11. O jogo

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Hugh Hayes estava sentado sob a sombra de uma árvore no jardim do Rancho Woods, boa parte da família da sua esposa estava ali, o que queria dizer que era quase um evento real nos jardins do Palacete Real em Lamero, de tanta gente que tinha ali

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Hugh Hayes estava sentado sob a sombra de uma árvore no jardim do Rancho Woods, boa parte da família da sua esposa estava ali, o que queria dizer que era quase um evento real nos jardins do Palacete Real em Lamero, de tanta gente que tinha ali. Aquela família era surpreendentemente grande e haviam crianças demais, mães e pais demais e babás demais também naquele gramado. Ele via as crianças mais velhas correndo por ali e agradecia à Deus pelos seus filhos ainda não conseguirem correr sozinhos, pois os dois já davam trabalho demais apenas engatinhando e dando um passinho ou dois - o carma, Kate dizia ao genro, era o culpado por aquilo, pois sua esposa estava sendo punida, supostamente, por ter dado tanto trabalho para a mãe quando era mais nova e por ter reclamado tanto dos sobrinhos quando ficou mais velha. Hugh, apesar de sentir-se cansado sempre que tinha que ficar perto dos filhos e cuidar para que eles não fizessem nada que os machucassem, não trocaria aquilo por nada, sempre fora seu sonho ser pai cedo, e ele já tinha demorado demais para isso, e ainda era muito melhor poder fazer aquilo ao lado de Cat, tê-la sempre por perto reclamando com aquele seu jeito - com uma casca dura por fora e molenga por dentro -, mas amando muito tudo aquilo também, bastava ver a forma como ela sorria ao ver os filhos e não restava mais dúvidas de que ela também amava muito a vida deles juntos, os quatro como uma verdadeira família.

- A sua mãe está vindo. - Hugh sussurrou para Michael, que estava no seu colo. - E ela não parece muito feliz.

Catarina acabava de passar pela porta da casa e caminhava na direção deles com um olhar sério. Ele sabia que ela estava irritada com ele, e talvez Hugh a tenha provocado de propósito naquela manhã, mas a verdade era que ela era tão fácil de se irritar e ficava tão linda com aquele biquinho de frustração que era difícil demais resistir ao impulso. E depois eles ainda podiam se reconciliar na cama, e Hugh sabia muito bem que ela gostava daquilo.

Ele amava aquela mulher, não importava o quão feio fosse o olhar que ela lhe dirigia, e ambos sabiam que gostavam de toda aquela atividade de troca de farpas do casamento deles, eram como verdadeiros cão e gato, que brigavam durante o dia, mas que sempre acabavam se reconciliando à noite.

O amor dele pela esposa só vinha crescendo no último ano e ele a admirava muito por tudo que ela estava fazendo. Não só o nome Hayes, como também o viscondado de Beckham tinha caído em desonra e dívidas depois de tudo que o pai de Hugh fizera, Stanley Hayes tinha feito questão de torrar até o último centavo do viscondado quando Cat e Hugh se recusaram a dar-lhe o dote dela depois do casamento, ele vivera uma vida de rei por alguns meses antes de enfim morrer com um ataque cardíaco. Hugh herdara Beckham aos farrapos e o título deveria ser dissolvido e as terras incorporadas aos viscondados ao redor, o sobrenome deles já não tinha tanto peso entre a alta sociedade e até mesmo o trabalho de Hugh como pintor estava sendo prejudicado, e Hugh não dava a mínima para aquele viscondado, ele não tinha tempo para administrar Beckham com todo o seu trabalho na galeria e não podia deixar Caleb na mão depois de ter se comprometido com aquela sociedade. Mas então Catarina resolvera que ela queria mais ação na sua vida, ser mãe e senhora de uma casa não era o bastante para ela - e Hugh admirava muito isso -, e então ela tivera uma conversa com a sua tia, pedindo que o título e as terras fossem mantidos nas mãos de Hugh, ela assumira a administração de Beckham e vinha empenhando todos os seus esforços para reerguer os cofres e dar tudo que os arrendatários precisavam para continuar prosperando, as dívidas já tinham sido saldadas pela metade e o sobrenome deles já voltava a ter algum valor, e isso era graças à ela e seu trabalho incansável. Os administradores e advogados não gostaram muito quando apareceram para as primeiras reuniões e Hugh dissera que era ela, sua esposa, quem iria resolver todos os problemas de Beckham e lidar com eles a partir dali, mas ela era Catarina Campbell Hayes e ninguém poderia duvidar dela ou não obedecer às suas ordens, talvez ela tenha ameaçado usar um cutelo em um advogado durante uma reunião quando o homem não quis tratar dos assuntos com ela, e talvez o homem tenha corrido até Hugh, pálido como papel, e talvez Hugh tenha rido muito disso depois, quando pedia à sua esposa para não fazer aquele tipo de ameaças e tentar ser mais diplomática com os homens, ao que ela respondera mandando-o ao inferno com todos os advogados juntos. Ela era o verdadeiro visconde de Beckham, e Hugh estava muito feliz com isso tudo.

- O que vocês estão fazendo? - Cat tirou-o dos seus pensamentos, sentando-se ao lado de Hugh e puxando William para o seu colo.

- Eu só estava tendo uma conversa com os nossos filhos e ensinando-os como seduzir algumas damas por aí. - Hugh respondeu com um dar de ombros e um sorrisinho de lado. Cat lhe deu um olhar sério e repreensivo. - Eles são homens, anjo, precisam aprender essas coisas desde cedo.

- Eles têm um ano e meio, pelo amor de Deus! - exclamou ela, fazendo Hugh rir.

O debate dos dois foi interrompido por Michael querendo trocar o colo do pai pelo da mãe, o traidorzinho. Cat o apoiou na outra perna enquanto o menino balbuciava um "mama" insistente para ela e esticava as mãozinhas.

Catarina não tinha ficado muito feliz quando a primeira palavra de William fora "papa", e passara uma semana olhando de cara feia para o marido e tentando fazer com que ele dissesse "mamãe" também, até que conseguiu um "maaa" que a deixou muito feliz e fez com que perdoasse Hugh por algo que ele nem mesmo tinha feito. Eles ficaram na expectativa por Michael para ver qual seria a primeira palavra dele, se o placar seria empatado com ele chamando pela mãe ou se Hugh ganharia aquela batalha também, mas o menino tinha preferido apontar para o cão de Beckham House e dizer "auau" em vez disso. Sua esposa negaria isso até o fim da sua vida, mas Hugh ainda via ela olhando para o cão com uma expressão de irritação.

Tudo bem que o casamento dos dois não era tão convencional como o dos irmãos dela, mas também não era um casamento por conveniência como muitos da sociedade tinham, e Hugh sentia-se feliz com aquela vida que levavam, mesmo que agora vivessem em Beckham House por conta do título que herdara e ele tivesse que passar alguns dias longe de casa e da família por conta da galeria de arte. Ele e Cat se amavam apesar de tudo e sempre davam um jeito de se resolverem, retomando o jogo deles em seguida e vendo quem se estressaria primeiro, e criando juntos os filhos lindos de cabelos negros e olhos azuis como a mãe. De um modo estranho, os dois eram felizes juntos e só isso importava.

Depois do ponto final + BônusOnde histórias criam vida. Descubra agora