Ionia Resiste

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Draven estava novamente de volta à sua escrivaninha com um copo de whisky nas mãos olhando o carvão estalar na lareira de sua sala. O fogo consumia a madeira transformando-a em cinzas em questão de tempo, e era assim que ele se sentia. Estava perdendo seus sentimentos conforme aquelas brasas iam perdendo seus brilhos dourados. Ele alimentou o fogo com mais madeiras e se sentou na beirada da mesa ainda encarando as chamas.

Era preciso aceitar que ainda que ela estivesse viva, eles jamais estariam juntos. Era preciso engolir isso com tanta necessidade quanto ele engolia a dose de whisky que lhe queimava a garganta. Era exatamente isso que esses sentimentos faziam: queimavam por dentro a ponto dele querer rasgar a própria pele afim de fazer essa dor sair, mas ela não iria embora.

Ele fizera tudo que podia por ela, para mantê-la viva. 

Quando Swain e sua comitiva finalmente chegou no território Ioniano para dar cabo ao plano de expansão do Império, Darius descobriu que ela era uma demaciana através de pessoas que presenciaram a luta de Sett e Draven, e havia ordenado que a aprisionassem. Draven garantiu que ela tivesse um capanga seu a protegendo contra qualquer mal que poderiam fazer a ela. Mulheres prisioneiras de noxianos geralmente eram torturadas, e ele não podia permitir que isso acontecesse a ela. Então ele tinha acesso a tudo que ela fazia durante todos os meses em que ela foi mantida presa. Infelizmente, ele não pôde evitar que matassem a mãe e a amiga de Sona quando a capturaram. De vez em quando ele ia até a masmorra e ficava ao longe do corredor observando-a andar de lá para cá em sua cela. Ele queria abraçá-la, dizer que iria ficar tudo bem, ele queria compartilhar a dor do peito dela, ele queria confortá-la... Mas era impossível.

Ele tentou de tudo para convencer Swain a não matá-la, e foi aí que ele teve a ideia de jogá-la numa arena. Ele imaginou que ela poderia usar sua música para se defender, e no dia que foi decidido que ela seria lançada na arena, ele desamarrou o Etwahl dela que haviam capturado e selado para impedir que ela o utilizasse para fugir e o preparou para que ela o invocasse. Ele também fiscalizava a comida que era entregue a ela na prisão.

Ele fez de tudo.

E quando ela matou a todos na arena, ele vibrou timidamente na arquibancada. A esperança que pulsou em seu coração o fez ver que talvez existia uma chance dela ir embora. Ele não se importava de não tê-la, mas queria que ela seguisse viva. Porém o que se sucedeu foi que ela havia gasto toda sua energia vital ao matar todos aqueles homens na arena, e mesmo se provando valorosa, as pessoas clamavam por sua morte. 

E ele foi obrigado a ceifar a vida da mulher que amava.

Ele era incapaz até de soltar lágrimas diante disso.

Draven olhou para suas mãos e lembrou-se do sangue dela em seu machado. 

Ele suspirou e se virou para servir-se de mais uma dose de whisky, quando se depara com uma mulher sentada em sua cadeira. Ela tinha a pele clara como a neve e cabelos pretos muito escuros, lábios pintados de roxo, uma expressão de poder em um sorriso convidativo. Draven não exibiu reação ao vê-la, apenas continuou em seu gesto de servir sua bebida e tomou um gole. Ele olhou para a porta e percebeu que permanecia trancada, mas não quis questionar a maneira como ela havia entrado em seu escritório. A mulher percebeu o desinteresse dele e sorriu mais ainda.

"Ora ora, carrasco... Sua falta de interesse me deixa ofendida." Disse ela numa voz carregada de sarcasmo e deboche. Draven deu-lhe as costas e tornou a fitar as chamas.

"Se veio para me matar, faça-o logo." Disse ele.

"Nada disso, vim para lhe mostrar que de repente... Você pode usar sua dor para se vingar." Disse ela levantando-se e ficando de frente a Draven. Ela tocou-lhe o peito de maneira sedutora enquanto falava. "Eu sei que você ta sofrendo, mas não parece justo que você fique amargando tanto enquanto outro colhe toda a glória do seu sacrifício."

As Crônicas de Sangue e SomOnde histórias criam vida. Descubra agora