Eu podia sentir o metal frio contra a minha garganta em contraste com a sensação de queimação do corte recém aberto, pequenos tremores tomavam conta de mim e pequenas gotas de suor começavam a escorrer pelo meu rosto. Eu não tinha o que fazer, estava presa, e provavelmente muito próxima da minha morte. Meu captor me segurava com força, minhas mãos, braços e pernas estavam amarrados, tornando qualquer tentativa de fuga praticamente impossível.
-Você sempre pareceu tão forte, tão imponente, mas veja só, mesmo você querendo esconder seu medo seu corpo fala por você. -Ele retirou a ponta da faca do meu pescoço, apenas para secar uma gota de suor com as costas da lâmina. Vi de relance seu rosto, completamente escondido, usava um pano que cobria sua boca e seu nariz, deixando apenas os olhos visíveis, ele utilizava um chapéu também, não saberia dizer quem era. Ele olhou no relógio. -Sabe nunca pensei que esse momento chegaria, que o destino finalmente acabaria... -Ouvimos tiros ao longe e então o silêncio retornou, soltei o pano que cobria minha boca e perguntei a ele:
-Como acabaria? -Ele soltou o pano que cobria seu rosto e então pude o reconhecer, o garoto que fazia parte da minha turma de contabilidade, aquilo era inacreditável. Ele sorriu e então andou novamente até mim, voltando a repousar a lâmina sobre meu pescoço.
-Acaba assim, do jeito que deveria acabar. -Apenas fechei os olhos e esperei pelo fim.
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-Eu estou com medo sobre como isso está escalando, semana passada foi um bilhete, terça-feira uma folha do meu diário e hoje uma presilha minha, esse cara com toda certeza está muito perto. -A garota tinha um semblante cansado no rosto, há dias já não dormia tão bem, a preocupação a consumindo por dentro. -Eu sei o que o que o capitão Bang diz pra você, mas eu 'tô apavorada Han. -O namorado também parecia cansado a essa altura, tinha medo pela segurança da menina que amava, mas também acreditava que não era nada com o que se preocupar, talvez apenas um stalker esquisitão.
-Amor, a gente tá fazendo tudo que pode pra descobrir quem é, mas tem alguns casos mais sérios chegando e... -A garota se levantou da cadeira, sua expressão cansada se transfigurou em ira.
-É isso que eu sou pra você?! -Seu tom de voz era alto, tentava não se descontrolar mas todos aqueles sentimentos estavam praticamente transbordando de si. -Eu sou mais um desses casos?! Jisung eu não venho aqui por você ser um policial, se eu quisesse falar com alguma autoridade competente eu sentava em um dos banquinhos da recepção e esperava pra prestar mais uma queixa. -O garoto suspirou, o relacionamento de ambos não andava muito bem. -Eu venho aqui porque você é meu namorado, venho aqui porque confio em você, porque me importo com você, e porque eu achei que se preocupava comigo. -A garota fez uma pausa analisando o rosto do namorado. -Mas acho que eu me enganei.
A garota saiu como uma tempestade, bateu a porta antes de deixar o escritório, sentia seus nervos a flor da pele, segurou o máximo que pode as lágrimas e seguiu para o escritório onde trabalhava. Passou pela cafeteria no térreo do prédio e cumprimentou com um aceno rápido os funcionários, ao entrar no elevador sentiu por poucos instantes a tensão se dissipar, não amava seu local de trabalho, mas se sentia muito mais segura ali, nenhum maníaco teria coragem de atacá-la naquele ambiente. Sentou-se em sua mesa e deu início aos procedimentos do dia, respirou fundo, seria uma manhã longa. Próximo ao horário de intervalo da manhã algo muito estranho aconteceu.
-Entrega pra senhorita Ahn. -Chamou o atendente do café a frente da minha mesa, franzi o cenho confusa.
-Mas eu não pedi nada Kai. -Ele sorriu completamente satisfeito, como se já esperasse por isso.
-Eu sei, é de um admirador secreto, um rapaz ligou e pediu para que entregássemos. -Ainda confusa peguei o pacote, Kai tirou um papel do bolso. -Ele pediu para que eu escrevesse esse bilhete. -E me entregou o pequeno quadrado de papel. -Tenha um bom dia senhorita Ahn. -Ele saiu contente, completamente alheio à minha desconfiança.