As Primeiras Terras

455 25 11
                                    

Uma gota d'água despencou em sua testa partindo-se em várias gotículas que pareceram tomar todo seu rosto. Um feixe de claridade estendia-se da janela suja e encardida diretamente sobre seus olhos, e após passar a mão para secar a umidade do rosto, Sona se viu obrigada a despertar mediante a claridade do dia, e ela o fez ainda alheia à sua realidade. Após algumas piscadas, enquanto sentava sobre a cama de pedra acinzentada, dura e extremamente fria, com ondulações tortuosas projetadas para serem desconfortáveis, que ela se deu conta de onde estava.

Talvez fosse pelo forte cheiro de mofo, talvez pelo ar úmido de um lugar calorento e meio abafado, talvez fosse pelo barulho de metal que vinha do corredor, mas Sona sentia que sua estadia ali seria uma das últimas coisas que veria em sua vida. Não demorou muito até os passos no corredor e o farfalhar de armadura revelasse um soldado fortemente armado se aproximar de sua cela e bater no metal das grades com seu molho de chave para chamar-lhe a atenção. Sona permaneceu encarando a janela suja disposta a não se dar por vencida. O que quer que fosse ocorrer, ela iria permanecer implacável em seu orgulho e sua honra, afinal, ela não deveria estar alí, havia sido um erro de entendimento. Um erro que lhe custara as coisas mais valiosas de sua vida.

Tudo começou quando Sona decidiu ir até Fear'lor, uma ilha dominada por Noxus em Ionia nas guerras constantes que o império sangrento travava contra o lugar das primeiras terras. Após muitos dias de viagens e pesquisas pelos centros mágicos de Ionia, enquanto visitavam o Placídio de Navori, Sona ficou sabendo que haviam vestígios de  informações acerca da origem de seu Etwahl e quem sabe da sua família biológica, sua origem e tudo que envolvia essa missão de busca. Lestara Buvelle, sua mãe, a acompanhava e também Etra, sua melhor amiga e cantora. 

O trio havia feito uma viagem longa desde o Placídio de Navori, uma cidade metropole de Ionia conhecida pelas universidades e grandes campos místicos de estudos aprofundados e com uma cultura extremamente rebuscada que conecta o lugar o tempo todo com a origem dos povos, das magias, e de tudo que se conhece, até a ilha noxiana. Transitar de Ionia para Noxus não fora uma tarefa fácil pois os portões da cidade eram vigiados, e bastasse um soldado não ir com a sua cara, que todo seu esforço de chegar até ali terá sido em vão. Por sorte, elas seguiram acompanhadas de um monge chamado Lione que era conhecido e temido pelos soldados noxianos da fronteira. Com o auxilio dele, elas conseguiram adentrar a cidade e se acomodarem numa hospedaria de três andares,  com pequenos apartamentos, ficando no maior deles, com uma sala modesta que antecedia os dois quartos e o banheiro.  Sona sentiu crescer em seu peito a curiosidade sobre seus pais biológicos, e pela maneira como sua mãe adotiva se comportava, o sentimento era mútuo principalmente porque seu instrumento musical emitia magia, e Sona sendo capaz de manipular essa magia procurava também entendê-la. Saber sobre seu passado desconhecido seria fundamental para isso. 

A rotina dos primeiros dias era simples, elas acordavam ao amanhacer, iam até o templo de meditação que tinha metade de sua construção em ruínas devido à ultima guerra e mergulhavam em livros de registros, sempre sendo vigiadas por soldados noxianos. Sona, sua mãe e sua amiga Etra eram tratadas como turistas, porém Sona sentia a agonia e o desespero no olhar de cada Ioniano submetido a Noxus. O grito por liberdade estava preso na garganta deles, e Sona sabia que estava num campo minado. Eram três demacianas infiltradas em território inimigo, ainda mais quando o Pai de Sona morrera lutando contra Noxus, ou seja, elas fingiam tranquilidade, mas a insônia era companhia das noites de sono das três.

Foi então que em uma noite mais fresca, com uma brisa reconfortante, enquanto Sona dobrava algumas peças de roupa recém passadas a ferro quente, que sua amiga Etra adentrou na sala com euforia, fazendo Sona erguer o olhar assustada. A mulher de cabelos escuros e profundos olhos verdes sorriu tranquilizando Sona com um tapinha nas costas, e então ela se aproximou e cochichou no ouvido de Sona: 

As Crônicas de Sangue e SomOnde histórias criam vida. Descubra agora