Era uma terça-feira, chovia muito desde a sexta, as estradas estavam repleta de lama e poças, o frio era absurdamente congelante, quando Fátima me encontrara sangrando no banheiro. Infelizmente eu esquecera de trancar a porta e ela conseguira entrar e me ajudar. Aquela maldita porta, maldita tranca que por culpa dela eu continuara aqui. Eu estava exausto naqueles últimos dias, havia andado perdido e eu não sabia o porquê exatamente, talvez eu soubesse, mas a verdade estaria no meu mais subconsciente. Eu só queria morrer. Não foi nada relacionado à Edite, Antônio, Branca, meu pai ou minha mãe, eu só fiz o que eu tivera vontade e eu não pensara neles, nas pessoas que eu mais amava e que faziam diferença na minha vida, isso me fez de um egoísta, provavelmente, mas no momento eu não pensara em nada. Eu acho que foi isso que minha mãe sentiu. Fátima quase me levara ao hospital, porém eu a implorei que não me levasse, ela num ato de desespero tentou estancar meu sangue, colocando algumas ataduras nos meus pulsos, algo que funcionou, mas eu tive que usar camisas com mangas longas até que sarassem, mas era perfeito já que chovia tanto.
Àquela altura, eu já voltara a falar com Edite, porém ainda desconfiado. Eu sentia que ela sabia o que ocorrera naquela terça, porém ignorava, talvez por ser algo tão pesado de ser dito em voz alta, aquilo era demais.
— Eu te considero muito, Genésio. — disse ela, enquanto olhávamos, do alpendre, a chuva se tornar cada vez mais agressiva.
— Eu sei.
— Por que você não liga para eles? — perguntou.
— Iria deixar registrado na lista de ligações, eu não quero dar explicações para meu pai.
— Mas por que isso seria tão mal se seu pai soubesse?
— Você não o conhece, não é? Eu não sei do que ele seria capaz de fazer se descobrisse que eu estou num triangulo amoroso com um homem, negro, e uma garota, ambos pobres.
— Eu já percebi o preconceito nessa casa, mas não sabia que era tanto. — respondeu ela, sentando na rede que eu estava.
— Eu poderia fazer uma faculdade, mas significaria eu ter que depender desse homem por mais anos e eu não quero isso.
— Tudo passa.
Ela se deitara ao meu lado, com o rosto encostado no meu peito, aquilo foi tão reconfortante que eu não conseguia estimar o quanto, mas eu ainda reprimia meus sentimentos por ela, eu sentia que era errado, porém eu não conseguia dizer não. Eu a amava, mas não aceitava isso, era uma luta entre minha mente, meu coração e meu instinto animal. Eu a queria beijar, mas toda a vez que fazíamos contato visual eu sentia um embrulho na minha barriga, eu ainda tinha medo de iludi-la, medo de ainda não saber o que eu sentia. Plano do meu pai ou não, eu estava passando a imaginar Edite na minha vida nos próximos anos, num futuro próximo, talvez eu realmente casasse com ela ou vivesse com Branca e Antônio, ou com os três, eu não sabia, mas tinha receio que esse amor adolescente não durasse para sempre... e não durou. Às vezes, o amor não é suficiente.
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Adágio
RomanceA novela retrata os sentimentos do jovem Genésio em meio ao caos do ambiente que vive e ao da sua mente. Sempre no seu limite, ele tenta amar, porém quando esse amor não é suficiente se torna perigoso, levando-o à infelicidade, seu próprio desdém e...