15:00 horas.
-Está bem. Obrigada. - desligo.

A Professora Do Meu FilhoOnde histórias criam vida. Descubra agora