Capítulo VI

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                  O sol já despencara e a lua se já se acendera no céu. Estava ficando frio. Apenas de mais de dois terços das pessoas da festa restaram, as quais iriam continua-la junto ao meu pai, mas não na fazenda. Eu e Edite estávamos deitados numa rede, apenas existindo e aproveitando, fazendo nada, deitados encostados um ao outro, isso. Meu pai, já bêbado, viera até ao alpendre de onde estávamos.

— Você se sente melhor, Edite? — perguntou ele, com voz enrolada.

— Sim, tio. Não se preocupe. — respondeu, se levantando e sentando na rede.

— Que bom. Meninos, estou indo para o bar do Raimundo, no centro. Não me esperem. Qualquer coisa, minha arma está na gaveta da sala, do lado do espelho. — disse ele, logo após voltou para onde estava para se preparar para ir ao boteco.

                   Uma arma? Para que se usar uma arma àquela altura? Bem, nós nunca sabemos. Restara na casa apenas eu, Edite e Fátima que uma hora dessas deveria estar limpando a sujeira que as visitas haviam feito. Depois de jantarmos, eu e Edite voltamos para a rede e acabamos caindo no sono. Àquela altura da noite, eu perdi as esperanças que Antônio e Branca viriam, e eu passava a aceitar que eu os perdera. Porém, eu acordei com assovios partindo da porteira, era Antônio. Era por volta das onze da noite, eles estavam agasalhos por conta do frio. Edite acabou acordando quando me levantei da rede, vestimos nossos chinelos e fomos até a porteira.

— Eu pensei que vocês não vinham mais. — eu disse, abrindo a porteira.

— É. Eu também. — disse Branca, aparentemente chateada, entrando.

— Restou alguma bebida da festa? — perguntou Antônio, minutos depois, olhando em volta e vendo as garrafas vazias no terreno.

— Creio que sim. Vocês querem? — perguntou Edite.

                    Antônio e Branca se olharam por um momento, mas acabaram concordando. Sentamos nas escadas do alpendre enquanto Edite fora buscar as bebidas.

— Me desculpem por passar tanto tempo sem dar notícia. — eu disse para quebrar o silêncio.

— Tudo bem. — respondeu Branca.

— Sério? — perguntei, surpreso que ela não estava com raiva, ou pelo menos fingia não estar, e se fingia era muito bem.

— Eu entendo. Você quis aproveitar o tempo que sobrara junto à ela. Não te julgo. — respondeu ela.

                    Eu fiquei em silêncio, não quis responder àquilo, ou pelo menos era covarde demais para responder. Edite chegara com uma bolsa com mais de dez garrafas e entregara uma para cada um. Ela também trazia em seu ombro um lençol longo e comprido.

— Para quê isso? — perguntei.

— Não vamos ficar aqui. Está é um tédio! Vamos para o campo, quero ver os cosmos.

— Não! Aqui está bom. — eu disse, manhoso, segurando na perna de Edite.

— Vamos, preguiçoso! — disse Antônio me levantando e me colocando nos seus braços.

— Não, não! Me ponha no chão, eu vou cair! — falei rindo, aflito.

— Não vai. — ele respondeu, firme.

                  Quando chegamos no campo, um lugar aberto e alto, que dava para ver a casa e boa parte da fazenda, Edite estendeu o lençol no qual se deitou e puxou cada um de nós.

— Isso é tão grande que dá medo. — disse Antônio, se referindo ao céu estrelado, sentado com os braços estendidos para trás como suporte.

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