Passagem espiritual - Osomatsu-san

Capítulo 8 - Morte

Karamatsu observava seus irmãos se afastarem dele, andando para longe, sorrindo. Ichimatsu parecia o mais feliz deles, chorando lágrimas de felicidade, enquanto deixavam o segundo irmão para trás.

Ferido, com bandagens na cabeça, uma muleta para auxiliá-lo a andar por causa da perna quebrada. Que ainda era difícil, afinal, seu braço comandante estava quebrado também.

Karamatsu tentou gritar, mas ele se sentia de baixo d'água. Sua voz não saia. Ele tentou gritar tanto, que ele sentia sua garganta rasgando. Quase conseguia sentir o gosto do sangue inundando sua boca.

De repente, ele estava realmente de baixo d'água, não conseguia respirar. Ele se debatia, tentando alcançar a superfície de seja lá que lugar ele está. Ele sentia braços que o empurravam para baixo, o impedindo de respirar. Ele se debatia, tentando se libertar dos agarres daquelas mãos.

Ele conseguiu distinguir as cores dos moletons que os empurravam para baixo. Choromatsu empurrava sua perna esquerda, e Todomatsu, a direita. Osomatsu segurava o braço direito e Jyushimatsu a esquerda.

Ichimatsu empurrava os ombros dele. Ele conseguia ouvir as vozes de seus irmãos gritando insultos e maldições, mas a que mais se sobressaia era a de Ichimatsu.

- Você é nojento! Como pôde se apaixonar pelo seu próprio irmão? Achou mesmo que eu sentiria o mesmo? Eu te odeio! Eu quero que você morra! Vá para o inferno, pecador, gay incestuoso! Morra! Eu sempre te odiei! Tudo seria mais fácil se você nunca tivesse nascido! Todos seriamos mais felizes!

Sim. Como ele pensou que ele sentiria o mesmo? Depois de tudo o que Ichimatsu o feriu, por que ele se permitiu ter um pouco de esperança?

Por que ele pensou que seus irmãos realmente o amavam? Só porque foram bons com ele? É tudo mentira.

A bondade, o amor, tudo que o permitiu se sentir amado e feliz, é mentira. Eles odeiam Karamatsu, essa é a verdade. Eles só não querem ter o trabalho de preparar um enterro ou de limpar o sangue. Se mentissem pra ele, ele ficaria bem.

Ele não merecia estar vivo. Karamatsu desejava a morte mais do que tudo nesse momento.

Apenas morra, seu interior dizia. Por favor, apenas morra de uma vez. Me liberte dessa prisão de sentimentos.

Todos estavam dormindo quando Karamatsu começou a se debater e gritar durante o sono. Todos acordaram em um salto, e correram para ver Karamatsu. Os cortes sangravam, como se seu corpo estivesse expulsando o sangue do corpo de forma violenta. Todos foram segurando uma parte do corpo dele para não deixar que ele se machuque com os espasmos. Choromatsu segurava sua perna esquerda, e Todomatsu, a direita. Osomatsu segurava o braço direito e Jyushimatsu a esquerda.

Ichimatsu segurava seus ombros. Todos gritavam, tentando fazer Karamatsu acordar daquele pesadelo. Ichimatsu tentava se conectar a alma do rapaz, tentar acalma-lo. Os colares estavam no andar de baixo, ele não podia perder tempo os buscando. Mas parecia que algo o estava impedindo de chegar até ela.

Então, ele ouviu as vezes de seus irmãos. Na realidade, eles gritavam para que ele acordasse, gritavam palavras de amor com desespero. Mas as palavras não chegam a ele dessa forma. Para fazê-lo aceitar a morte que tanto deseja, suas vozes eram distorcidas antes de chegar a ele.

Ele fez mais força, tentava o máximo para chegar até a alma dele. Tentar fazer a verdade chegar a ele.

Ele conseguia ver o irmão, afundando em um poço de lamento e terror. Ele tentou chegar até ele, mas a mentira que Karamatsu tornava verdade o impedia.