Capítulo I

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 Este será o primeiro capítulo desta história. O título é o nome da personagem principal, Audrey. Audrey têm uma maneira de ser distinta, espero que gostem dela. Bem, sem mais rodeios, aqui está o primeiro de vários capítulos:

 Paul tinha deixado cair a sua máquina fotográfica. Bem, esse era o facto com o qual Audrey James Ross tentava lidar. Perplexa, com os olhos fixos no seu colega de turma favorito, a jovem de cabelos cor de trigo estava pálida. Ao ver tal expressão, Paul Harris temeu pela saúde dos seus ouvidos, percebendo que teria de ir em breve ao otorrinolaringologista. Todos esperavam a reação da jovem de dezasseis anos. Na mente desta, pensamentos assassinos passavam, tal como assassinar Paul com uma arma por ela possivelmente no futuro inventada, deixando-o antes pedir-lhe perdão de joelhos. Para Audrey Ross, a sua máquina fotográfica é sagrada, assim como o seu álbum de fotografias.

 A irlandesa comprara o seu álbum num antiquário conhecido da cidade e desde aquele momento este permanecia guardado no seu quarto, mais propriamente debaixo da secretária, numa gaveta fechada. Mexer naquele álbum de fotografias seria um sacrilégio, assim como rasgar a obra de arte feita por Leonardo da Vinci que se encontra em Paris.

 - Audrey! – Paul tentava inutilmente livrar-se do sentimento de culpa que o corroía. O rapaz sabia o quão importante aquela máquina fotográfica  era e tinha-a deixado cair pois não tivera cuidado. – Audrey !

 - Eu não consigo acreditar… - pedaços da lente da máquina fotográfica encontravam-se no chão espalhados. A jovem tentou reuni-los sem sucesso, acabando por cortar ligeiramente um pouco de pele. Gemeu de dor ao levar o dedo à boca. Paul e os seus colegas de turma permaneciam a observar o que se passava curiosos.

 - Audrey, eu posso pagar-te uma nova…

 A loira olhou-o indignada colocando a parte intacta da captadora de momentos na respectiva mochila própria. Levantando-se desanimada, esta colocou a mochila da escola e a da máquina às costas, suspirando.

 Eram seis da tarde e esta ainda tinha que ir para a explicação de Inglês que teria com uma professora de cabelos sempre presos. Audrey detestava-a.

Caminhou rapidamente até ao carro da sua mãe, com auxílio do guarda-chuva que a abrigava da torrencial chuva que caía em território irlandês. Em vez de achar o tempo nublado e chuvoso deprimente, a loira considerava-o belo e inspirador. Avistou um carro preto familiar ao longe e tentando não calcar poças de águas, correu até lá

 - Como correu o dia? – a sua mãe adoptiva inquiriu, assim que esta se sentou no lugar do passageiro. A jovem de cabelos cor de cereais bocejou, deitando a cabeça no banco. Estava cansada e o incidente passado tinha arruinado o seu dia.

 - O Paul deixou cair a minha máquina fotográfica… - ela contou.

 - Oh, Aud, não fiques desanimada. Podemos repará-la. – a mãe sugeriu de forma simpática.

 Levando os dedos ao embaciado e frio vidro do carro, Audrey fez uma expressão aborrecida, reflectindo. Ela sempre tinha desculpas para os seus erros, visto que era a frágil menina adotada que qualquer medida que não lhe agradasse podia fazê-la tomar decisões erradas. Todos temiam as suas reacções. Audrey achava essa ideia totalmente absurda. Durante toda a sua vida não soubera a razão para ser deixada no orfanato, contudo, dada a extrema preocupação dos seus pais, esta começava a pensar na possibilidade dos seus pais terem sido criminosos, toxicodependentes ou algo não tão positivo como desejado.

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 Nathan estudava Matemática A à luz de uma candeeiro barato. Estava sentado num banco de madeira frágil da cozinha enquanto a sua mãe cortava cenouras em rodelas.

 Olhou através da janela do 5ºandar, observando as luzes noturnas ligadas. As mangas da sua camisa de uniforme azul estavam arregaçadas e o seu braço direito encontrava-se pousado sobre a pequena mesa em vidro.

 O seu caderno de rascunhos possuía diversos cálculos feitos a caneta de gel preta, a qual por vezes manchava a sua roupa. Nathaniel Springfield tentava finalizar o problema com  o qual se deparava há uns bons minutos. A sua cabeça encontrava-se apoiada na sua mão, enquanto este refletia.

 - Nathaniel, George tirou uma melhor classificação que tu. Isto é ridículo.– Mrs. Springfiled pegara no teste do seu filho adotivo, analisando-o.

 - Mãe, eu não quero estar a competir com ninguém.– Nathan suspirou, mexendo nos cabelos castanhos.

  - Nathaniel Springfield, eu não admito que tu obtenhas pior classificação do que o filho da Anne. – a mãe adoptiva de Nat resmungava. Pegou no seu teste olhando com repulsa o excelente resultado obtido. Nathan obtivera dezoito em vinte pontos no teste de Física; todavia o jovem filho de Anne, George, conseguira cinco décimas a mais, algo que para a mãe do rapaz de cabelos castanhos era inadmissível. Karen Springfield é professora de alemão na escola que o seu filho adotivo frequenta; casada com pseudo-empresário dono de uma minúscula empresa, é uma mulher infeliz.

  - Mãe, é uma excelente nota. – o rapaz defendeu-se.

 -  Nathaniel, como podes estar feliz? – a sua mãe colocou as mãos na cintura – Tu não és extrovertido, tu não tens nenhum verdadeiro amigo. O que é que tu vales além das notas?

 Esta é a típica frase de Karen, que já é tão habitual de ser ouvida por Nathan que quando esta a profere este já nem se parece importar. Ele habitou-se a ter uma mãe frustrada com tudo o que faz, exigindo sempre cada vez mais.

  O rapaz de olhos cor de chocolate preto, suspirou voltando a sua atenção ao exercício que anteriormente resolvia.

 Eram oito da noite, apontava o relógio da cozinha e Nat  no dia seguinte teria prova de Matemática Aplicada, algo que o fazia estar um pouco nervoso ainda no dia anterior. Chegara apenas às cinco a casa pois estivera no seu emprego em part-time a tarde inteira e neste momento tentava ao máximo recompensar o tempo perdido.

  - Nathaniel, vai levar o lixo aos contentores.– Mr.Springfield ordenou, assim que chegou a casa.

 O rapaz de cabelo castanho virou-se para a mãe na esperança de esta o livrar de mais uma tarefa; o que não aconteceu.

 - Mãe, eu tenho teste… - este tentou convencê-la.

 - Nathaniel, faz o que o teu pai te mandou. – a senhora de cabelos castanhos claros mandou, com uma voz fria. O jovem limitou-se a respirar fundo, levantando-se da cadeira, indo em direção à porta depois  de pegar com nojo no saco do lixo. – E despacha-te. Não vou ser eu a pôr a mesa.

 Springfield desceu pelas escadas, optando por não contaminar o elevador com o mau cheiro que o saco do lixo deitava. Acendeu as luzes que se encontravam na parede e desceu lentamente as escadas, aproveitando para refletir.

 O jovem Nathan é um rapaz infeliz, vive na sombra de uma mãe exigente e frustrada e de um pai um pouco ausente e influenciável. O irlandês logo após despejar o lixo no contentor sentou-se nos pequenos degraus antes da porta de entrada. Este apoiou o queixo numa das mãos observando o céu estrelado. Chuva caía por cima deste, no entanto esse facto não lhe importava. De facto, este até se sentia grato por isso, deixando as suas lágrimas misturar-se com as gotículas de chuva que caiam do céu, tão revoltadas como ele, batendo com força no chão e fazendo um barulho forte. Nat desejou ser outra pessoa, ele odiava ser ele próprio. Ele nunca fora bom o suficiente, ele nunca fora amado pelos seus pais, ele fora deixado e nem os seus pais adotivos lhe dão valor, mesmo que ele tente desesperadamente tê-lo.

 Porquê? Para Nathan saber a razão é fundamental. Qual foi a razão para o deixarem? Durante anos formou-se um sentimento de tamanha revolta reprimida que o fazia quase sufocar nesta. Ele apenas precisava de saber a razão.

 Ninguém o compreendia, ninguém o livrava daquela tortura que cada vez o fazia mais afundar. Como tripulantes de um navio a afundar, cada vez mais a ir ao fundo, desejosos que algo, algo sobrenatural os salve, que alguém se importe com eles e com as suas pobres vidas. Para Nathaniel, ninguém se importa com ele, contudo este está enganado.

Audrey {Dezembro de 2014}Onde histórias criam vida. Descubra agora