Capítulo 4

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Presente

Um raio pode sim cair duas vezes no mesmo lugar

É como se o universo estivesse jogando comigo e mostrando,claramente, que é ele quem dá as cartas.

Sinto o ar denso e difícil de sorver. Todas as memórias naufragadas imergem de uma só vez, me arrastando de volta para o passado. Não é como se eu não tivesse imaginado o momento em que nos reencontraríamos, pelo contrário, isso passou pela minha mente mais vezes do que eu gostaria de admitir.

O vento gélido não é páreo para o calor que se apossa do meu corpo quando ele me toca. Suas mãos me erguem e no momento seguinte estou de pé. Levo alguns segundos para finalmente abrir uma distância segura entre nós.

Seus olhos incendiários perscrutam meu corpo minuciosamente , não sei se quer ter certeza de que não me machuquei ou se está apenas tentando se convencer de que sou real. Eu deveria  dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas as palavras ficam prezas na minha garganta.

Ele passa a mão pelos fios  espessos de cabelo e noto que estão um pouco maiores desde a última vez que nos vimos. Pelo modo como seu olhar oscila sei que ele está tão confuso quanto eu.

—Você está bem?—amaldiçoo meu próprio coração por errar uma batida quando o som familiar de sua voz inunda meus ouvidos.

Não respondo. Estou concentrada em encarar a figura que se materializa atrás dele. Meu corpo tenciona e meus pés enraizados no chão. Por um momento me esqueci completamente dos acontecimentos  últimos minutos. Como se o fato de eu ter socado a cara de alguém não fosse relevante o suficiente.

Kaleb segue meu olhar. Nós dois observamos enquanto o homem se aproxima a passadas largas. Sua expressão é uma mescla de ódio e indignação.

Reconheço o orgulho ferido de um homem. Ele provavelmente não estava acostumado a apanhar de uma mulher.

—Nós ainda não acabamos, sua vadiazinha.

As palavras fazem os ombros de Kaleb tensionarem e ele se vira ficando de frente para o homem. Seu corpo rijo forma uma barreira entre mim e a Figura Calva, então minha única visão é de suas costas largas cobertas pelo tecido escuro da blusa.

—Arranjou um cafetão?—a risada ecoa pelo estacionamento ainda mais próxima de nós.

Saio de trás de Kaleb e sob a pouca luz do estacionamento encaro os olhos esbugalhados do homem a nossa frente. Ele não é tão alto, mas ainda é intimidante.

—Eu não precisei dele pra socar essa sua cara repugnante—cuspo.

Seu sorriso murcha. "O ego masculino é algo tão fragil quanto um diamante" minha mãe disse uma vez, e como de costume ela estava certa.

Figura Calva dá um passo a frente e por reflexo eu recuo. As mão de Kaleb o afastam de mim agarrando seu colarinho e o prensado contra um dos carros. O homem se debate na tentativa de se livrar das mãos do moreno, o que é em vão.

—Tire as mãos de mim—brada.

—Não se preocupe. Eu não vou bater em você —a voz de Kaleb é baixa e controlada. Seus olhos pairam sobre mim por alguns segundos. —Ela vai.

Normalmente eu sou contra o uso de violência, mas naquele instante até mesmo o meu bom senso estava implorando para que eu fizesse aquilo.

Kaleb imobiliza o homem, segurando seus braços nas costas e o faz ficar de frente para mim. Franzo o nariz quando quando inalo o cheiro de bebida alcoólica e suor. Ao me lembrar da dor em minha mão quando o soquei da primeira vez descarto a ideia. Opto pela segunda opção, que é chuta-lo bem no meio das pernas e quando eu o faço  observo com satisfação seu rosto se contorcer em uma careta de dor. Um sorriso sutil se esgueira pelos lábios de Kaleb depois que ele solta Figura Calva e se afasta.

Andamos depressa até o outro lado do estacionamento.

Posso sentir o ritmo frenético do meu próprio coração a cada passo que damos.

—Foi um belo chute —me viro para encontrar os lábios de Kaleb curvados em um sorriso.

Mordo o lábio inferior pra impedir que uma risada escape.

Uma parte de mim ainda acredita que os últimos minutos tenham sido um delírio.

—Obrigada.

Estou perto o suficiente pra notar as pequenas sardas em seu nariz.
Sua boca se abre para dizer algo mas se fecha em seguida.

—Reese!— a voz de Minji nos alcança.

Observo o enquanto minha irmã se aproxima acompanhada de Luke, Tessa e uma figura baixinha que logo reconheço ser Elena.

—Meu Deus!— Minji me analisa dos pés a cabeça. Eu provavelmente estava uma bagunça.— Tessa disse que você foi atender ao telefone e sumiu por mais de meia hora. O que aconteceu ?— inquiri.

—E você não atendeu quando ligamos—diz Luke, consigo perceber a nota de preocupação em sua voz.

— Fiquei presa do lado de fora e meu celular descarregou—declaro.—Tinha um cara bêbado tentando gracinhas- completo rapidamente para dissipar sua preocupação.—Mas eu estou bem.

Decido não entrar em detalhes ou falar sobre o quase atropelamento.

A expressão de Minji suaviza. Tessa me lança um pequeno sorriso.

—Aí esta você!—Luke abre um sorriso e se aproxima de Kaleb dando-lhe tapinhas nas costas.— Você por acaso não tem um relógio?

Que merda é essa?

Minha cabeça estava a beira de um colapso. Meu cérebro simplesmente não conseguia processar as últimas informações.

Elena se aproxima de Kaleb e passa os braços por seu pescoço e cola seu corpo ao dele o envolvendo em um abraço demorado. Pisco algumas vezes e desvio o olhar.

—Não sou eu quem vai subir ao altar com você, Luke, relaxa.

— Quão péssimo padrinho você é, Jenkins?

Quase engasgo.

Ok.Isso era algum tipo de piada?

Encaro Ji  em busca de respostas, mas ela se recusa a me encarar. 

—Padrinho?—indago sem conseguir me conter.

Os olhos de Kaleb queimam em mim. Sinto- me exposta sob sua análise. Enrosco uma mecha cacheada de cabelo nos dedos e fixo meu olhar em Luke tentando me concentrar.

—Sim— meu cunhado replica.

Eu queria sumir. Queria que um ovini me abduzisse e me levasse para outro plante.

Talvez fosse impressão minha, mas eu podia jurar que vi um sorrisinho se esgueirar pelos lábios de Kaleb. Sinto-me inundada pelo familiar sentimento de querer socar sua cara.

Me dou conta de que as próximas duas semanas seriam tudo, menos tranquilas.

O resto da noite foi marcado por drinks e inquietação, até eu decidir que precisava urgentemente minha cama.

Mas ainda assim fui assombrada por um par de orbes queimando em esmeralda.

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