Sona e Etra adoravam cantar e tocar na taverna do Senhor Bulhões pois os clientes eram muito animados e deixavam gorjetas gigantescas. Era divertido ver as pessoas dançando ao som de suas musicas e se sentindo felizes. Era algo muito contagiante e fazia Sona esquecer de seus pensamentos um pouco. E numa das noites que elas costumavam se apresentar lá, com a taverna cheia como de costume, ela viu chegar no ambiente a comitiva do Carrasco de Noxus. O clima pesou um pouco, as pessoas ficaram um pouco tensas porém Sona não parou de tocar, e motivada pela melodia de Sona, Etra voltou a cantar como se nada houvesse acontecido. Draven sorriu e ergueu os braços cumprimentando a todos e pedindo que ficassem à vontade.
Draven sentou-se ao fundo com seus homens e foi servido abundantemente pelos garçons. Sona permaneceu concentrada nas pessoas e na música disposta a não olhar para ele, e assim se seguiram as horas. Ele conversava com as pessoas, ria e parecia estar se divertindo de verdade e isso acalmou o coração de Sona. A ultima vez que tinha tocado diante dele, ele havia ido embora no meio de sua apresentação. Dessa vez ele permaneceu até o final. Quando Sona desceu do palco que as pessoas do salão se puseram a aplaudir, Sona cruzou o olhar com o dele (o que ela vinha evitando - ela o olhava quando ele estava olhando em outra direção) e ela o viu aplaudindo sua performance. Aquilo a encheu de emoção, de todos os aplausos que recebia, aquele era o que mais representava algo para ela.
Etra sentou-se no balcão do bar da taverna e pediu uma cerveja. Sona a acompanhou sentando-se também no banquinho e indicando dois com a mão para o garçon, então ela foi surpreendida por Draven aproximando-se e apoiando o cotovelo no balcão virando-se para ela.
"Boa noite, senhorita." Cumprimentou ele erguendo uma taça de vinho para saudá-la. Sona sentiu seus dedos ficarem frios de tão nervosa que ouvir a voz dele tão perto assim a deixava. "Chegou bem em casa aquele dia?"
Sona olhou para os lados e percebeu que muitas pessoas disfarçavam para olhá-la, e algumas mulheres a julgava por estar tão próxima de uma figura importante, porém apenas ela conseguia ouvi-lo pois ele usava um tom de voz mais discreto afim de que a conversa ficasse apenas entre eles. Balançando a cabeça positivamente, Sona sorri para Draven e isso era tudo que ela conseguia fazer no momento.
"Você tem um poder impressionante. Parabéns pelo seu dom." Disse ele bebendo em um gole todo o conteúdo de sua taça e a colocando sobre o balcão de maneira bruta. Sona agradeceu com um gesto de cabeça sentindo-se sem graça. Ele a encarou por alguns segundos e os dois permaneceram se olhando em silêncio até serem interrompidos por Etra.
"Oi, tudo bem? Minha amiga aqui não fala, sabe."
Sona revira os olhos e encara o chão.
"Eu não perguntei." Responde ele lançando um olhar severo à Etra. Sona volta a encará-lo completamente surpreendida pela reação dele. Ele sorri para Sona e volta para mesa junto de sua comitiva militar que bebia e conversava alto.
"Você tem que parar de falar para as pessoas que eu sou muda como se fosse algo que me impedisse de me comunicar." Gesticula Sona para Etra.
"É literalmente algo que te impede de se comunicar, mas não disse isso na intenção de te incapacitar amiga. É que vocês ficaram duas horas em silêncio se olhando, achei que ele estava esperando que você fosse responder com palavras." Justificou Etra.
"Tem coisas que não precisam ser ditas." Gesticula Sona sentindo seus olhos marejarem, e então ela corre para a porta da taverna. Etra encara a porta sem entender.
Encontrando-se com o frio da noite, Sona corre pela rua até chegar na praia. Diante da imensidão escura do oceano à sua frente, ela se coloca a chorar como sempre fazia. Era extremamente difícil ser uma pessoa diferente, não poder se expressar, não poder dizer com todas as letras para alguém o que estava pensando. Ainda que tivesse sua linguagem de sinais, ela não expressava a totalidade do que queria falar, e o pior era que pouquíssimas pessoas dominavam as línguas de sinais. Era como se ela fosse estrangeira o tempo todo em qualquer lugar que estivesse, usando um idioma que somente ela falava.
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As Crônicas de Sangue e Som
FanfictionUma história dramática entre o amor ardente e altamente proibido, que surge mediante às circunstâncias mais improváveis entre Sona, a demaciana prisioneira, e Draven, o carrasco incumbido de matá-la.