capitulo 4

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KAROL

__ Não consegui enxergar uma coleção. - Séria, e um pouco receosa,
ela dá o veredito - Você deixou de seguir um padrão nos desenhos do... -
ela folheia rápido as paginas de croquis - um ao cinco. Está parecendo
roupas aleatórias.
Coloco meus óculos de leitura, esqueci de colocar as lentes hoje
cedo, estendo a mão e ela me passa a pasta. Olho e só então vejo que ela
tem razão.
- Você errou um pouco no acabamento e no tipo de tecidos muito
diferentes. Esse aqui - ela aponta para um desenho - seria ideal para
outono inverno e não primavera verão, como a coleção pede - Ela explica
e continua: - Precisa de mais expressividade karol , e alguma
similaridade que indique que os modelos se integram na mesma coleção
Supreme.
Tiro os óculos e franzo a testa para ela.
- Está em que período da faculdade?
- Segundo. - Ela fica enrubescida, sem graça. - Mas leio sobre moda
desde sempre. Acompanhei muitas coleções da Madde.
- Você é boa no que faz. Quando vai se afastar?
- Pelo meu noivo, seria no terceiro mês de gestação. Mas já pedi a
licença para semana que vem.
- Ah que pena! Quer dizer, é ótimo você ganhar o bebê, mas será que
dá tempo de voltar para o desfile? Carolina  melhorou horrores depois que você
está ajudando-a. Inclusive... - bato os dedos na mesa e me inclino um
pouco em direção a ela.
- É... - Olivia desvia o olhar, toquei no assunto que vim
percebendo há algum tempo e ela se denunciou com uma única expressão.
- Você tem algo para me contar sobre seu trabalho com a carolina ?
- Sobre... o que?
- Uma pessoa não muda assim da noite para o dia. Carolina  sempre foi
fraca nas ideias de moda e de uma hora para outra apresenta os melhores
desenhos. Sem falar que percebi como seu gosto se parece com os meus,
você tem bom gosto. E percebi isso desde a primeira semana que começou
com a gente.
- Eu... - ela fica rosada e morde os lábios abaixando os olhos.
Decido não pressionar. Eu li algumas coisas sobre Olivia, não sei se ela
ainda está traumatizada, com o que lhe aconteceu meses atrás. Não vou
força-la a nada, vou apenas fazer um teste. Ela está saindo de licença e
vou ficar de olho em carolina . Acho que minha prima está aproveitando da boa
vontade da assistente.
- Deixa pra lá. Você vai sair logo de licença, depois irei visitar
seu bebê.
- Ah! Sério? - Ela dá um sorriso largo e coloca a mão no peito. -
Que ótimo. Estarei esperando.
- Vou sim. Prometo. - Recosto na cadeira e cruzo minhas pernas. Por
dentro penso: "karol  sua doida. Romeo vai te dar uns cascudos se você
chegar perto da casa dele. Creio que ele e Magno ainda me odeiam."
- Está ansiosa? - Olho para a barriga dela.
- Acho que Romeo está mais ansioso que eu. Mas estou contando as
horas. - Ela suspira passando a mão na barriga.
- Como é seu noivo Olivia?
Ela enruga a testa e faz uma cara de que não entendeu
Não fisicamente. - Adianto logo - Sei quem é Romeo Lafaiette.
Estou falando, como pessoa.
Ela assente, e aliviada, dá um sorriso.
- Ah! É praticamente tudo para mim. Romeo não é o cara programado
para ser o homem básico e pronto. Ele sempre vai além do limite em tudo,
intensidade, carinho, e claro, um pouco de saliência e isso é o charme
dele.
Rio por ela ter falado saliência. Ela me acompanha sorrindo e eu
engulo seco logo em seguida, me ajeito na minha cadeira, descruzo as
pernas e tento parecer natural. Conheci Romeo, já frequentei bastante a
casa dele e, poucas vezes a de Magno. Naquela época... quase éramos uma
família. Isso me deixa tão mal... quando lembro que estraguei tudo.
Abano a cabeça revoltada com esses pensamentos do passado.
Chegou me dar fome. A ansiedade me dá fome, ou só vontade de comer mesmo.
E como se soubesse disso, a porta se abre e Simone entra com uma bandeja.
Ela serve o café, deixa as correspondências do dia, ali do lado e sai.
Tomo um gole do café, Olivia voltou a olhar as pastas de croquis. Com um
bloquinho ao lado, ela vai anotando alguma coisa enquanto olha cada um. E
eu observando mas com a língua coçando querendo saber mais.
- E os irmãos do Romeo? Também já estão comprometidos? - A pergunta
pega até eu mesma de surpresa. Por que eu quero saber daqueles dois?
Aquele lambão pervertido e outro ranzinza. Olivia levanta os olhos dos
papeis e me fita.
- Que nada. - dá uma risada descontraída. - Magno é um sem
vergonha, aquele não tem jeito. E o Ruggero ... - Ela pensa, ergue os
ombros e diz: - não parece o cara que sai de mão dada na rua com uma
garota. Quase não sei sobre a vida dele.
Meu estomago revira. Minhas unhas cravam nas palmas das mãos.
Andar de mãos dadas... nossas mãos eram perfeitas juntas. Lembro de ter
visto ele no restaurante semanas atrás. Não o vi mais, desde então. E nem
quero ver. Será que ainda continua com aquela cínica?
- Não? Por quê? - Minha voz sai em um fio fraco.
- Ah!... Romeo não fala muito, mas ele é meio... estranho...
- Estranho como? - Sento na ponta da cadeira, cheia de suspense,
como se estivesse vendo um filme.
- Você o conhece? - Olivia acha estranho eu querer saber desse
jeito do cunhado dela. Vejo isso em seus olhos. Eu mesma acho estranho
estar querendo saber dele. Ignorei qualquer noticia sobre ele por sete
anos.
- De vista. Colunas sociais. - Faço uma pose descarada de
indiferença. Olivia anui.
- Bom... o Ruggero ...Ele se esconde atrás de uma mascara de bom
moço. Não que ele não seja. É uma boa pessoa, mas sempre noto como ele é
meio... misterioso por dentro.
Antes de eu perguntar mais alguma coisa, a porta se abre e carolina 
entra. Ela olha, um tanto intrigada, para Olivia e depois para mim. Carolina
é minha parceira de negócios, além de minha prima. Somos inseparáveis
desde sempre. Ela é totalmente diferente de mim. É alta, magra e tem
cabelos curtos, chanel. Sempre muito maquiada e com uma personalidade
única.
- Já tem os croquis do desfile karol ?
- carolina , vou te designar para outra coisa. Olivia vai cuidar disso.
- Como assim? Os croquis do desfile? - Os olhos dela cravam nas
pastas na mesa.

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