A ponte dos sonhos

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 Duas semanas se passaram desde a ida de Audrey ao café onde Nathan trabalha pela primeira vez. Pelo local passa diversas vezes, entrando quando nota a presença do rapaz de cabelos castanhos no meio de bolos, broas, pães e pãezinhos.

 Ficou a saber que Nathan lá trabalhava desde as três horas às sete horas à sexta-feira e durante o Sábado a manhã inteira, por ele mesmo, que acabou por lhe contar enquanto preparava um descafeinado para ela, que espreitava pelo balcão o que ele fazia.

 E a rotina de sexta-feira manteve-se, desde que havia sido formada semanas antes. Eram cinco e meia da tarde quando o sininho tilintou com a entrada da loira, recebendo esta um sorriso fechado do rapaz com um avental castanho salpicado com farinha.

 A azáfama das cinco horas começava a desvanecer, sentando-se ela numa pequena mesa junto à janela, por onde escorriam gotículas de água. O rapaz de olhos cor de chocolate acabou de atender dois clientes dirigindo-se à mesa onde se encontrava a jovem que ansiara ver. Começava a tornar-se hábito esperar vê-la passar aos Sábados pelo café, entrando para comprar quatro pãezinhos acabados de fazer ou simplesmente acenar-lhe pelas vidraças antigas, recebendo um aceno extremamente recatado seu.

 Naquela tarde de sexta-feira já ele esperava vê-la, tornara-se uma cliente fiel e já conseguia adivinhar o seu pedido quanto aos hidratos de carbono, podendo apenas variar a bebida que poderia ser eleita como chá, leite quente com chocolate em pó ou descafeinado a fumegar.

 “Posso ajudar?” – ele inquiriu quando chegou bem perto de si, com um bloco de notas e uma caneta na mão. Audrey sorriu perante a sua figura, assentindo.

 “Olá Nat! Eu quero um pãozinho recheado com nozes e a cobertura de raspas de chocolate e para beber uma chávena de chá de camomila, por favor.” – ela pediu educadamente.

 Observou-o voltar ao local de onde viera, preparando o seu pedido. Com agilidade, retirou um dos livros que estava a ler da mochila e colocou-o em cima da mesa, optando por estudar em casa à luz de um candeeiro e com apoio de uma cadeira de estudo própria.

 Abriu o portador de histórias onde o marcador se encontrava, lembrando-se ao ler as últimas frases do acontecimento no qual parara. Retomou a leitura, atenta às frases, cada vez mais ansiosa por saber o desenrolar do enredo pelo qual cada vez se encontrava mais curiosa.

 As suas mãos delicadas, com unhas pintadas num rosa claro, folhearam as cinco páginas que conseguira ler até à chegada do rapaz magro e introvertido.

 Audrey aproveitou para o questionar logo que pode, percebendo que nenhum cliente esperava pelo atendimento de Nathan e que os que entraram estavam de momento a ser auxiliados pela dona do estabelecimento.

 “Qual é o teu preferido?” – perguntou logo que ele pousou o seu pedido na pequena mesa ao fundo. Apontou para o pãozinho, dando-lhe a entender do que falava.

 “Eu pessoalmente adoro o de framboesas desidratadas.” – ele replicou. Sentiu que a sua voz soara de uma forma estranha, pelo que se recriminou mentalmente por isso. – “O de nozes é o teu favorito?” – ele inquiriu, percebendo que se tinha denunciado. Audrey pode perceber que ele sempre reparava sempre nos seus pedidos, sentindo-se intimamente alegre por isso.

 “O de nozes é sim o meu favorito, contudo nada me opõe a novos sabores. O de framboesa é certamente novo, pois não sabia da sua existência.” – ela constatou.

 “Sim, é.”

 Nathan suspirou envergonhado e franziu os lábios cheios, sem saber o que mais acrescentar. Ele não conhecia a loira, logo conversar com ela representava-lhe um obstáculo.

Audrey {Dezembro de 2014}Onde histórias criam vida. Descubra agora