Capítulo VI

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Bia e Thomás tomavam café para irem à escola, quando a porta da cozinha que dava acesso aos fundos da casa se abriu e alguém de ótimo humor entrou brincando, sem imaginar que o clima da casa não estava lá para brincadeira.

- Bom dia, meu povo lindo! - a mulher que exibia um sorriso largo, logo o desfez ao ver as expressões sérias que Beatriz e Thomás tinham. - Ih, mas que caras de velório são essas crianças?

- Tia Lu!

Lumena é quem toma conta da casa Freire. A mulher na faixa dos quarenta anos que já trabalha na casa há dez anos, se encontrava de férias, retornando hoje de seu merecido mês de descanso.

De ótimo humor, sensível e cuidadosa ao extremo, Lu como carinhosamente era chamada pelas crianças e pelas patroas, tinha adquirido um carinho enorme pelas pessoas que ali moram, principalmente as crianças. Considera os Andrade-Freire como sua segunda família e eles, a consideravam como parte da família deles. Ela conhecia cada um daquela família muito bem.

Thomás ao ver Lumena pulou de sua cadeira e correu até ela lhe abraçando as pernas. A mulher o pegou no colo e antes que pudesse pronunciar algo, o garotinho contou o que tinha acontecido com Sarah.

- Tia Lu, a mamãe não lembra mais da gente. A mãe disse que ela perdeu a memória.

Sua vozinha soou baixa e tristonha ao contar aquilo.

- O quê? Como assim?

A mulher olhou para Beatriz que os observava com uma expressão tão triste quanto a do irmão menor.

- Bia isso é verdade, querida? - ela quis ter certeza de que tinha ouvido certo. Não que Thomás pudesse ter mentido, mas criança tem mente fantasiosa. Só que para a surpresa desagradável de Lumena, Beatriz confirmou a notícia dada pelo irmão.

- Espera! Mas como isso aconteceu? A dona Sarah sofreu algum acidente?

Em rápidas passadas, a mulher se aproximou da mesa onde Bia tomava café e se sentou em uma cadeira vazia ao lado da adolescente, ajeitando Thomás em seu colo.

- Não, tia. O que houve foi que...

Enquanto Beatriz começava a relatar como Sarah havia perdido a memória, em seu quarto Juliette terminava de se arrumar para poder ir ao trabalho da esposa conversar com o chefe dela. Diante do espelho, ela observava seu reflexo e as olheiras que ostentava. Eram visíveis demais para não serem notadas! Aquilo ali era o resultado de uma noite mal dormida. Foi difícil, quase impossível dormir direito com o que tinha acontecido. O máximo que conseguiu foi só cochilar, mas um tempo depois acordava ao ver o lado esquerdo da cama vazio. Por várias vezes de madrugada, ela quis levantar-se da cama e ir ao quarto em que sua esposa dormia para deitar-se aconchegada ao seu corpo quente como tantas vezes cansou de fazer quando a insônia e a preocupação lhe assolavam. Porém, a lembrança de que Sarah havia se esquecido dela lhe impedia de ir até a esposa.

Dormir sozinha naquela cama enorme, tendo o cheiro inconfundível de sua esposa impregnado nos lençóis foi um martírio gigantesco para Juliette!

Na tentativa de disfarçar as olheiras, a morena fez uma maquiagem que aparentemente escondeu bem os sinais claros de que não havia dormido quase nada. Foi até o banheiro pegar seu relógio de pulso que tinha deixado ontem sobre a pia quando foi tomar seu banho. Retornou ao quarto para dar-se uma última olhada no espelho e também, para colocar seus brincos delicados e pequenos que Sarah havia lhe dado no último aniversário. Sua esposa adorava lhe presentear, até mesmo fora de datas comemorativas.

Memórias Perdidas - Versão SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora