É incrível como o tempo passa quando se está aproveitando o que a vida lhe proporciona. Parece que com os melhores momentos um botão de dobrar a velocidade é pressionado, e tudo o que você quer é viver um dia após o outro. Simultaneamente, é extremamente injusto como funciona nossa percepção de tempo. Não deveria ser o contrário, com os momentos desagradáveis passando na velocidade da luz e os bons, o mais lentamente possível, para que possamos aproveitar?
Eu não podia negar que estava vivendo um sonho, do tipo que eu não sabia precisar até se concretizar. Alguns dias antes, se a ideia me ocorresse, eu a descartaria em um piscar de olhos. A vida doméstica dificilmente poderia ser caracterizada como ideal para mim, contrastante com as luzes coloridas, a música alta e os drinques das boates agitadas que eu frequentava. Na época, estava bom para mim daquele jeito, sem compromissos. Era tranquilizador não buscar uma relação a longo prazo nos rostos desconhecidos que cruzavam meu caminho, focar apenas em aproveitar o momento sem expectativas, pois aquilo significaria mais chances de sair ferido.
Pelo meu histórico, já havia me machucado o bastante.
Se antes estávamos melosos, forçando uma relação perfeita, agora era como se a vivêssemos de fato. A última vez que me sentira assim, um garoto bobo e apaixonado, fora na adolescência. Meu humor estava ótimo, e eu, embora não tentasse evitar, sabia que estava soltando muito mais risadinhas do que o necessário, fazendo mais uso dos músculos que erguiam os cantos dos meus lábios. Confesso, me sentia até mais receptivo. Estatisticamente falando, a frequência com que me irritava ou cogitava jogar tudo para o alto diminuiu drasticamente, desceu a ladeira. Daria um gráfico impressionante que Jungkook adoraria desenvolver — ou não, sei lá como funciona a mente dessas pessoas de exatas. Ele até desistiu dos números, o que faz muito sentido, levando em consideração que eu teria pulado fora no primeiro dia da faculdade.
Simplificando, estávamos insuportáveis. Havia mais contato físico do que o necessário, sem dúvidas, e eu adorava cada momento. Jungkook nunca falhava em esquentar meu coração com pequenos atos, sempre me deixando bobo por horas, com direito a bochechas quentes e tudo. Eu sei, era uma vergonha. Em minha defesa, não é possível compreender o Efeito Jungkook até senti-lo, e ele deixa danos tremendos no seu emocional.
O cara era um pecado. Ele sabia me atingir e me deixar entregue, conhecia de cabeça todos meus pontos fracos e não hesitava em atingi-los com tudo. Quando tinha a chance, se aproximava silenciosamente de modo que eu só percebia sua presença quando seus braços estavam ao meu redor e seu queixo, apoiado no meu ombro, me prendendo contra si. Como se minhas pernas não ficassem bambas o bastante, ele colava os lábios no meu pescoço e deixava selares demorados. Outras vezes, me chamava e, quando eu virava o rosto, me beijava na boca.
Eu me considerava durão, sim, mas isso tudo me fez querer marcar uma consulta no cardiologista para ver como as coisas estavam por ali. Queria estar preparado para o infarto — que, pelas reações involuntárias do meu corpo, eu não demoraria a ter.
O caixão quase desceu alguns dias atrás, quando eu e Jungkook estávamos sentados no pátio do condomínio. Na parte de trás, perto da garagem, havia algumas mesas de madeira espalhadas pelo gramado, com guarda-sóis fincados em uma abertura no meio. Eu não estava acostumado a passar muito tempo do lado de fora das paredes minhas por direito (ok, da minha mãe), mas não pude recusar o convite de Jungkook quando, em outra tarde quente como o inferno, a luz caiu. Até tentamos abrir as portas e janelas, mas não tinha vento algum. Juro, nem o menor arzinho. Nossas respirações pareciam sair como fumaça, apontando que estávamos a um passo da combustão espontânea.
Foi lindo. Como se fôssemos à praia, colocamos nossas roupas mais veraneias, coloridas e curtas, pegamos nossos óculos de sol e marchamos pelo elevador (que mais parecia um forno). Quem nos visse acharia que éramos loucos, sem dúvidas: nós dois de bermuda e regata — ele com uma listrada, e eu, toda branca, que nem gente —, com uma caixa térmica e um baralho espanhol em mãos e toalhas de banho ao redor do pescoço, e mamãe de vestidinho e chinelos, segurando sua bolsa, não sei pra quê.
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eu, meu ex e minha mãe × jk+jm
FanfictionA gente tinha terminado. Eu aceitava isso, ele aceitava isso, todos aceitavam isso. Só havia uma pessoa que não parecia disposta a perder o genro de ouro tão cedo, e foi essa mesma pessoa que me fez cometer a maior loucura da minha vida: chamar o me...