Capítulo 7 - Banho

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Eram constantes as vezes que Karamatsu se sentia nojento. Seu corpo estava marcado com feridas em forma de palavras de ódio, e em outras partes, eram apenas cortes profundos. Todos cortes que sempre denunciavam seus sentimentos.

Ele queria ser escutado, e por reprimir isso por tanto tempo, está pagando o preço. Realmente uma inconveniência completa para seus irmãos. Haviam momentos em que ele se sentia amado, de fato, seus irmãos não mediam esforços para deixar isso claro.

Porém, uma parte dele acreditava que era tudo mentira. Que logo eles ficariam irritados com tamanho incomodo que ele é.

Só precisam tratar bem, quem disse que precisam de fato ama-lo? Se Karamatsu acreditar, então não tem problema, vai se resolver logo. É tudo mentira. Tudo fingimento.

Eram esses pensamentos que invadiam a mente do segundo filho sempre que, mesmo que fosse por uns segundos apenas, ele ficava sozinho.

E sempre que isso acontecia, ele sofria um ataque de pânico. Ficar sozinho definitivamente é seu maior trauma, e é o que desencadeia suas crises.

E quando isso acontece, gritos saem de seus pulmões a todo vapor. São os gritos que ele teve que reprimir por tanto tempo.

Lágrimas saem de seus olhos. São as lágrimas que ele nunca se permitiu derramar.

Cortes sangravam em seu corpo. Os cortes que ele nunca teve coragem para fazer ele mesmo.

Os ataques aconteciam pelo menos duas vezes ao dia. Sempre a tarde e a noite. A tarde porque ele se lembrava da solidão que sentiu naquele dia, e a noite porque ele se lembrava da dor e do desespero que foi quando seus irmãos jogaram panelas em sua cabeça.

Ele constantemente mantinha o curativo do seu rosto, que sempre sangrava. Ele não queria que os outros se preocupassem demais, principalmente Ichimatsu, que era o que parecia mais afetado. Sempre que usava os colares, ele ficava esgotado, e logo adormecia.

Agora, Ichimatsu se encontrava, mais uma vez, com os lábios junto aos de Karamatsu, passando sua energia espiritual para ele, curando de forma superficial sua alma. Sempre que fazia isso, seu corpo age de forma impulsiva e sempre faz com que seus braços rodeiem o irmão, uma mão em sua cintura, e outra na nuca. Quem os visse de fora, pensaria que eles são um casal apaixonado, porém os outros quatro irmãos sabiam do que se tratava, e de certa forma, já se acostumaram a ver seus irmãos se beijando desse jeito.

Porém, ninguém além de Ichimatsu sabia que ele não precisava dar beijos tão profundos e demorados, o que ele via como uma vantagem nessa situação.

Tirando proveito do irmão que ele ama nessa situação. Definitivamente o pior. Mas, Deus, ele não conseguia parar. Os lábios de Karamatsu eram simplesmente incríveis, e ele tinha que se controlar para não saltar sobre ele.

- I-ichima... - Karamatsu tentou falar, mas Ichimatsu não o soltava. - E-eu já...

- ...Ainda não - Ichimatsu diz, e ele se inclina para voltar a beija-lo, porém, ele sente alguém puxando seu moletom por trás, e ele fica como um gato sendo puxado pelo cangote.

- Já chega, Ichimatsu - Osomatsu diz, segurando o mais novo com um sorriso brincalhão. - Ou o Karamatsu vai virar um tomate de verdade.

Todos os quatro presenciavam a cena dos outros dois, e sempre chega num ponto em que alguém tem que separar Ichimatsu do Karamatsu. Já era óbvio para eles o que estava acontecendo com o quarto filho, e o segundo, bem, era inocente demais para saber.

Ichimatsu então olhou para Karamatsu, e percebeu o quanto o irmão estava vermelho. Isso só deu Ichimatsu mais vontade de beija-lo.

Verdade seja dita, Karamatsu estava tão viciado quanto Ichimatsu. Sabia que o rapaz só fazia isso quanto Karamatsu precisava ser curado, e isso só o deixava ansioso. Os lábios do irmão são como uma maldita droga, ele queria mais. Porém, na cabeça dele, ele sempre seria um incomodo. Ele se sentia nojento por querer mais.

Passagem espiritual - Osomatsu-sanOnde histórias criam vida. Descubra agora