Capítulo 6 - Acordo

71 5 5
                                    


O principal problema de Karamatsu é seu estado mental.

Sua mente está tão sofrida quanto sua alma, claro, afinal, tudo o que ele sofreu ele guardou dentro de si, fingiu que estava tudo bem, sorria mesmo sentindo dor. O que transforma uma alma em uma alma suicida, é o estado mental da pessoa.

E, nesse caso, o espiritualismo não pode ajudar. Tudo depende de Karamatsu se reconciliar com sua família, entender que eles o amam de verdade, e curar essa depressão que ele está preso.

Mas acho que nem preciso dizer que é muito mais difícil falar do que fazer.

Pensando como nunca pensou antes, Ichimatsu mal escutava a conversa que Osomatsu e Choromatsu tinham com uma enfermeira. Ele só havia ouvido que a equipe médica suspeitava que Karamatsu sofria de ataques de pânico, além da depressão que eles já haviam confirmado.

Ela receitou alguns remédios para tratar da depressão e deu orientações para quando ele tiver um ataque de pânico, que na verdade eles já sabiam o que fazer, afinal, os ataques de pânico são os gritos e os sangramentos, que eles já sabiam o que fazer para resolver.

Bem, Ichimatsu sabia. Ele não havia revelado muito sobre o que aprendeu, ele alega "apenas saber", não dando explicações. É como se, depois de ter se conectado ao outro lado, apenas o essencial ficou em sua cabeça.

Ela deixou a sala com a notícia de que Karamatsu já poderia ir para casa, o que deixou todos muito animados. Apenas Karamatsu não demonstrou o mesmo ânimo. E Choromatsu percebendo isso, decidiu perguntar:

- O que houve, Karamatsu? Não está feliz por podermos voltar pra casa? - Ele perguntou, e todos os olhares se foram para Karamatsu.

- Eh? A-ah... Bem... - Ele tentava encontrar palavras para dizer o que estava sentindo, mas as palavras simplesmente pareciam se embaralhar na sua língua. - Eu estou contente... Mas...

- Mas...? - Jyushimatsu insistiu, ainda com seu sorriso típico no rosto.

- Eu... Eu estou com medo - Ele dizia. Mesmo que não quisesse falar, era como se algo dentro dele o forçasse a dizer o que sentia. Algo que queria ser ouvido. Karamatsu não precisou pensar duas vezes pra saber o que era. - E-eu não... Eu não quero... - Ele abraçava a si mesmo, não conseguindo encontrar aquelas palavras que queriam sair.

Ichimatsu não pensou duas vezes e pousou sua mão nos cabelos do rapaz, que se enrijeceu com o toque morno do irmão. Uma fraca luz roxa saia de seus dedos, e sua iris castanha pareceu refletir aquela luz.

- ...Ele tem medo de ficar sozinho de novo... Tem medo que simplesmente abandonemos ele - Ele dizia, enquanto massageava a cabeça do irmão mais velho, como se tentasse chegar mais fundo nós sentimentos dele. - ...São muitas lembranças ruins.

Ichimatsu se separou antes que as lembranças viessem para a mente dele. Não queria, não podia ver aquilo. Karamatsu apenas sorriu para ele, um olhar agradecido, as bochechas levemente rosadas.

Ichimatsu apenas desviou o olhar, não sabia muito bem como agir com ele depois de, bem, ter usado os artefatos.

- Bem, isso não é problema sem solução - Osomatsu dizia, um sorriso convencido no rosto enquanto fazia seu famoso gesto de coçar o nariz com o indicador. - É só apagar as memórias ruins e fazer novas.

Falar é fácil, todos pensaram. Mas o sorriso do mais velho é sempre contagiante, principalmente depois de tanto tempo que nenhum deles mostrou um sorriso sincero. Isso que tudo aconteceu em dois dias apenas.

- Vamos pra casa, Karamatsu-nisan? - Todomatsu perguntou, sorrindo do jeito que apenas o mais novo consegue.

- ....Un, vamos.

Passagem espiritual - Osomatsu-sanOnde histórias criam vida. Descubra agora