Eu estava trancada em casa apavorada. Já fazia três dias desde o incidente, minha família havia sumido, já não tinha mais esperanças de encontra-los de qualquer forma. O mundo parecia ter escurecido um pouco, era isso ou as pilhas de coisas em frente às portas e janelas estava diminuindo a passagem de luz. Tudo estava um tremendo caos. Não tinha energia, não tinha água, não tinha internet, e nem outro qualquer serviço básico. Meu gato já não aguentava mais ficar trancafiado comigo, mas era perigoso demais sair. Fui até a cozinha para preparar uma refeição qualquer, antes de começar algo balancei o botijão de gás, apenas para constatar que uma quantidade pequena, provavelmente insuficiente de gás havia sobrado. Peguei o macarrão instantâneo e joguei o tempero fora, assim subi com a massa crua para o meu quarto e comecei a comer, olhando pela fresta de coisas empilhadas a frente da janela percebi que o pôr do sol já estava começando, e apenas um pouco de vela derretida havia sobrado sobre o candelabro improvisado acima da minha bancada. Me recostei na cama com meu gato no meu colo. Tudo aquilo parecia surreal demais, um dia eu estava vivendo minha vida normalmente, no outro todos havia se tornado monstros violentos, além das pilhas de corpos que se estendiam pelas ruas, e no meio de todo esse caos eu ainda estava bem, sobrevivendo pelo instinto natural. Ouvi um barulho na janela, eu estava no segundo andar de casa talvez fosse apenas o vento... Ou talvez alguém precisando de ajuda. Tirei Jiji do meu colo e com cuidado espiei pela fresta: não havia nada no telhado apenas uma pedrinha, provavelmente a que atingiu a janela há segundos atrás. Movi mais um pouco as coisas na pilha e consegui abrir a janela, me debrucei e vi meu vizinho e também amigo Lee Minho. Eu não podia fazer barulho, qualquer sinal de vida aquelas coisas atacavam, Minho também parecia saber, ele estava com duas grandes mochilas de mãos e uma bolsa de costas, ele apontou para a porta dos fundos da minha casa e corri para abrir, o sol já havia sumido quase totalmente, apenas o horizonte num tom de laranja escuro iluminava o dia. Com cuidado removi peça por peça da pilha atrás da porta, olhei pela janelinha e o garoto parecia apreensivo olhando em todas as direções, destranquei a porta e abri, o garoto entrou rápido em silêncio e me ajudou a colocar as coisas de volta atrás da porta. Por fim Minho me olhou e em um ato inesperado me abraçou.
-É tão bom ver alguém que eu conheço bem. -Ele cochichou ainda me abraçando. Ele se abaixou e abriu uma das bolsas grandes, e Sooni, Doongi e Dori saíram para se esticar um pouco. -O que houve com a sua família? -Ele me olhava com medo nos olhos.
-De verdade eu não sei, nenhum deles estava em casa, minha mãe tinha ido ao mercado, meu pai estava no trabalho e meu irmão na escola. -Fiz uma pausa suspirando. -Não tenho esperanças de que tenham sobrevivido, e com a sua?
-Meu pai também estava no trabalho, e minha mãe na aula de pilates. -Ele abaixou o olhar para Jiji que estava brincando com Dori no chão. -Não sei o que pode ter acontecido com eles, mas de qualquer forma ainda temos eles. -Ele sorriu de lado olhando para os gatinhos e em seguida pegando Sooni no colo.
Um barulho alto soou na rua e como instinto nos abaixamos, Minho puxou uma faca de dentro do bolso da calça e se colocou a minha frente. Aos pouco ele engatinhou até a janela da sala e com os olhos arregalados fez sinal para que eu continuasse onde estava, até mesmo os gatos estavam parados sem mover um músculo se quer. Após o que pareceu uns 10 minutos Minho retornou ainda abaixado para próximo de mim.
-Um grupo de 5 ou 6 deles estava passando, derrubaram algumas latas por isso o barulho. -Por fim o garoto se deixou relaxar um pouco e se sentou no chão, também me sentei.
-Como você soube que eu estava aqui? -Agora Jiji estava acomodado no meu colo e eu acariciava seu pelo. Minho deixou a cabeça pender para o lado enquanto olhava para cima, sorri pois aquele ato era algo tão típico dele.
-A janela do seu quarto fica de frente para a minha, vi você se mexendo por trás do armário. -Ele então me olhou simplesmente.
-E como você sabia que eu não tinha me tornado uma dessas coisas? -Falei apontando o dedo para a janela da sala, ele ergueu os ombros.