capítulo cinco- André

1.6K 147 4
                                    

Eu tinha tido um dia cheio. Na verdade, uma semana cheia. Tinha a inauguração da boate que construí na cidade que seria em 1 mês, e também o projeto da nova biblioteca da cidade que o prefeito não me deixava em paz para terminar  logo. E ainda tinha a tal professora do meu filho que queria conversar comigo. Realmente, aquele não era o meu dia.

Acabei fazendo ela esperar por uma hora pra ser atendida, tinha esquecido que ela estava me esperando, estava avaliando um projeto na praça de uma cidade do Rio de janeiro. A esqueci completamente.

Mas lá estava eu. Esperando ela entrar. Sentado atrás da minha mesa. E quando ela entrou, se não estivesse sentado tinha caído. Ao contrário do que eu esperava, a professora era uma mulher jovem, bem vestida e muito bonita. Me levantei sem palavras e ela me cumprimentou.

O Dr. Andrade, prazer em conhecê- lo. -disse esticando sua mão.
O prazer é meu professora. - falei e só depois estiquei a mão pra ela.

Sua pele era macia, sua mão parecia seda. Sem falar no  cheiro de rosas que vinha dela, perfurou todo o ambiente. A olhei fundo nos olhos e só soltei sua mão quando percebi que ela estava ficando constrangida.

Desde que Eduarda, minha falecida esposa se foi, eu nunca tive olhos para outra mulher, até aquela tarde ensolarada. Era estranho voltar a sentir atração por alguém. Desde que meu pai faleceu, minha vida era só trabalho. E com a morte de Eduarda, mergulhei ainda mais no trabalho. Estava viúvo há 2 anos, tive alguns casos passageiros, mas nunca havia sentido uma atração tão forte quanto aquela. Nem por Eduarda senti algo assim.

Eu e Eduarda éramos um casal desde sempre. Namorávamos desde do ginásio. Nos conhecíamos desde a infância. Sempre estávamos juntos. Então assumir que éramos um casal não foi novidade para ninguém.

Após alguns segundos em silêncio, eu quebrei o gelo.

No que posso ajuda-la  professora. - falei tentando não mostrar que ela me atraia.
Como o Sr. Já sabe, o que me trouxe aqui foi o Miguel. Ele está tendo dificuldades desde os primeiros dias de aula. Tem problemas para se relacionar com os colegas, é muito tímido e o que mais me deixa preocupada são as suas notas nas atividades. Vejo que ele tem algumas dificuldades. - falou finalizando.
E o que a senhora sugere? - perguntei olhando fundo nos olhos.
Miguel precisa de algumas aulas de reforço.
Entendo…
Se o Sr. Quiser, minha prima é bibliotecária, ela pode dar aulas de reforço.
Outra estranha?- falei não concordando com a sua  sugestão.
Não entendi Sr. - ela falou.
Realmente, Miguel é muito tímido, piorou depois de algumas perdas que tivemos na nossa família. Acredito que uma estranha não ajudaria muito… mas a senhora não é uma estranha para ele. - falei. - a senhora poderia dar as aulas? - ela ficou um pouco confusa, depois de alguns instantes de silêncio ela respondeu.
Tudo bem dr. Andrade.
Ótimo. Peça para a minha secretária lhe passar o número da babá do Miguel e converse com ela sobre as aulas, ela cuidará de tudo. - falei me levantando da cadeira. Ela percebeu o que eu queria indicar e se levantou também, apertou minha mão novamente, se despediu.

Ao vê- la de costas sair da minha sala vi que ela não era bonita só de frente mais por trás também. Rapidamente desviei esses pensamentos e voltei a focar no trabalho.

***Alice ****

Saí do prédio um pouco atordoada com o que tinha acontecido. Não pela sugestão que o pai de Miguel deu sobre as aulas de reforço, mas sim, porque vi claramente em seus olhos que estava me olhando de um jeito diferente. Não. Só poderia ser coisa da minha cabeça. Tentei afastar esses pensamentos e caminhei para casa.

No final da tarde, enquanto terminava de vestir meu pijama depois de um bom e demorado banho, ouço a campainha tocar. Com certeza era a minha prima, ela e a minha tia eram as únicas que vinham me ver. Como minha  tia estava quase sempre de plantão, imaginei que fosse Rebeca. Por mais que trabalhasse na escola, fiz algumas amizades com outros professores, mas era o tipo de amizade que ficava na escola. Alguns moravam em plenitude mesmo, outros nas cidades vizinhas. Abri a porta e lá estava ela, minha prima estava com uma panela na mão coberta por um pano de prato, ao descobrir a panela vi que era brigadeiro de panela. Me afastei da porta e ela entrou. Fechei a porta, ela se sentou no sofá e fui até a cozinha pegar duas colheres. Me sentei com ela no sofá e começamos a comer brigadeiro. Até que ela não se aguentou de curiosidade e falou.

Acaba com esse suspense e me conta como foi a reunião com o Andrade.

Contei para ela  tudo o que havia acontecido, tirando é claro, a parte em que eu pensava que ele estava me olhando até demais.

Nossa prima. Que pena que ele não aceitou que eu desse aula pro filho dele. Meu sonho é conhecer o casarão dos Andrades.
Você nunca foi lá? - perguntei um pouco curiosa.
Não. Daqui da cidade poucos foram lá. Eles sempre foram muito reservados. Nossas mães já foram lá quando o dr. João ainda era vivo, ele tinha pressão alta, então elas iam lá às vezes para medir a pressão. Por mais que eu pedisse, minha mãe nunca me levou com ela… mas agora você tem a oportunidade de ir, e quando achar uma brecha me leva. Ouvi dizer que é lindo lá, parece casarão de novela. Com um lindo jardim que tem até uma fonte, na frente da casa e nos fundos uma piscina enorme e mais ao fundo um heliponto, eles têm helicóptero para viajar. Às vezes, quando eles vão viajar vemos o helicóptero passar. - disse parecendo sonhar acordada.

Enquanto ela dizia isso olhando para a frente onde ficava a tv, vi que uma barata estava andando por cima da cabeça dela.

Prima? - disse eu.
Hum.. - falou ainda presa nos seus pensamentos.
Não se mexa.
Por que? - perguntou virando a cabeça pra me olhar.
Não se mexa… tem uma barata na sua cabeça.

E ao ouvir isso, Rebeca fez tudo ao contrário. Largou a panela de brigadeiro em cima do sofá  que segurava, se levantou e começou a se debater e bater as mãos na cabeça na esperança de afastar a barata. Eu tentei ajudar mais ela se debatia e gritava tanto que não consegui. Depois, só vi a barata caindo no chão e saindo em direção a cozinha e sumir.

Prima calma a barata já saiu. Calma.  - Ao ouvir minhas palavras ela se tranquilizou  e foi se acalmando e sentou no sofá. Eu sentei ao seu lado pegando a panela de brigadeiro e as colheres. De repente, ri. Ria alto e com vontade, como se nunca tivesse rido antes. Rebeca ao me ver rindo também não aguentou, e lá estávamos parecendo duas doidas rindo sem parar.

Depois de alguns minutos fomos nos acalmando, até que paramos de rir. Meus olhos estavam lacrimejando de tanto rir. Até que fiquei séria e olhando pra frente como se estivesse vendo alguma coisa que prendesse a minha atenção falei:

É a primeira vez que riu depois que meus pais se foram. - após alguns instantes de silêncio Rebeca fala.
Eu percebi. Você riu como se não  tivesse rido a vida toda… que bom que te fiz rir. - falou me abraçando.

Realmente, rir é sem dúvidas o melhor remédio. E depois da cena da barata percebi que meu bom humor voltava aos poucos. Fui me abrindo mais às pessoas, e voltei a sorrir mais vezes.

A Professora Do Meu FilhoOnde histórias criam vida. Descubra agora