eu e a boca grande da minha mãe

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Para quem ficou sem falar com Jeon Jungkook por onze meses, aquela semana foi mais tortuosa que o esperado. Talvez pelo fato de que mesmo dividindo o apartamento e o quarto, ainda estávamos distantes. 

Desde o dia em que me tratou de forma rude sem motivo, ele sequer me dirigiu a palavra. Passou a não reclamar quando eu lhe pedia favores, simplesmente os realizando de bico fechado. Diante da minha mãe, se limitava a rir das suas brincadeiras e balançar a cabeça. Se ela estranhava seu silêncio e perguntava o motivo, eu intervinha e dava uma desculpa. Com o passar dos dias, fiquei craque. 

— Por que está tão quieto, querido? — minha mãe perguntava.

Eu, mais ligeiro que o Kid Flash, tomava a palavra:

— Ele estava se queixando de irritação na garganta essa noite, deve ser isso. 

Ou:

— É dor de dente, tadinho.

Jungkook nem esboçava reação.

Mesmo fugindo de mim, eu ainda o pegava me fitando. Eram contatos rápidos, sempre interrompidos quando ele percebia ter sido notado. Não eram olhares de raiva, de amargura, eram de outra coisa… que eu não sabia. 

Lá no fundo, eu me sentia angustiado. Não conseguir lê-lo, tê-lo tão retraído e calado me causava incômodo. Ainda havia mágoa, mas ela não era gritante a ponto de silenciar a preocupação. As duas sabiam coexistir.

As coisas com Hoseok estavam seguindo para o mesmo buraco. Além de não o encontrar mais nas boates, até porque eu tinha parado de as frequentar, nos falávamos cada vez menos, tanto por ele não ousar ir lá em casa e respirar o mesmo ar que Jeon Jungkook quanto por estar sempre ocupado. Se eu ligava e o chamava para tomar sorvete ou algo assim, ele se desculpava e me dava um belo não, sempre pelo mesmo motivo.

— Foi mal, mas eu já marquei com o Tae. Fica para a próxima, sim?

Essa tal próxima nunca chegava. Sem que eu percebesse, ela se tornava ‘a próxima’ outra vez. Com isso, mal nos restava as mensagens e ligações. Não vou mentir, eu me sentia trocado, mas não conseguia culpá-lo. Hoseok tinha sido solitário por tempo demais, merecia alguém ao seu lado, o fazendo feliz, e eu, como seu melhor amigo, o apoiaria, independente de quem fosse. 

Dona Somi… Ah, dona Somi estava impossível. Se já não bastava reclamar do meu piso, que ela julgava encardido, a mulher opinava em absolutamente tudo. Sabem aquela tia chata que chega na sua casa e questiona mil coisas? “Por que isso está aqui?”, “Tem que lavar essa fronha, não acha?”, “Você anda meio relaxado ultimamente”, “Que bagunça está este quarto!”, entre outros, muitos outros. Em alguns momentos, eu me sentia mal por desejar que ela pegasse um avião e voasse de volta para o seu personal trainer, já que sabia que era um pensamento momentâneo. Em outros, com a cabeça no lugar, via que ela apenas queria meu bem. Deve ser coisa de mãe. Se preocupar, digo. 

 Naquela tarde, após terminarmos o almoço, Jungkook se ofereceu para lavar a louça. Minha mãe não quis deixar, pediu para que deixasse para lá, mas ele insistiu, encerrando a discussão ao recolher os pratos e se direcionar para a cozinha.

Eu, por outro lado, apenas crispei os lábios como quem diz “fazer o que, né?” e rumei para meu quarto. Já conseguia visualizar minha cama quentinha, meu ar condicionado ligado, bem geladinho, meus travesseiros, bem gordinhos, me esperando, sorridentes, minha conta da Netflix…

Mas não cheguei até eles. Na verdade, não cheguei nem ao corredor que levava para os quartos e o banheiro. 

— Aonde vai? 

Parei, respirei fundo, sorri e me virei para trás, encontrando minha mãe sentada, de braços cruzados e olhar julgador. 

— Para o quarto — respondi. 

eu, meu ex e minha mãe × jk+jmOnde histórias criam vida. Descubra agora