Pirofobia

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Boa leitura!

Ayla disse que ela podia dormir, mas Zero não conseguiria, nem se quisesse, enquanto estivesse naquela engenhoca de metal amarrada por aquelas tiras. Por sorte, ela teve uma pausa disso quando pararam em Pie Town para comerem tortas no Gatherin Place (Zero realmente achava que não dava pra superar o cheeseburger até então).

Depois disso elas seguiram viagem por mais algumas horas, ouvindo uma estação de rádio com Ayla cantando junto as vezes, e mostrando suas músicas favoritas. No caminho ela explicava as regras no trânsito e Zero absorvia tudo o que podia. Ela também aprendeu sobre a compulsão. 

– Parece fácil. Por que nunca consegui fazer isso antes? – ela perguntou. 

– Verbena não é apenas tóxica para você – Ayla explicou, sem tirar os olhos da estrada. – Ela também serve como proteção contra a compulsão quando humanos a usam. No meu caso, eu sou uma bruxa e não posso ser compelida.

– E você pode explodir minha cabeça. Isso é bem… hum… como é mesmo que fala? Legal. Isso é bem legal.

– Foi só um aneurisma. Você se cura.

Zero então aprendeu sobre o ataque padrão que deixava os seres sobrenaturais com a dor no cérebro, e de como as relações entre bruxas e vampiros tendiam a serem conturbadas. Ela entendeu o que era ser uma híbrida: uma mistura de dois. Segundo Ayla, algo que não deveria existir.

– Mas vampiros também não deveriam existir – ela deu de ombros.

Ao anoitecer, a fuga das enfermeiras lunáticas cobrou seu preço, então elas pararam em Amarillo para passarem a noite em um motel barato.

O que veio a seguir foi Ayla falando agitada no celular. Zero ficou tentada a ouvir a outra parte da conversa, porém ela já havia aprendido com as enfermeiras os atos que "violavam a privacidade" – que resultavam em tímpanos queimados. De qualquer maneira, a mulher estava mais relaxada e sorridente no final da conversa.

– Tudo bem, então. Vou te aguardar.

Ayla odiou sua cama, mas Zero não parecia ter problemas com a sua. Ela deixou a híbrida sozinha e foi tomar um banho merecido – e ficou frustrada pela falta de água quente, porém não verbalizou isso. Ela não se importou em secar o cabelo. Zero, por sua vez, já estava livre de seus sapatos, esfregando os dedos dos pés contra o chão com a sugestão de um sorriso nos lábios. Em vinte e quatro horas ela nunca pareceu tão relaxada e satisfeita.

– Eu sugiro que você durma também. Teremos mais umas seis horas de viagem para Dallas amanhã – Ayla falou já se acomodando na cama, e em poucos minutos ela já estava dormindo.

Zero não sentia o sono da mesma maneira havia um tempo. Desde a primeira morte, quando acordou com aquela fome que era saciada pelo sangue, o ato de dormir consistia em… desligar.

Quando havia exames e ela era submetida a dor e contenções, ela sentia que queria apagar, e ela apagava. Dormir cessava tudo, levava ao esquecimento bem vindo, acalmava o excesso de sensações, de memórias fora de uma linha de tempo. Depois de todas as pessoas que matou em seu caminho de fuga até Ayla, ela se permitiu dormir com o som de uma voz gentil como era a da bruxa. Mas desligar era imprevisível.

Às vezes ela apenas despertava disposta, com a cabeça mais leve, curada de qualquer atividade que tenha exercido.

Às vezes ela se via em meio ao fogo.

Zero tinha medo do fogo mais do que das próprias enfermeiras, quase como temia os guardiões. Depois de ser declarada "uma híbrida de sucesso" as imagens passaram a ficar cada vez mais embaçadas, mas ainda estavam ali, voltando e voltando, de novo e de novo. Sempre imprevisível.

Zero - Klaus MikaelsonOnde histórias criam vida. Descubra agora