Caroline e Audrey

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 As temperaturas estavam baixas. Audrey colocara as suas botas forradas a pelo de animal por dentro, um casaco de tweed comprido, quente e elegante, uma camisola de gola alta de tonalidade verde musgo, uns jeans justos e não se esquecera de colocar umas luvas bem quentes.

 Nevara sobre a vila irlandesa e o chão encontrava-se coberto de neve. Mal abriu a porta de madeira da entrada, foi atingida por uma golfada de ar frio que a enregelou por inteiro. Fechou a porta atrás de si rapidamente, calcando a neve com as botas confortáveis e formosas.

 Alguns flocos de neve caiam, sorrateiros e esplendorosos, do céu. Vestígios de neve encontravam-se nas coníferas esbeltas. O cheiro a pinheiro entranhava-se nas narinas de Audrey que sentia o nariz congelado.

 Bem dissera a sua mãe que o dia estava pavoroso, coberto de uma bruma espessa com cheiro a floresta. Mrs. Hawkings ligara a desculpar-se por não poder vir lanchar a sua casa como prometera. Seria um breve convívio, pois esta estaria a fazer uns trabalhos junto à casa de Audrey e aproveitaria para beber um café quente, indo de seguida para casa. Trazer-lhe-ia um livro que pensara que ela iria adorar, contudo o mau tempo impedira-a.

 As estradas estavam cobertas de camadas de neve nos locais de maior altitude, junto à vila, e a senhora de cabelos cor de canela confessou que remediaria os seus planos com alguns mais simples. Dominic, segundo ela, ligara a lareira e encontrava-se a ler um livro no sofá, na parte extensa deste e tivera que cancelar o que tinha combinado fazer com dois colegas. Estava resignado, segundo o que a mãe dissera.

 O pai de Audrey vestia um anoraque escuro forrado a lã e cortava lenha em pequenos pedaços no exterior da casa a fim de a colocar na lareira. Audrey acenou-lhe com um breve sorriso antes de sair da propriedade.

 Aventurou-se pelas ruas da vila irlandesa, colocando o cachecol de lã de ovelha à volta da sua face, que começava a ficar vermelha. A parte mais quente do seu corpo eram os pés, forrados com meias grossas castanhas cobertas por botas forradas a pelo.

 Poucas pessoas se encontravam na rua, aliás, os indivíduos que Audrey avistou estavam nos cafés, aquecidos pelas salamandras a lenha, a beber cerveja, a beber café ou a beber chocolate quente.

 Para pouco agrado dos donos, alguns carros ficaram cobertos de camadas grossas de uma tonalidade branca bela, sem sujidade, na parte frontal destes. Um homem de cabelos claros, vestido elegantemente suspira enquanto tenta retirar cuidadosamente os vestígios de neve do capô e dos vidros.

 A ponte sobre a magnificente lagoa estava salpicada com açúcar em pó frio: os flocos de neve. Algumas flores de inverno estavam cobertas destes lindos enfeites e um senhor de uniforme escuro, com um casaco abrutalhado, limpava com uma pá de ferro grossa, pesada e vigorosa o passeio.

 Caminhou vagarosamente, chegando até à rampa que a conduziria até à pastelaria enquadrada numa pitoresca esquina. Empurrou a porta de madeira, ouvindo-se o tilintar familiar ao qual já se habituara e foi engolfada por ar quente, confortável e caloroso, que a fez suspirar e retirar o casaco grosso.

 O estabelecimento da velha senhora animada estava cheio, as mesas repletas de pessoas que aproveitaram o sábado para sair de casa um pouco, a pé, e dirigiram-se para os cafés para passar um bom tempo com os colegas, esposa ou marido ou com os filhos que saiam da catequese àquela hora. Não existiam mesas livres e algumas pessoas esperavam junto ao balcão pelos seus pedidos.

 Mrs. Hogdson serpenteava desenfreadamente entre a cozinha e o balcão, atarefada e em euforia, colocando os pedidos nos sacos acastanhados e entregando-os aos clientes com um sorriso cansado, mas animado.

 Até ao momento em que chegou a sua vez não viu Nathan. Conseguiu vislumbrar a figura delgada e pequena de Caroline entre os produtos frescos que circulavam em suas mãos, contidos em saquinhos pequenos. Uma senhora de cabelos castanhos, de cabelos atados e pescoço esguio, também estava do outro lado do balcão, atendendo simpaticamente os clientes. Sinais de Nathan eram nulos.

Audrey {Dezembro de 2014}Onde histórias criam vida. Descubra agora