eu, ela e a nossa tarde

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A primeira coisa que vi ao abrir meus olhos foram os de Jungkook. Não era a primeira vez e nem seria a última, mas me surpreendi do mesmo jeito.

Ele estava deitado de lado, me olhando como se eu fosse extremamente interessante, com o rosto apoiado na mão sobre o travesseiro. Mesmo vendo que eu estava acordado, seu olhar não hesitou por um instante sequer. Em vez de se envergonhar pelo flagrante, o canto dos seus lábios subiu e suas pálpebras flutuaram preguiçosamente para baixo.

— Oi — eu disse.

Um sorriso inteiro iluminou seu semblante, a ponto de os olhos diminuírem de tamanho e ficarem espremidos pelas maçãs do rosto.

— Bom dia, flor do dia — retrucou. — Estava tendo bons sonhos?

— Hum. — Vasculhei minha memória. Havia resquícios de um sonho recente, um dos vários que eu costumava ter toda noite, mas os detalhes ficaram menos nítidos conforme eu tentava resgatá-los. — Acho que estava. Não lembro para onde fui nesta noite.

Eu imitava sua posição, deitado de lado no colchão, com um braço dobrado na frente da barriga, na curva do quadril, e o outro próximo ao queixo. Jungkook me examinou por um instante e levou a mão até meu ombro descoberto.

— Deve ter ido a um lugar feliz — comentou distraidamente. Seus dedos desenharam em minha pele padrões que pareciam ser círculos, mas poderiam ser outra coisa, quem sabe meu próprio nome. — Já faz algumas horas que você está sorrindo. Pensei que estivesse acordado. Fiquei curioso para saber o que foi capaz de te deixar tão... em paz.

— Talvez fosse só o cansaço. — Dei de ombros. — Demorei a pegar no sono ontem.

Depois do encontro, dirigimos pela cidade e paramos em uma sorveteria. Íamos nos sentar para comer, mas o dia tinha sido longo e minha mãe estava sozinha desde o início da tarde. Acabamos pegando um pote de sorvete e um saco de casquinhas para a viagem antes de ir para casa. Aquela foi a nossa janta: sorvete de flocos, chocolate e creme no sofá com a televisão ligada no canal de uma novela de qualidade duvidosa. Não era bem o meu estilo, mas meus dois acompanhantes pareciam entretidos pela atuação pobre, então nada comentei.

Fomos nos deitar cedo. Quando saí do banho, vesti um pijama e caí na cama, eram onze horas, e os bocejos indicavam que eu apagaria com o interruptor da lâmpada. Porém, Jungkook chegou, desligou a luz, se deitou ao meu lado, adormeceu e nada de eu conseguir pregar o olho. Eu me ajeitava em uma posição, então ela ficava desconfortável e eu me virava, e foi assim pelo que pareceu a noite inteira. Na próxima vez que acendi o visor do celular, passava das três horas.

Em algum momento, a consciência finalmente me deixou e mergulhei em um sonho fragmentado. Meus sonhos normalmente pareciam ser um só durante a noite inteira, mas eu percebia pela manhã que eram histórias diferentes sem ligação aparente. Por mais absurdos e desconexos que fossem, eu nunca lembrava deles por muito tempo, e era questão de minutos até virarem um borrão na minha mente.

Um trecho da fala de Jungkook ecoou nos meus ouvidos.

— Está acordado há quanto tempo? — perguntei.

Seu olhar navegou pelo teto e pela parede atrás de mim.

— Alguns minutos, talvez horas. Não sei, não olhei o relógio.

— Por que não me acordou?

— Como disse, você estava bem daquele jeito. Não quis te tirar do mundo dos sonhos.

Uma parte de mim ainda achava estranho ele me observar enquanto eu dormia, mas a outra foi tomada por ternura por ele não ter me despertado. Eu teria ficado amargo por conta do sono mal dormido e provavelmente teria reclamado, o que não queria fazer.

eu, meu ex e minha mãe × jk+jmOnde histórias criam vida. Descubra agora