O Anúncio de Noivado

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"Se deixar cair junto aos pecados de Sebastian era tão ,magnificamente, errado, que terminava por se tornar certo."

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Ela não devia comer tantos petiscos, nem beber tão rápido a taça de vinho que sua mãe havia lhe deixado tomar, mas nada podia fazer para alentar seu nervosismo e ansiedade, além de mastigar e beber, era isso ou fingir um desmaio e Leonor achava aquela prática pateticamente ridícula. Sebastian conversava com os cavalheiros na companhia de seu pai e ela aguardava por conhecer a duquesa, mãe de seu futuro marido. O palacete dos Cavendish em Londres havia sido oferecido para o anúncio do noivado, como um presente de sua sogra aos noivos.

O baile havia sido organizado pela própria viúva e desde que os convites foram enviados era o maior burburinho de toda Londres. Há uma década o duque havia partido e passado seu título para Sebastian e a duquesa viúva parecia ainda sentir imensamente a falta do marido. Ela era uma figura quase que enigmática entre a aristocracia londrina, deixara de dar bailes há tempos e raras eram as ocasiões em que se dispunha a sair, diziam que ela amava ópera e teatro ,eram os únicos lugares que ainda frequentava, mas pouco ficava para confraternizar.

Leonor nunca a vira, mas esperava que a mulher não fosse uma megera, não queria ter de aguentar uma sogra amargurada em seu encalço. Eugênia, que a vira uma única vez no teatro ,em uma peça de Hamlet, dizia que a duquesa não parecia alguém cruel, mesmo que deixasse pouco espaço para interpretações com seu rosto solene.

- A duquesa viúva respira elegância.- Eugênia disse segurando seu braço, enquanto caminhavam entre os convidados. Leonor tentava sorrir, mas sentia que cada inclinar de seus lábios soava como um "estou constipada". Mais petiscos sendo servidos e Leonor praticamente arrastou a irmã mais velha para a mesa de jantar. Eugênia sorriu com graciosidade, seus olhos azuis pareciam ter luz própria, eram de um azul tão intenso e vívido, os cabelos loiros dourados presos em um coque bem armado e elegante, a gravidez de Louise lhe tinha deixado quadris mais largos e seios mais avantajados. Eugênia havia conseguido ficar ainda mais bela, se é que era possível.

- Leonor, pare de encher a boca com os camarões.- Leonor lutava para engolir um deles e apenas olhou para Eugênia.

- Desculpe.- ela murmurou depois do camarão descer rasgando por sua garganta.- Onde está Louise?- Leonor perguntou buscando pela sobrinha de quatro anos.

- Com as outras crianças numa das salas separadas do salão, sabe que este ambiente não é para ela.- Eugênia disse pegando um dos guardanapos, colocando sobre a mão e colocando um dos camarões em cima, para logo levá-lo a boca e dar uma pequena mordida, Leonor a observou quase que com fascínio. Quando mais jovem zombava daqueles trejeitos e até há pouco tempo também fazia, mas com o título de duquesa lhe batendo a porta, a jovem só faltava passar mal.

Observando toda a organização do baile, as comidas, as bebidas, a decoração, tudo tão perfeito, Leonor se sentiu sufocada. Ela não sabia fazer nada daquilo, sua mãe se empenhara em torná-la uma boa dama e, futuramente, uma boa esposa. Mas Leonor nunca deu valor a tais ensinamentos, pois não se importava e ainda não se arrependia de ter voltado suas energias a coisas que, realmente, gostava e tinha paixão, como ler, escrever e estudar escondida no escritório de seu pai, enquanto suas irmãs tinham aula de etiquetas com madame Georgia. O conde sempre a acobertava e agora ela pagava o preço. 

Seria uma chacota por ter sido arruinada e outra maior ainda por dar uma duquesa vergonhosa para o homem que, supostamente, a arruinara. Por mais que todas aquelas coisas fossem contra sua natureza e ideais, Leonor só gostaria de fazer algo "moralmente correto" á visão de todos, apenas para que tirassem aqueles olhos condenadores de cima de si e fossem ao inferno com eles.

O EscândaloOnde histórias criam vida. Descubra agora