Passado
Fecho os olhos e por um segundo é como se eu tivesse dez anos novamente. É como se ele não tivesse partido e não faltasse uma parte de mim. Mas dura apenas um segundo.
Um mísero segundo.Meu pai costumava cantar para mim quando eu tinha pesadelos e não conseguia dormir, era a única coisa no mundo capaz de afastar os monstros inexistente debaixo da minha cama e os reais na minha cabeça. Agora não tem nada que os mantenha longe.
Gradativamente eu me esqueço do som da sua voz e isso me desespera, tanto que não consigo conter as lágrimas quentes e os soluços que escapam incessantemente da minha garganta.
Tem dias em que a dor fica mais suportável. Hoje não é um desses dias.
Senti-me grata pelo estacionamento vazio da Universidade, assim não precisei lidar com os olhares das pessoas, sejam eles de pena, julgamento ou qualquer outra dedução precipitada que tinham sobre mim.
Encosto a testa no volante deixando que meus cabelos formassem uma espessa cortina ao redor do meu rosto. Home de Phillip Phillips é a música que toca no rádio que foi ligado apenas para abafar o som do meu choro.
Vinte minutos ou uma hora. Não sei ao certo tempo estou aqui dentro sentindo meu coração sendo esmagado dentro do peito, uma dor quase tangível.
Respirei fundo várias e várias vezes, até sentir o ar circular de forma regular, levanto a cabeça e empertigo a coluna para tornar o ato mais fácil. Lentamente os soluços cessaram e eu pisquei algumas vezes para afastar as lágrimas teimosas.
Meus olhos e meu corpo pareciam pesar uma tonelada. Eu não havia dormido essa noite e o treino tinha sido ainda mais puxado hoje. Eu estava exausta.
Girei a chave na ignição e desliguei o carro interrompendo a música e o ar frio do ar-condicionado que impedia que o calor transformasse meu Porshe Cayman em uma espécie de forno ambulante.
Puxei minha mochila que estava jogada no banco do passageiro e me arrastei para fora do automóvel.
Observei atentamente a figura alta e robusta se aproximar. Os passos de Kaleb eram cautelosos, como se a qualquer momento eu fosse simplesmente fugir.
Agarro a alça da mochila jogada sobre os ombros. Faz mais de uma semana que não o vejo e o único sinal que tive da sua existência foi do seu jogo que Luke assistiu. Os parecem estar realmente desenvolvendo uma amizade.
Eu devia me sentir satisfeita por ele ter perdido o interesse em mim, exatamente como eu queria. No entanto tudo o que sinto é o gosto amargo da minha hipocrisia.
Acho que uma eternidade se passa até que e Kaleb estivesse parado na minha frente, os olhos analisando cuidadosamente meu rosto. Subitamente dei-me conta de que meu estado, que não devia ser dos melhores. Funguei apressando-me em limpar os rastros de lágrima e a pontada de constrangimento fazendo com que eu desviasse o olhar.
- Você deixou cair -explicou, estendendo a fita azul cintilante na minha direção.
Eu mal me dei conta de que o pequeno tecido que prendia meu cabelo tinha caído, provavelmente quando eu saí do refeitório minutos antes de sair correndo para o estacionamento. Então me dei conta de que Kaleb esteve esperando pacientemente do lado de fora, seja lá quanto tempo eu tenha passado dentro daquele carro ele esperou.
Eu apenas o encarei com curiosidade e um pouco perplexa. O moreno se aproximou sem dizer nada, com a mão direita puxou levemente meu braço fazendo com que eu ficasse de costas para ele, o local onde tocou parecia arder. Eu estava confusa, mas permaneci quieta até que senti suas mãos deslizarem pelo meu cabelo. Era perceptível que Kaleb sabia exatamente o que estava fazendo e mesmo quando ele cruzava as mechas grossas de meu cabelo em uma trapaça, prendendo a ponta com a fita. E ainda assim minha única reação foi ficar ali parada.
As vezes o silêncio diz tudo o que as palavras não conseguem.
Senti falta quando ele se afastou e foi até a Harley. Seus braços cobertos por uma camisa branca se ergueram na minha direção segurando um capacete. Aquilo era um convite silencioso. Me aproximei, porém, quando meus olhos encontraram os nós vermelhos de sua mão eu hesitei.
Kaleb percebeu.
Pela expressão que vi quando escrutinei seu rosto acho que ele estava esperando que eu recusasse e desse meia volta, e eu estava pronta para o fazer. Entretanto, as palavras que saíram da minha boca foram completamente contraditórias.
-Preciso estar de volta em menos de duas horas. - Peguei o capacete e enquanto ele prendia o seu, com um sorrisinho permeando seus lábios perfeitos.
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Solstício de Verão
Storie d'amoreReese é uma talentosa bailarina que vive em New York e cursa seu terceiro ano na prestigiada universidade de Juilliard. Quando sua irmã mais velha está prestes a se casar, Reese se vê de volta no tão familiar verão californiano de Santa Monica, sua...