O café da Mrs. Darlene Hodgson

118 13 4
                                    

 Por mais de uma vez, enquanto passeava pelo corredores monótonos e frios do estabelecimento de ensino que frequenta, aconteceu a Audrey ver Nathan. Habitualmente ele encontrava-se sozinho, com livros nas mãos e com auriculares nos ouvidos -  alheio a todas as pessoas que o rodeavam - , a guardar o equipamento de Educação Física no cacifo ou a conversar com professores.

 Surpresa foi a dela, quando se sentou num velho café aconchegante e com bolos e pães deliciosos e acabados de fazer, vendo Nathan a atender atarefadamente clientes que se encontravam junto ao balcão.

 Darlene era dona do estabelecimento antes do seu pai adotivo ter nascido e sempre tivera um enorme gosto pela confeção de tão deliciosos doces e pãezinhos. Pelas palavras da sua avó paterna adotiva, a proprietária do quente local fundara-o juntamente com o seu primeiro namorado. Boatos surgem sobre ambos terem inventado diversas receitas a partir de princípios básicos e confeções tradicionais de certos doces britânicos, enquanto dialogavam apaixonadamente na cozinha dos pais dele, que eram originários da França.

 A senhora de cabelos castanhos curtos tirava os pães acabados de fazer do forno, deixando os dois funcionários, tirá-los para os colocar em sacos, recheá-los com fiambre, queijo, manteiga ou no caso dos pãezinhos pequenos, os que Audrey preferia, polvilhá-los com chocolate em raspa.

 Na cabeça de Nathan, assim como na de uma jovem ainda mais nova, talvez com quinze anos, encontravam-se chapéus de pasteleiro rubricados, já usados desde a inauguração do pequeno café anos e anos atrás. Os cabelos do rapaz de olhos castanhos tentavam escapar por entre os locais livres, conferindo-lhe um aspeto distraído e atarefado, típico de tanta azáfama.

 Deparou-se com a rapariga pequena e sorridente, que segurava um bloco de notas nas mãos delgadas. Pediu-lhe então que lhe trouxesse um copo de leite quente com chocolate em pó e um pãozinho recheado de nozes e polvilhado com raspas de chocolate belga.

 Conseguiu denotar a presença da mochila gasta do rapaz, encostada ao local onde habitualmente se colocam os guarda-chuvas encharcados. Era escura e a sua cor não tão viva como na altura da compra, com certeza, pode perceber a loira devido ao tom desgastado que esta adquirira.

 O movimento típico da hora do lanche, foi-se esvaindo, deixando os dois funcionários jovens mais calmos.

 Nathan, ao entregar o último saco de pastéis da fila, respirou fundo, encostando-se discretamente ao balcão. Darlene sorriu-lhe com afeto, fazendo-o sentir-se aliviado e reconhecido. Sempre gostara da companhia da senhora idosa repleta de adoração. Quando limpavam o chão ao fim do dia, conversavam sobre o dia que tinham passado, sabendo o rapaz que ela sentia-se verdadeiramente curiosa sobre o decorrer da sua manhã na escola. Nathaniel gostava da sua companhia.

 Foi ele próprio que equilibrou nas trémulas mãos a chávena quente com leite quente com chocolate em pó e o pãozinho especial do café, encaminhando-se inseguro na direção da loira.

 Os olhos claros de Audrey fitaram-no atentamente, detendo-se nos seus sóbrios traços e nas maçãs do rosto ligeiramente rubras. Sem nada dizer, pousou cuidadosamente o pires com conteúdo sólido em frente à jovem, colocando logo depois a chávena branca de porcelana na superfície de madeira trabalhada para um efeito que varia entre o requintado e o inovador.

 “Trabalhas aqui?”- Audrey interpelou-o.

 Nervoso e sem esperar qualquer pergunta vinda da loira, virou-se repentinamente, apoiando uma das mãos na cadeira livre que se encontrava frente à moça.

 “Sim, em part-time.” – ele retorquiu, numa voz de aparente calma.

 A irlandesa questionou-o acerca de alguns aspectos relativos à escola, tais como de turma era, desde que idade frequentava o estabelecimento, se gostava de lá andar, entre outros. Alguns aspetos descobriu advindos à breve conversa com o rapaz tímido, contudo logo ele se esquivou, dando como desculpa o facto de a sua colega necessitar de ajuda na cozinha.

Audrey {Dezembro de 2014}Onde histórias criam vida. Descubra agora