Capítulo 9 - Declaração

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A sensação de morrer e voltar a vida é estranha. É como se Karamatsu tivesse apenas despertado de um sono profundo, onde ele não conseguia respirar. Ele acordou inspirando todo o ar que conseguia, e acabou tossindo de forma seca no processo.

Ele sentia seu peito doer, com o compasso acelerado, seu corpo todo estava anestesiado, mal conseguiu sentir quando todos seus irmãos pularam em cima dele, não conseguiu ouvir nada, parecia que estava de baixo d'água. Demorou para processar que, depois de ter acordado daquele pesadelo, ele havia morrido logo em seguida. Quanto tempo, ele não sabia. Ele se lembrava da sensação de seu coração parando de bater, de seus pulmões expulsando o ar, e se lembrava vividamente do rosto de Ichimatsu, em desespero. Quase conseguia sentir as lágrimas dele pelo seu rosto.

Ele demorou para processar todos eles, chorando em seu colo. Bem, nem todos. Ichimatsu chorava sozinho, no chão ao seu lado, cobrindo seus olhos com o braço. Conseguia ver o sorriso vitorioso dele.

Então ele percebeu que nenhuma daquelas lágrimas era de tristeza, e sim de felicidade.

Karamatsu não se conteve. Chorou junto com os seis, e os abraçou. Não entendia como havia voltado, sua mente não estava conseguindo processar as coisas de forma rápida.

Mas isso só serviu para ele entender uma coisa: Karamatsu não podia morrer ainda. Não poderia deixar seus irmãos para trás.

Eles precisavam dele tanto quanto o inverso.

Demorou para perceber, mas nunca é tarde de demais.



Conforme o dia seguinte deixou, todos dormiam em cima de Karamatsu, que não dormiu. Não via necessidade de dormir quando podia observar seus irmãos, observar suas respirações pesadas, mostrando o sono profundo em que estavam.

Eles pareciam tão tranquilos, principalmente Osomatsu. Ele estava completamente agarrado no braço dele, como um bebê agarrado na mãe. Mesmo que ele seja o mais velho, sempre vai ser o mais crianção de todos. Não poderia deixar que ele carregasse sozinho o fardo de ser o mais velho com essa cara tranquila de bebê. Como os dois mais velhos, eles tem que trabalhar juntos.

Por isso não poderia morrer.

Jyushimatsu e Todomatsu sempre se agarram um no outro. Os dois mais jovens. Jyushimatsu tenta de fazer de durão e apoiar Todomatsu, já que ele é seu único mais novo, mas Karamatsu sabe que ele quer chorar mais do que todos.

Ele não pode deixar eles sozinhos.

Choromatsu, mesmo que tente agir de forma racional, é o mais impulsivo de todos. Ele tenta segurar as lágrimas, e sempre se culpa por tudo, igual Osomatsu.

Como poderia deixar seu primeiro mais novo sozinho?

Ichimatsu. Não teria como esquecer tudo o que ele já fez. Todas as vezes que quebrou suas coisas, rasgou suas roupas, o bateu, o insultou...

Mas Karamatsu sabia. Todas as noites, Ichimatsu se agarrava em suas costas, e durante o sono, pedia perdão. As vezes ele chorava enquanto dormia, e Karamatsu o abraçava até que ele se acalmasse, não que o menor se lembre.

Talvez tenha sido aí que o amor de irmão cresceu mais do que deveria.

De repente, palavras com a voz de Ichimatsu ecoaram na sua cabeça.

Era uma clara declaração de amor que ele não escutou, ou talvez que nunca aconteceu. Não se lembrava.

Karamatsu apenas sentiu seu rosto todo corar quando sentiu aquelas palavras ecoarem para ele de forma atrasada.

Passagem espiritual - Osomatsu-sanOnde histórias criam vida. Descubra agora