Remorso e Culpa

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"Ele tinha tanto medo de se importar que a cada ação que tomava matava um pouco de si mesmo até não sobrar nada além do vazio, até ser tão oco que menos tinha a oferecer a cada alma que conhecia. Mas com Leonor nada parecia sair como o planejado, e ela o enchia com tudo que acreditava ter morto dentro de si."

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Sebastian odiava admitir que se via pensando em Leonor com uma frequência absurdamente inapropriada para a jovem que ele não tinha pretensão alguma de se importar com tamanha ânsia de vontade. Veja bem, ele não era visto como o melhor dos homens por Londres, fossem por seus escândalos de natureza sexual ou sua paixão por jogos de azar, o Duque amava um bom cassino assim como qualquer outro cavalheiro de Londres, a diferença é que Cavendish nunca havia feito muito esforço de esconder o lado mais "libidinoso" de sua personalidade.

Fato é que Sebastian não era de todo um homem ruim, ele não via necessidade alguma de tratar mal a sua futura esposa por um erro que ele tomava responsabilidade de admitir e retificar, mas não imaginou em algum momento que se divertiria ao lado de Leonor como haviam feito há alguns dias atrás naquele parque e os dias seguintes. Havia a levado para o zoológico, uma sorveteria e uma livraria, a última por pedido da própria Leonor e, sem dúvidas, foi o encontro mais longo deles, a Howard não brincou quando dizia que podia "passar horas, apenas viajando entre as fileiras de livros" .

O Duque de Devonshire mal podia se lembrar de um momento que riu tão verdadeiramente como fizera ao lado de Leonor e a constatação daquilo lhe bateu mais forte do que o soco de um pugilista consagrado. E o resto de toda aquela surra lhe veio quando repassava em sua mente o sorriso de Leonor, como um quadro eternamente gravado e pintado em sua memória.

Nunca escondeu que ela o fascinava, não exagerava ao dizer que era diferente das jovens de sua idade. Sebastian já viajara o mundo e vira aquele afrontamento em muitas viúvas de meia idade que já haviam se fartado de viver sobre a sombra dos bons costumes, ser correta não havia lhes dado nada e tentavam recompensar toda uma vida perdida de uma maneira quase que espalhafatosa. Claro, que Leonor não era uma viúva de meia idade espalhafatosa, até porque Sebastian não tinha pretensão alguma de morrer e se dependesse dele, Leonor e ele também discutiriam para ver quem vai primeiro visitar o reino dos céus.

O que tentava dizer é que Leonor parecia caçar a verdadeira vida em cada risada adoravelmente escandalosa e alta, cada comentário ácido e verdades mais que sinceras. Ela não era de aparências, era real porque parecia já ter nascido farta de fingir a perfeição para um mundo onde até os perfeitos viviam em instabilidade, era como se ela tivesse tido a revelação que Madame Cosette, uma senhora de sessenta e cinco anos, viúva de um comendador francês que conhecera em uma teatro em Veneza, Itália, havia tido dois anos após a morte do marido.

"Dei a eles tudo o que queriam de mim, beleza, educação, submissão perfeição...no final já não era eu, havia me perdido em algum momento e quando voltei a me encontrar, ah moço bonito, jurei que não seria nada do que não nasci para ser, tudo que dei a elite, não era meu para dar, porque nunca gostei da versão de mim que criei para agradá-los, nada do que fui era eu e de tudo que dei, nada restou para mim. Ao final da vida não conheço uma alma que não se arrependa de ter sido alguém para todos e nada para si mesmo."

Leonor parecia ter tido aquela iluminação muito antes de Madame Cosette e embora pareça viver apenas para ser uma versão de si mesma, ainda sim, a Howard se casaria com ele pelas irmãs, pela família que não queria ver arruinada como supostamente os rumores diziam de sua virtude. E bom, parecia que no fim, por vontade ou não, Leonor e Sebastian se viram amarrados a mais um laço da sociedade tirana em que viviam e que fugiam com tanto afinco.

O EscândaloOnde histórias criam vida. Descubra agora